Encontrar algo útil no meio da tralha é parte essencial do trabalho de um historiador.

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Vai ser sempre a abrir com Nestum sempre ao teu lado


Jornal Português de Economia & Finanças, 1 a 15 de Junho de 1974

“Os fascistas eram realmente pessoas insuportáveis na sua estúpida presunção de terem a verdade na algibeira. É certo que respeitavam as ideias alheias e, de uma maneira geral, quem não era activista podia ser impunemente o que quisesse. Felizmente esses tempos de opressão passaram. Agora – contra, aliás, o programa da Junta de Salvação Nacional a que toda a gente, ou quase, aderiu – quem não é das esquerdas não pode ser funcionário, não pode ser professor, não pode ser empregado e quase não pode ser patrão. É justo, claro. Para lhes ensinar o que é a liberdade. Neste sentido, os alunos da Faculdade de Direito de Coimbra proibiram aos professores e assistentes de ideias contrárias aos partidos das esquerdas, de voltarem a leccionar.” (p. 51)

A França é a Besta do Apocalipse


A Bíblia do FC Porto (Prime Books, 2010) acabou por chegar pela pena de João Pedro Bandeira. Embora mal informado sobre a data da conquista de Ceuta (foi em 1415 e não em 1914), o autor apresenta uma obra bastante actualizada, fazendo referência à vitória sobre o Benfica de 7 de Novembro passado, embora ainda inclua Pôncio Monteiro entre os portistas vivos. Uma das letras de canções sobre o FC Porto reproduzidas no livro (“O Porto Está na Rua”, de 2006) pertence a Carlos Tê, mas falta “Um Pouco Mais de Azul”, tema de Tê gravado em 2003 que constitui o melhor trabalho musical acerca dos “dragões”. Na entrada “Futebol total” (pp. 202-203), é feita a contabilização dos títulos oficiais obtidos no futebol (incluindo todos os escalões, a partir dos infantis) pelos “grandes” portugueses, com o FCP a bater o SLB por 118-112. Se for abordada apenas a categoria dos seniores, as “águias” possuem uma curta vantagem (68-66, com o SCP a ficar-se pelos 44). Os adeptos portistas esperam que a equipa de André Villas-Boas consiga na actual temporada atingir pelo menos o empate, através da conquista da Liga Zon Sagres e da Taça de Portugal.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Orelhas, estou aqui


O grupo de apoio a Cavaco Silva “Nós Acreditamos”, no qual se procurou reunir jovens (menores de 35 anos?) empreendedores e bem sucedidos nas suas áreas, inclui vários atletas, frequentemente detentores de títulos nacionais ou membros de selecções representativas do país. Na lista divulgada, encontram-se os desportistas António Aguilar (rugby), Bruno Barracosa (presidente da Federação Portuguesa de Desporto Universitário), Bruno Pais (triatlo), Diana Ribeiro (patinagem artística), Francisco Lobato (vela), João André (salto à vara), João Benedito (futsal), João Meneses (surf), Luís Ahrens Teixeira (remo), Marina Frutuoso de Melo (obstáculos), Miguel Ximenez (surf), Moreira (futebol), Nelson (futebol), Pedro Martins (badminton), Sérgio Paulinho (ciclismo) e Vasco Uva (rugby).

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Morrer por morrer, morra o meu pai que é mais velho


Os prémios relativos à temporada de 1974/75 atribuídos pelo Clube Nacional de Imprensa Desportiva (CNID) contemplaram Humberto Coelho (Futebolista do Ano), Carlos Lopes (Atleta do Ano) e Fernando Chalana (Revelação do Ano). Enquanto Lopes arrebatava o galardão sucessivamente desde 1972, Chalana, ainda júnior do Benfica mas cujo talento fazia antever uma chegada rápida à equipa principal do clube e à selecção A, conseguiu maior número de votos que Rosa Mota, campeã nacional dos 1500 e 3000 metros.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Oh geração que depois veio, povo bem aventurado


Hugo Daniel Sousa aborda num artigo do Público a geografia do futebol profissional português, tão litoralizado como o país. Para lá do “esfumar” dos clubes mais pequenos de Lisboa e Porto, que Boavista e Belenenses conhecem actualmente, o poder de atracção exercido por SLB, SCP e FCP nas regiões onde se situam os seus estádios contribui para a dificuldade de desenvolvimento de colectividades com aspirações elevadas nos subúrbios das principais cidades portuguesas. No caso do Odivelas FC, acho que sempre foi relativamente ténue a ligação da cidade ao clube local, prejudicado pelos “grandes” vizinhos e pela falta de espírito bairrista.

domingo, 26 de dezembro de 2010

Durma, xerife, bem descansado


De acordo com o depoimento de Fernando Madureira (Macaco) registado por Filipe Bastos no livro Fernando Madureira, O Líder (O Gaiense, 2005), a tarefa do chefe da claque Super Dragões (SD) é comparável à de “uma educadora de infância sempre a ver onde é que as crianças estavam a fazer asneiras” (p. 60). De facto, são inúmeras as situações referidas no livro em que Macaco tem de negociar com a polícia a libertação dos “ultras” detidos ou exigir que os “gaiatos” devolvam objectos roubados. No entanto, surgem como habituais e mesmo inevitáveis as “rapadelas” dos SD em estações de serviço ou free shops de aeroportos. Nem a megastore do Manchester United escapou em 1997 à perícia da claque portista, na qual vários jovens encontram uma alternativa à heroína e ao crime organizado.

Embora as memórias de Madureira incluam os anos dourados de José Mourinho, tal como a derrocada em 2004/05, o que se passa nos relvados acaba por ter escassa relevância, perante a abundância de peripécias ligadas às deslocações dos SD. Entre estas incluem-se as batalhas, no sentido literal, contra os No Name Boys (as relações dos SD com a claque dos Diabos Vermelhos são mais pacíficas, enquanto Macaco dá ordens para que não se verifiquem agressões a “pessoas normais”, ou seja, benfiquistas civis). Nos recontros, além da supremacia pela força, a tomada de presas valiosas (faixas e estandartes da claque rival) assume grande importância. 

O livro de Filipe Bastos acaba por demonstrar que o mundo do futebol inclui histórias pessoais que ultrapassam a imaginação dos ficcionistas. Pelo menos, as “aventuras” de Macaco e outras personagens dos SD como Futre, Bruno Pidá, Afurada, Cult, Trilho, Caveira, Teixeira, Pili, Terror, Leitinho e muitos mais registam experiências vividas por poucas pessoas, quanto mais não seja pelo descaramento dos intervenientes.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

O Bruce Willis é altamente


Para além do ataque de riso (envolvendo vacas e javalis), a presença de José Cid no programa ShowMarkl (canal Q) ficou marcada pela atitude depreciativa do músico em relação à canção Um Grande, Grande Amor, considerada por Cid claramente inferior a outras participações suas no Festival da Canção. Mesmo assim, gosto bastante do tema de 1980, talvez precisamente por ser a misturada de influências de que o autor falou. Quanto aos êxitos de 1983-84 que Cid também “renegou”, Amar como Jesus Amou e Portuguesa Bonita, são de facto momentos infelizes da sua carreira, mas pelo menos tiveram grande retorno a nível financeiro.
Um acontecimento que Cid nunca digeriu bem foi a derrota no Festival da RTP de 1974, onde Paulo de Carvalho obteve com E Depois do Adeus (grande interpretação) o bilhete para a Eurovisão e o prémio extra desse ano, a participação como primeira senha no 25 de Abril. Recorde-se que nessa edição Cid atacou em três frentes, cantando a solo A Rosa que Te Dei e integrando os Green Windows (e não Green Widows, como surge impresso na capa de uma compilação recente) em Imagens e No Dia em que o Rei Fez Anos. Esta última era a principal candidata à vitória, mas ficou-se pelo 2º lugar, para indignação de José Cid, que atribuiu (e atribui) a votação a jogos de bastidores. Para a imprensa da altura, o Festival de 1974 foi fraco, tendo Cid sido zurzido pelo seu fiel “inimigo” Mário Castrim. Em 1978, Cid chegou a interpretar na RTP quatro temas, incluindo O Meu Piano, sem conseguir o primeiro posto. Estava destinado que 1980 seria o ano da cor e do sucesso do cantor ribatejano.
No programa de Nuno Markl, José Cid aproveitou ainda para atacar Tony Carreira, falando de excursões de gente feia e desdentada vinda de Trás-os-Montes para o Pavilhão Atlântico, e revelar que o próximo álbum da “mãe do rock português” se deverá chamar Baladas do Arco-Íris e incluir um regresso a Partindo-se, tema de raiz medieval gravado pelo Quarteto 1111 em 1968.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Finta um, finta dois e passa por três


Voz do Povo, 25 de Março de 1975

“Os militares e civis do Forte de Caxias, da Comissão de Extinção da PIDE/DGS e LP e da Comissão “Ad hoc” para o 28 de Setembro, reunidos em Assembleia na madrugada de 12 de Março, apoiam as justas posições dos camaradas do RAL 1 expressas no seu comunicado, exigindo o imediato fuzilamento de todos os fascistas implicados na intentona contra-revolucionária.
(Aprovado por maioria)
Foi aprovada outra proposta de constituição dum Tribunal Revolucionário para julgar os implicados na conspiração contra-revolucionária de 11 de Março, do qual façam parte elementos do RAL 1.
— Lanceiros 2 apoiou também uma proposta de fuzilamento dos fascistas.” (p. 8)

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Nada se compara ao prazer de escolher


Na edição de Janeiro de 1985 da Foot, o futebolista Nené, jogador do Benfica desde a sua vinda de Moçambique, quase duas décadas antes, admitia a possibilidade, chocante para os adeptos, de mudar de clube. O problema não estava nas capacidades de Nené, que ainda se julgava capaz de competir ao mais alto nível, mas na situação da equipa benfiquista desde a chegada ao comando técnico do húngaro Pal Csernai, que sucedera a Eriksson no início da temporada de 1984/85. Também entrevistado nesse número da revista, Csernai promovera uma renovação do onze “encarnado” através da aposta em jovens como Samuel e Vando e do afastamento dos jogadores mais idosos, como Nené, que fizera apenas dois jogos na época então em curso. Depois dos tempos gloriosos de Eriksson, predominava o mal-estar entre os jogadores do SLB, como Pietra já dera a entender na edição do mês anterior da Foot. Nené acabaria por permanecer no Benfica até terminar a carreira em 1986. Crescentemente contestado, Csernai seria arredado da liderança ainda antes da final da Taça de Portugal de 1984/85, vencida pelo SLB (3-2 contra o FC Porto), cujo alinhamento no Jamor foi coordenado por Pietra e Carlos Manuel. A passagem de Csernai (que treinara o Bayern de Munique e passaria depois pela selecção da Coreia do Norte) pela Luz seria recordada como o equivalente na história benfiquista do reinado de Calígula em Roma.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Peça tocada é peça jogada


Voz do Povo, 1 de Outubro de 1974

“ (…) Inspirados no grande exemplo de combatividade e organização de 28 de Setembro, desencadeamos a ofensiva pelas reivindicações políticas imediatas da classe operária e do povo:
— LIMPEZA RADICAL À ESCUMALHA FASCISTA! Fora com os fascistas dos lugares que ainda conservam! Justiça popular contra a Pide! Nem mais um pide para a rua! Dissolução da GNR! Calemos a imprensa fascista! Formemos mais e mais comités de vigilância e acção anti-fascista! (…)” (p. 2)

A Coimbra vão os tolos, e cá ficam os avisados


Na noite de 2 de Setembro de 2002, a escultura da pantera, símbolo do Boavista, foi pintada de azul. A iniciativa de adeptos portistas, acompanhada por frases injuriosas contra os Loureiro escritas na sede do BFC, foi classificada como acto de vandalismo. Marco Alves refere a pantera coberta de tinta azul (em As Manobras de Pinto da Costa), como uma das acções resultantes do clima de ódio estabelecido no futebol português pelo presidente portista, então em guerra com Valentim Loureiro. No entanto, o sportinguista Pedro Vasco, na obra O Meu Primeiro Livro do Sporting (Prime Books, 2010), conta um episódio ocorrido em 20 de Maio de 1972, antes de um SLB-SCP, quando a imponente águia do Estádio da Luz foi pintada por quatro jovens. A ave de pedra passou então a vestir de verde e branco. Para Vasco, tal não constituiu um delito, mas sim uma prova de que o Sporting é “o clube com mais sentido de humor em Portugal” (p. 128). O problema destas obras de arte pública é que nem todos gostam delas.    

domingo, 19 de dezembro de 2010

Teus olhos para mim são fatais


Na sua Comissão de Honra, o candidato presidencial Manuel Alegre inclui um vasto conjunto de personalidades ligadas ao futebol. Muitos dos membros do “plantel” do autor de O Futebol e a Vida estiveram ligados à selecção nacional, como jogadores ou técnicos. Assim, a equipa alegrista conta com Agostinho Oliveira, Ângelo, Artur Correia, Augusto Inácio, Bernardino Pedroto, Carlos Manuel, Chalana, Henrique Calisto, Hilário, Jaime Pacheco, Jesualdo Ferreira, Jorge Costa, José Augusto, Manuel Fernandes, Manuel José, Mário Wilson, Pedro Gomes, Romeu, Simões, Toni e Veloso. Os jornalistas Afonso de Melo, João Malheiro e Vítor Serpa também vestem a camisola do candidato. Luís Filipe Vieira não deixou de ceder o seu apoio a um adepto do Benfica, mas Rogério de Brito, vice-presidente do Sporting, contribui para o pluralismo clubístico. Nenhuma mulher do futebol surge referida na lista (embora esta inclua a arquitecta Manuela Carmona – a primeira mulher de Pinto da Costa?). Todos estes nomes constituem uma formação de valor. No entanto, a equipa de Cavaco Silva tem Eusébio no ataque e Vítor Baía na baliza, o que é quase garantia de vitória.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Um português que cai a combater não morre nunca


E se, mais que escrever livros, uma boa maneira de promover o desporto fosse criar um clube e ensinar crianças a jogar futsal? Foi o que fez Ricardo Serrado, um dos fundadores e treinador principal do Atlético Queijas. Em actividade desde Setembro de 2010, o Atlético Queijas possui equipas de futsal nos escalões de escolinhas, benjamins e infantis, participando nas provas da AF Lisboa relativas aos dois últimos. Mais informações podem ser obtidas na página da colectividade no Facebook.

Não somos massa dum todo?


A leitura de As Manobras de Pinto da Costa (Zebra, 2010), onde o jornalista Marco Alves (cuja fotografia não foi publicada, provavelmente devido a receio de represálias) se baseia numa exaustiva pesquisa de imprensa para narrar os quase 30 anos de gestão do FC Porto pelo mesmo homem, dá a entender que a alma de Jorge Nuno é mais suja que a retrete do Estádio das Antas penhorada em Março de 1994. O próprio autor revela alguma estupefacção provocada pela ousadia das acções do presidente portista. Surge-nos uma figura voluntariamente guerreira cuja vida foi dedicada a conquistar, manter e alargar o poder, sem barreiras éticas e com toques de génio. É preciso ter em conta que a Superliga portuguesa, mais que uma competição desportiva, é uma luta pelo poder, sobretudo entre os “grandes”.

Fica assim provado que a vida real consegue criar personagens mais fascinantes que as da ficção (Pinto da Costa já foi interpretado no cinema por Nicolau Breyner, mas o resultado global do filme Corrupção é bastante fraco). O mais notável é que esta história ainda não acabou, continuando todos os dias nas páginas dos jornais desportivos e das revistas cor-de-rosa. Como irá terminar este filme? No romance Golpe de Estádio, Marinho Neves imaginou o personagem que representa Pinto da Costa a falecer num desastre de viação a caminho de Fátima. Acho que uma boa cena final poderia mostrar Jorge Nuno sozinho no meio de um Estádio do Dragão deserto, a ponderar se tudo valeu a pena (terminar com grande plano). Outros imaginariam uma conclusão mais dramática que apresentasse uma lição moral.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

O mundo pára e a prima chora


UEC, 30 de Outubro de 1975

“ (…) Vítor Alves, MEIC e a sua brilhante equipa, um mês passado sobre a data em que se apossaram do Ministério, nada fizeram que se visse!
Perdão! Fizeram sim senhor: saneamentos à esquerda e reintegração de fascistas saneados!
Os fascistas, toda a espécie de reaccionários e de incompetentes saneados estão a ser reintegrados pelo MEIC. Incluindo um ex-ministro (…) – Hermano Saraiva!
Disto não falou Vítor Alves.
Mas a isto estão muito atentos os estudantes portugueses. Muito atentos e em firmes posições de luta. Como o sr. Ministro em breve descobrirá, os fascistas não voltarão a entrar nas escolas! (…)
PENSA O MEIC INSISTIR NA REINTEGRAÇÃO DE REACCIONÁRIOS JÁ SANEADOS?
A este respeito pode o sr. Ministro estar certo de que os estudantes não permitirão que os reaccionários retornem às escolas; e mais!, que o saneamento vai prosseguir até que o aparelho de ensino esteja totalmente liberto de fascistas, de reaccionários, de sabotadores!”

domingo, 12 de dezembro de 2010

Bola minha querida mãe


O primeiro título português do filme dos Monty Python (conhecidos em Portugal desde 1975 pela série Os Malucos do Circo) And Now for Something Completely Different foi Os Gloriosos Malucos à Solta. A associação entre a loucura e a comédia está presente em numerosos títulos de produções para o cinema e a televisão: Doido por Ti, Doido com Juízo, Cidade Louca, As Malucas das Cabeleireiras, Doidos à Solta, Os Malucos do Riso, A Mais Louca Odisseia no Espaço, Malucos no Divã, A Gaiola das Malucas, Loucos e Fãs, Marados à Solta, Marados da Dança, Está Tudo Louco!, Loucuras em Las Vegas, A Louca Academia de Ski, As Loucuras de uma Recruta, Louco de Amor, O Professor Chanfrado, Loucos por Dólares, Dias de Loucura, Doidos por Mary, O Mundo Maluco, A Minha Namorada é Louca, Um Dia de Doidos, Solteiros e Tarados, etc. Porque parece a loucura tão divertida? Talvez por fugir da normalidade e assim subverter a realidade, ou por causa do provérbio “Muito riso, pouco siso”. Na verdade, as doenças mentais nada têm de engraçado, sobretudo para quem delas sofre.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Alto, mais alto, ninguém nos vai parar


João Pedro Bandeira escreveu Bíblia dos Anos 80 (Prime Books, 2010), um livro que prova que ainda é possível ter ideias verdadeiramente originais (ironia). Com prefácio de Rui Veloso, a obra adapta o formato criado por Luís Miguel Pereira ao espírito nostálgico que atingiu o auge nos Coliseus de Lisboa e Porto. As entradas fornecem informações deliciosamente supérfluas acerca de música, televisão, cinema, acontecimentos internacionais e outros aspectos da penúltima década do século XX. Não sei o que pensa Nuno Markl ao ver outra foice na sua seara, mas o trabalho de Bandeira pode servir como complemento à Caderneta de Cromos.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Em terra de capados quem tem um testículo é rei


No livro A TV do Futebol (Campo das Letras, 2006), coordenado por Felisbela Lopes e Sara Pereira, académicos e jornalistas analisam, em vésperas do Mundial, a relação actual entre o futebol e a televisão. O crítico de televisão Eduardo Cintra Torres, autor do artigo “O telepatriotismo durante o Euro 2004”, reproduz o discurso e o conteúdo das emissões da RTP sobre a competição, dando a entender que aquilo que a estação pública fez em Junho e Julho de 2004 foi propaganda “patriótica” e não jornalismo. No entanto, o jornalista Carlos Daniel, um dos rostos da RTP durante esses dias de Verão e outro dos co-autores da obra, não se arrepende de ter literalmente vestido o cachecol da selecção portuguesa: “Não acredito no relato jornalístico desprovido de emoção, quando estamos perante um fenómeno que vive dela e da qual não se consegue separar. (…) Se a notícia tem emoção, o jornalista não pode deixar de a retratar. Ser impenetrável a essa emoção, será, na minha perspectiva, não apenas inviável como indesejável.” (p. 42) 

A euforia patriótica em torno da selecção principal da FPF mostrada e apoiada pela televisão repetir-se-ia em moldes semelhantes de dois em dois anos, nas fases finais seguintes. Põe-se a questão de saber se os canais generalistas portugueses fabricaram a ligação da Nação a uma equipa de futebol de modo a ganharem audiências para as transmissões dos jogos e os muitos outros programas à volta das competições ou se foi o público a “exigir” da televisão uma cobertura mediática exaustiva e um discurso emocional e patriótico. Será que a resposta varia conforme a pergunta se dirija a crentes ou não crentes no futebol?

domingo, 5 de dezembro de 2010

Roda o mundo pelas estradas do céu


Ver alguns dos filmes de Stanley Kubrick (Horizontes de Glória, Dr. Estranho Amor…, Nascido para Matar) é de certa forma uma homenagem à memória de Francisco Sá Carneiro. Perante a perspectiva do realizador sobre a (in) competência e a (in) sanidade mental dos oficiais militares, é difícil compreender como o Conselho da Revolução perdurou até 1982.

Se a prof. Maria Inácia Rezola ler isto, é claro que não estou a comparar Vasco Lourenço, Melo Antunes e outros autores do 25 de Abril com personagens como os generais Mireau e Ripper. No entanto, as atitudes de muitos militares portugueses durante o PREC confirmam a impressão de que é arriscado confiar em gente fardada.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Aquele que está vivo não diga nunca "nunca"


Foot, Dezembro de 1984

Entrevista de Hugo dos Santos a Paulo Futre:

“ (…) Futebol, música e televisão (vídeo) enchem, por inteiro, a vida deste jovem. Do futebol fala ele com reservas bem no jeito de não querer criar qualquer espécie de complicações. É diferente, por exemplo, quando nos fala de música:
— A música, para a juventude de hoje, e para mim, é tudo. A música a nós, faz-nos esquecer a política, faz-nos esquecer até a crise.
Não deixamos passar a frase, sem interferirmos:
— Não venho lá dos confins do século. Sou de uma geração própria e muito marcada pela música dos anos sessenta. Para nós, no nosso tempo de juventude, a música era muito, mas estava longe de ser tudo. Havia os grandes movimentos da juventude, o Maio de “68” em França, o movimento “Hippy”, os pacifistas, os ideais, a noção bela de que, talvez por sermos jovens, seríamos capazes de transformar o mundo. Para vocês é assim tão diferente o tempo de hoje?
— É. Para nós é viver a vida pela vida. A nossa política é a música.
— E não vos assusta, por exemplo, a ameaça de uma guerra nuclear?
— Assusta, mas que podemos fazer?
— Não podem lutar, para que seja menos possível?
— Acho que não. Basta um louco qualquer carregar num botão e, pronto, acontece.” (p. 30)

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

I just love the evilness


Segundo o Diário de Lisboa de 1 de Fevereiro de 1977, a editora discográfica Valentim de Carvalho promoveu uma excursão a Paris entre os dias 23 e 27 de Fevereiro desse ano. O objectivo dos participantes seria assistir ao concerto que os Pink Floyd iriam realizar na capital francesa. Em troca de 4 mil escudos, seriam disponibilizados a viagem a Paris (de autocarro), a estadia, um bilhete para o concerto e um exemplar do novo disco da banda inglesa, Animals. O mesmo jornal informa igualmente que o jogo de futebol Benfica-Sporting de 30 de Janeiro atingiu o recorde de assistência de mais de 90 mil pessoas, correspondentes a uma receita total de 4 511 000 escudos.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Então, tchau


Diário de Lisboa, suplemento 7.7, 29 de Janeiro de 1977

O Raid Relâmpago dos Comandos
de Irvin Kershner
(USA-1976)

Um filme do domínio do insulto (bis) e da pornografia (bis).
O nojo é ainda o sentimento que nos resta.
(Quem quer perder tempo e prosa?)

Cinema Condes
(não acons. men. 13 a.)”

É preciso explicar que a repugnância do DL não se deve apenas à eventual baixa qualidade artística do filme (que não vi) do realizador recentemente falecido de O Império Contra-Ataca. Com Peter Finch, Charles Bronson e Yapeth Kotto, a obra de Kershner relata a “Operação Entebbe”, ocorrida em Junho de 1976, quando terroristas da Frente Popular de Libertação da Palestina desviaram um avião de passageiros (sobretudo judeus)  da Air France para o aeroporto de Entebbe, no Uganda (contavam com o apoio do ditador Idi Amin), exigindo a libertação de 53 correligionários, presos maioritariamente em Israel. O governo israelita respondeu lançando uma espectacular operação militar bem sucedida que resultou na libertação dos reféns, quase sem baixas entre os judeus. Como é natural, o filme, originalmente feito para televisão e intitulado Raid on Entebbe, adopta o ponto de vista de Israel e dá contornos heróicos à acção militar. No início de 1977, é também exibida em Lisboa a película sobre o mesmo tema Vitória em Entebbe, de Marvin J. Chomsky, que conta com actores como Richard Dreyfuss, Anthony Hopkins e Elizabeth Taylor. Sectores de esquerda manifestam-se indignados contra a propaganda “sionista” e “imperialista”, num cenário agravado pelo contexto da Guerra Fria. Engenhos explosivos serão encontrados no cinema que exibe Vitória em Entebbe, o qual acaba por beneficiar da publicidade dada ao filme, na origem do aumento do número de espectadores.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

A minha vida só está completa enquanto houver televisão


No número de Setembro de 1985 da revista Foot, o “convidado do mês” é o futebolista búlgaro Vanio Kostov, ex-jogador do Sporting agora no Belenenses. Respondendo às perguntas de leitores da publicação, Kostov começa por abordar o problema da violência no futebol: “Julgo que isto é um bocado consequência da liberdade a mais em que as pessoas vivem, pois nos regimes férreos, como no Leste, tal não se passa. Recentemente, houve problemas na final da Taça da Bulgária, que estiveram na origem da dissolução de dois clubes, mas tudo se passou apenas entre os jogadores e o árbitro, pois com os espectadores não havia hipóteses de se passar alguma coisa. Mesmo assim o mal foi cortado logo pela raiz.” Depois de assinalar as virtudes do socialismo científico, o atleta ouve a questão “A SIDA também o preocupa?” (enviada por Anabela Vasconcelos, de S. João do Estoril). Kostov responde: “Não me preocupa pessoalmente, pois não poderei apanhá-la, mas preocupa-me porque é uma doença muito perigosa e que poderá causar sérios problemas à Humanidade. O que me aflige mais e não consigo perceber é o facto de ainda não se vislumbrar qualquer hipótese de cura.” Acreditaria Kostov que, por não ser homossexual, possuía imunidade à nova doença? Curiosamente, a mesma edição da Foot inclui uma fotografia de Kostov e dois outros jogadores belenenses rodeados de belas mulheres. Na entrevista, o futebolista búlgaro afirma não ponderar para já a hipótese de se casar, enquanto aguarda a dissolução do matrimónio através do qual o Sporting lhe assegurou a nacionalidade portuguesa (as limitações à utilização de jogadores estrangeiros só desapareceriam em 1996, depois da “lei Bosman”). Na verdade, foi no ano de 1985 que nasceu a sua filha Sara Kostov, futura actriz/modelo.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O desencanto é tão seco como a luz que me rodeia


Diário de Lisboa, 22 de Janeiro de 1977

Mário Castrim: “(…) Primeiro foi aquele programa desportivo (Momento Desportivo), com apresentador excessivamente loquaz e nervoso. Em discussão o futebol. Projectos de alteração às leis, ainda em regime de experiência. Meia hora, ai que bom! Ai que bom, futebol! Pois claro, como dizia o outro: o que nós queremos é bola...
Além do apresentador, vieram os senhores Américo Barradas, que é arbitro; Fernando Vaz, que é treinador; e Toni, que joga.
Como já disse, foi uma grande jogatana! Ah, futebol de um raio que assim é que é falar! Que saudades eu já tinha de ouvir futebol na televisão, discussões, teses, antíteses, profundos blá-blás! Parece que me sinto transportado aos tempos do Lança Moreira!
Parece que há para aí uns problemas, não sei quê independência nacional, não sei quê Reforma Agrária, não sei quê os rendeiros do Norte em luta pela aplicação da Lei do Arrendamento. Mas o que é isto, sim, o que é isto comparado com o futebol?
Não há direito ser só meia hora. Protesto. Os portugueses exigem pelo menos quatro horas de futebol por dia. (…)” (p. 15)

sábado, 27 de novembro de 2010

Fogo sobre o revisionismo


A notícia do fim do programa Contra-Informação não provoca grande choque, até porque a sua exibição na RTP era actualmente quase clandestina. 15 anos são muito tempo e os textos de José de Pina, Rui Cardoso Martins e Filipe Homem Fonseca já tinham perdido a graça e a imaginação, prejudicados pela concorrência na área do humor, como O Inimigo Público. No entanto, é impossível esquecer o impacto histórico e mediático que Contra-Informação possuiu pelo menos nos 10 primeiros anos no ar. A dessacralização dos políticos portugueses atingiu o auge através da sátira corrosiva da bonecada, composta por personagens por vezes bem mais populares e carismáticas que os modelos originais. Nenhum partido escapou às piadas do programa, embora os argumentistas se inclinem para a esquerda, tendo criticado violentamente a guerra no Iraque e a decisão sampaísta de empossar Santana Lopes (é difícil contar a história deste político sem mostrar imagens do boneco Santana Flopes). Os principais dirigentes do futebol português, que chegaram a ter um programa próprio (Bar da Liga), também foram alvos privilegiados, para descontentamento de Pinto da Costa. Prova da dimensão que o fenómeno atingiu foi a variedade de depoimentos de figuras públicas a dizer, sinceramente ou não, como gostavam do programa em que eram caricaturadas. Na hora do fim, resta a memória de “filmes”, “canções” e “anúncios” inesquecíveis e daquela que foi a melhor adaptação para televisão do espírito do cartoon político português.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Je joue aux pirates avec mes camarades


O breve texto na contracapa do catálogo de Natal das livrarias Bertrand, que procura promover os livros como presentes ideais, possui frases curiosas. Dirigindo-se ao leitor/consumidor, a Bertrand pergunta: “Que presentes costuma oferecer? Vinhos, perfume, roupas, brinquedos? Então porque não oferecer um bom livro sobre esse tema.” Será que uma criança de seis anos fica mais contente com um livro sobre a história dos brinquedos que com um brinquedo a sério? No entanto, o fundamental surge depois: “Este catálogo encontra-se dividido por temas para que seja mais fácil descobrir o livro de cozinha para (a) avó, a biografia para o pai ou as últimas novidades de romance para a mãe.” Encontra-se numa única frase uma série de estereótipos ligados ao género.

Que personagens temos aqui? Primeiro, a avó, já meio senil e educada numa época em que as mulheres da classe média pouco mais faziam que cozinhar. É a anciã que prepara refeições especiais para toda a família, sobretudo os mimos de que os netos tanto gostam. Não se lhe conhecem quaisquer interesses lúdicos ou intelectuais (como não se fala do avô, talvez ele já tenha morrido por consumir muito álcool e tabaco, como é próprio dos homens a sério). Depois, o pai, um homem sério e racional, leitor do Público e do Expresso, habituado ao estudo das grandes questões da actualidade. Provavelmente ocupa um cargo de decisão e procura inspiração nas biografias de grandes homens de Estado como César e Churchill. Não tem tempo para ler foleirices como poesia ou literatura. Por fim, a mãe, que, por ser mulher, é sensível e generosa, sobrepondo a emoção à razão. Desinteressada dos clássicos, procura romances acabados de chegar ao mercado, sobretudo de autores americanos best-sellers. Os sentimentos das personagens em busca do amor e da felicidade fazem-na sonhar e compensam a banalidade de uma vida passada a lavar a roupa do pai e a cuidar dos filhos. Estes últimos não parecem ser um mercado explorado pela Bertrand, apesar do catálogo incluir secções de carácter infantil e juvenil.

Um problema de certa publicidade é que aponta para grupos predefinidos de consumidores absolutamente homogéneos, o que no caso dos livros é um grave erro. Qualquer leitor tem direito a ler o que lhe apeteça, por mais inesperado que seja e independentemente da sua idade ou posição social.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

É proibido pintar a letra P na parede


Com alguns anos de atraso em relação aos seus principais rivais, o Sporting incluiu publicidade nas camisolas da sua equipa sénior de futebol em 1988/89, ao obter o patrocínio da empresa de ar condicionado Fnac (também parceira do Benfica). A partir daí, o clube leonino conheceria alguma instabilidade ao nível dos patrocínios, em contraste com a fidelidade do FC Porto aos azulejos Revigrés. Na temporada de 1989/90, os automóveis Nissan foram anunciados nas camisolas do SCP, seguindo-se a seguradora Bonança (1990/91 e 1991/92), a água do Caramulo (1992/93), a cerveja Faxe (1993/94), o queijo Castelões (1994/95), cuja camisola foi envergada pela equipa de Figo na vitória no Jamor, e a televisão SIC (1995/96). Em 1996, a Telecel assegurou a presença do seu logótipo nos equipamentos dos três “grandes”, dando início ao ascendente das empresas de comunicações na publicidade futebolística. Os conteúdos publicitários tornaram-se cada vez mais importantes no futebol português, o que originou as actuais Ligas Zon Sagres e Orangina.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Põe nessa boca uma chupeta


Ontem ouvi uma das minhas cassetes áudio, o que não fazia desde o início da década. Felizmente o pouco usado leitor ainda funciona. A propósito de música que ouvia antigamente, lembrei-me da saudosa emissora local odivelense Rádio Nova Antena (RNA), cujos estúdios se localizaram no Barruncho e depois na Ramada. A frequência outrora pertencente à RNA foi ocupada e colonizada pelo fado.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Vamos nessa, Vanessa


Num texto no Jornal de Notícias, Mário Contumélias critica o programa da RTP Herman 2010, que considera seco e desinteressante. Como é habitual em críticas negativas sobre o trabalho do “verdadeiro artista”, o autor começa por lembrar o passado brilhante e acutilante de Herman José e chega à parte em que, algures após Herman Enciclopédia, o humorista enveredou por maus caminhos e nunca mais foi o mesmo, entorpecido pelas delícias da vida burguesa. Na verdade, acho que Herman 2010 é, em muito tempo, o programa no qual o artista de variedades se sente mais à vontade e um talk-show de bom gosto eficazmente conduzido. Claro que não é perfeito. Em particular, as piadas da introdução raramente resultam, embora Herman dê um ar da sua graça ao cantar, imitar e lançar expressões como “Tá tudo?” e “Tenksl diga”. Quanto aos convidados, é verdade que o programa podia ser gravado em casa de Herman (talvez com mais espaço que o estúdio), o qual convoca para os sofás sobretudo elementos do seu bando (Ana Bola, Maria Rueff, Cândido Mota, Lídia Franco, Joaquim Monchique, José Pedro Gomes, etc.) e amigos ou pessoas que admira, mas, para além de outros talk-shows seguirem uma orientação semelhante, a familiaridade entre anfitrião e entrevistados contribui para que a conversa flua melhor e se relembrem episódios curiosos. As imagens de arquivo são utilizadas na proporção certa, evitando preencher demasiado tempo com nostalgia. O agrado provocado pelos sketches que Herman efectua juntamente com Manuel Marques varia conforme o dia ou o espectador, sem que deixem de incluir um toque pessoal e a habitual capacidade satírica. Por fim, os números musicais revelam bom gosto e a classe da banda de Pedro Duarte. Trata-se, basicamente, da fórmula de Herman SIC depurada em tempo de ecrã e orçamento, além de limada da atracção pelo pimba e pelo sensacionalismo. Ou seja, a prova de que Herman é único e ainda tem muito para dar à televisão, sem perder a espontaneidade.

O Ramiro torna-se o principal suspeito


A produção da TVI Meu Amor, criada por António Barreira, ganhou o prémio Emmy Internacional para Melhor Telenovela, derrotando as outras duas nomeadas. Por isso, muitos parabéns a toda a equipa da novela pelo reconhecimento internacional que obteve. Pessoalmente, não achei que Meu Amor fosse melhor que muitas outras telenovelas que a TVI já exibiu. No entanto, a vitória em Nova Iorque acaba por consagrar o “modelo de produção” português, compensando as verbas elevadas envolvidas num projecto deste tipo. O ponto forte dos 319 episódios (uff…) de Meu Amor foi o elenco, com interpretações de alto nível de actores como Nicolau Breyner, Alexandra Lencastre, Margarida Marinho, Paulo Pires, Lídia Franco, Manuel Cavaco, José Wallenstein, Cristina Homem de Mello e Marco d’Almeida. Outros intérpretes, como Rita Pereira e Rodrigo Menezes, limitaram-se a ser iguais a eles próprios. Os cenários e cenas de exteriores também foram bem conseguidos. Claro que a presença assídua da canção + 1 Dia, de José Cid, favoreceu o sucesso. Quanto à história, com as reviravoltas necessárias a uma narrativa tão longa, mostrou-se razoável, preenchendo-se o tempo que restava através de panorâmicas apelando ao turismo em Lisboa. No conjunto, um produto competente, sem ser particularmente estimulante. Resta saber como a TVI vai comemorar uma estatueta que nitidamente não esperava.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Desculpe mas eu vou ser padre


Diário de Lisboa, 31 de Dezembro de 1976

(Programação do “1º Programa” da RTP)
“ (…) 23.00 “Hotel Rite”. O show de fim de ano da RTP com texto de Ruy Andrade, José Andrade e Bê Veludo, dos Parodiantes de Lisboa, com Eugénio Salvador, Paulo de Carvalho, Nicolau Breyner, Tonicha, Paco Bandeira, Henrique Viana, Florbela Queirós, Simone, Octávio Matos, José Cid, Vera Mónica, Beatriz da Conceição, Herman José, Rodrigo, o Grupo Gemini, Vítor Mendes, o Conjunto Saga e Sinde Filipe, Joel Branco, Júlio Pereira, Spina, o conjunto de guitarras de José Luís Nobre Costa, Carlos Gonçalves, Rui de Moura Guedes, Óscar Acúrcio e os Ballets de Sérgio de Azevedo. Arranjos originais do maestro José Calvário. Realização de Luís Andrade. Produção de Nuno Maris, Óscar Acúrcio e António Andrade.
00.40 Fecho.” (p. 15)

domingo, 21 de novembro de 2010

Há animais que falam como nós


Os historiadores Fernando Rosas e Rui Ramos foram entrevistados por Joana Cruz no programa O Inimigo Público (canal Q), sorrindo com os gracejos da apresentadora e expondo as linhas fundamentais dos seus livros mais recentes. A versão televisiva do projecto multimédia das Produções Fictícias inclui sempre uma entrevista “divertida” ao autor de determinado livro lançado no mercado. Perante isto, para quando Ricardo Serrado no Q (o biógrafo de Cosme Damião já esteve no programa Em Linha, da Benfica TV)? A sua presença seria bastante útil, até porque o futebol português tem sido a fonte de muitas das piadas do IP. Na verdade, o suplemento humorístico do jornal Público, tal como as suas encarnações na televisão e na Internet, constituiu desde cedo um eficaz barómetro do ambiente futebolístico nacional, sobretudo ao apontar quem está “em cima” e “em baixo” (o Sporting tem estado quase sempre “em baixo”, mas Hélder Postiga conseguiu ultimamente colocar-se acima da chacota de Vítor Elias, António Marques e outros argumentistas do IP).

Do meu castro seres rainha


Há muito tempo, li a obra O Segredo de um Casamento (Guerra & Paz, 2009), de Rui Simões, ex-amigo e assessor de Filomena e Jorge Nuno Pinto da Costa. Num livro de que foram enviados imensos exemplares para as lojas (mas quantos terão sido realmente vendidos?), Simões, ressentido por não ter sido pago, procura expor os “podres” do então casal e a fachada que era o seu matrimónio. No fundo, pouco importa saber o que é ficção e o que é realidade na insólita história. Após concluir a leitura da obra, uma acção impõe-se como prioritária para o leitor: ficar bem longe do Rui, do Jorge e da Filomena.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Desce daí, ó Marquês, que eles já cá estão outra vez


Na Gala do Desporto, realizada hoje no Estoril, serão homenageadas as personalidades incluídas na lista dos 100 maiores nomes do desporto português nos últimos cem anos. A selecção, integrada nas comemorações do Centenário da República, foi feita pela Confederação do Desporto de Portugal, a partir de sugestões dadas pelas federações. Entre os cem escolhidos, encontra-se um número significativo de homens ligados ao futebol. Assim, no meio da lista hoje publicada em A Bola, podemos encontrar António Stromp (também praticante de atletismo, cricket, ténis e esgrima), Artur Jorge, Cândido de Oliveira, Cristiano Ronaldo, Eusébio da Silva Ferreira, Fernando Gomes, Guilherme Pinto Basto (a sua actividade desportiva não decorreu sobretudo antes da implantação da República?), Jesus Correia (também praticante de hóquei em patins), José Maria Pedroto, José Mourinho, José Torres, José Travassos, Luís Figo, Manuel da Luz Afonso, Mário Coluna, Matateu, Peyroteo, Ribeiro dos Reis, Rui Costa e Vítor Baía, com o treinador Orlando Duarte a representar o futsal. Mesmo sem entrarem em campo, os jornalistas Artur Agostinho e Vítor Santos mereceram entrar no rol de distinguidos pela CDP.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Mas foi bacalhau do melhor


Diário de Lisboa, 7 de Dezembro de 1976

“Na verdade, os bons ventos não estão com Vítor Baptista. No regresso de Chipre, abordado pelos jornalistas na Portela, o dianteiro benfiquista evidenciou, nitidamente, sinais de descontrolo que se avolumaram quando, a caminho de casa (em Setúbal), perdeu o domínio da sua viatura e sofreu um despiste.
O carro sofreu grossas avarias e Vítor Baptista partiu um dente da frente. Quando acorreram diversos populares para o livrarem da incómoda situação, Vítor Baptista afastou os presentes e começou, tranquilamente, a procurar o dente partido no meio do chão…” (p. 20)

domingo, 14 de novembro de 2010

Faltou-te um bocadinho assim


Entre os dias 3 e 24 de Abril de 1974, foram publicados quatro números da revista semanal Desporto, depois desaparecida subitamente. Com Manuel Sérgio como director, a nova revista procurava ser um projecto inovador, ao rejeitar aqueles que considerava serem defeitos da imprensa desportiva nacional, como o sensacionalismo, o culto das vedetas e o destaque conferido apenas ao “desporto-espectáculo” (nomeadamente o futebol profissional), em prejuízo do “desporto-lazer” e do “desporto-educação”. Nas cerca de 90 páginas dos números de Desporto, uma vasta redacção procura abordar a actualidade das 44 modalidades então praticadas em Portugal. Em cada edição, uma reportagem de Inácio Teigão faz o balanço da situação de uma modalidade no país (ciclismo, atletismo, hipismo e natação foram os temas analisados pelo jornalista). Artigos teóricos de autores nacionais (em especial Manuel Sérgio, já uma autoridade no pensamento sobre o desporto) e estrangeiros podem também ser encontrados nas páginas a preto e branco do periódico, que conta com fotógrafos como António Capela.

Apesar da censura, os textos da revista dão a entender um profundo descontentamento com a situação do desporto no Portugal de Marcelo Caetano, quanto mais não seja pelo número muito reduzido de praticantes e infra-estruturas adequadas. As modalidades mias mediáticas e profissionalizadas, o futebol e o ciclismo, apresentavam também múltiplos problemas, servindo apenas como entretenimento alienante. Alargar a prática desportiva entre as mulheres é também uma preocupação da publicação, inovadora na sua área ao possuir redactoras como Cândida Vieira e entrevistas a desportistas de relevo (o ainda incipiente futebol feminino não é referido em Desporto). 

Além dos acontecimentos do dia que se seguiu à publicação do último número da revista (nas bancas às quartas), as dificuldades comerciais e financeiras em manter um projecto deste tipo, sem grandes apoios publicitários, terão concorrido para o final de uma iniciativa muito interessante. Durante o período revolucionário, Manuel Sérgio e outros membros da redacção de Desporto, como Duarte Pimentel, iriam passar à prática, empenhando-se a fundo na criação de um “desporto novo num país novo”, envolvido no contexto político e ideológico da época.

Eu faço um buraco para a semente plantar


Fórum Estudante, 8 de Agosto de 1994

“ (Artigo sobre Geraldes Lino e a BD portuguesa)
(…) Jovens valores em fanzines e concursos: João Fazenda (tem 14 anos e é um autêntico “papa-concursos”). Outros jovens de grande talento são João Abranches, “Lacas”, Dinis Conefrey, Jorge Mateus, Luís Aveiro, Pepe d’El Rei, Renato de Abreu, Nazaré Álvares, Pedro Burgos.”

sábado, 13 de novembro de 2010

Para ter pão, preciso do padeiro


O Jornal de Odivelas de 11 de Novembro apresenta uma manchete insólita: “Odivelas veste camisola do SCP”. Na verdade, foi a presidente da Câmara, Susana Amador, que envergou um jersey verde e branco com o seu nome nas costas e autografado pelos jogadores da equipa de futsal do Sporting, ao assinar, juntamente com José Eduardo Bettencourt, o protocolo pelo qual o Pavilhão Multiusos de Odivelas será utilizado pelo SCP na organização do Grupo D da Ronda de Elite da UEFA Futsal Cup, entre 25 e 28 deste mês. O torneio será o primeiro evento desportivo oficial a decorrer no imponente Pavilhão Multiusos, uma obra de arte do arquitecto José Cid (acreditem ou não) localizada junto à Escola 2,3 dos Pombais e ao complexo do Odivelas FC. Os homens de Orlando Duarte irão defrontar a equipa checa do Era Pack Chrudim (25/11, 20.30), os romenos do City’US Tirgu-Mures (26/11, 20.30) e o El Pozo Múrcia (28/11, 15.00), de Espanha, numa poule cujo vencedor seguirá em frente na prova europeia. Os preços dos bilhetes variam entre 5 euros (um dia) e 10 euros (três dias). Para quem não puder ir ao Multiusos, prevê-se a cobertura televisiva da RTP2. Odivelas entra na rota do Desporto!

A partir de hoje, encontra-se no mercado livreiro a terceira obra de Ricardo Serrado, a biografia Cosme Damião: O homem que sonhou o Benfica (Zebra). O director do CHFD realiza um estudo pioneiro, prefaciado por Manuel Sérgio, sobre uma figura fundamental das primeiras décadas da história do futebol português (embora não seja necessário cair nos exageros do texto promocional), em especial do Sport Lisboa, que depois se tornou o Sport Lisboa e Benfica. O livro constitui uma prova da vitalidade da historiografia futebolística lusa e pode ser um presente de Natal ideal, quer para benfiquistas quer como provocação saudável a adeptos de outros clubes.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Listen to my sneaky scheme


Nas novelas da TVI, a direcção de actores é geralmente assegurada por outros actores. No caso de Espírito Indomável, é António Melo que dirige o trabalho dos intérpretes, de acordo com os créditos finais, que indicavam até há pouco tempo Paula Neves como sua assistente na função. Ontem, no entanto, o cargo de assistente de direcção de actores na novela de Coruche foi atribuído na ficha técnica a Joaquim Nicolau. A alteração deve-se naturalmente à necessidade de Paula Neves se concentrar na interpretação da sua personagem em Sedução (onde a direcção de actores está a cargo de Isabel Medina e Susana Arrais), uma jovem realizadora que pretende estrear-se nas longas-metragens com a adaptação do best-seller de uma escritora portuguesa (interpretada por Maria João Bastos).

A propósito disto, as adaptações de obras literárias para o cinema realizadas em Portugal raramente se baseiam em sucessos de vendas recentes (na televisão, Equador, de Miguel Sousa Tavares, deu origem a uma série de proporções inéditas), com a excepção de Uma Aventura na Casa Assombrada. Se os cineastas lusos resolvessem pegar nas histórias fornecidas pela actual ficção nacional, uma das escritoras candidatas naturais à adaptação seria Margarida Rebelo Pinto. Acontece que se ouviu falar há muitos anos na transposição do primeiro romance de Rebelo Pinto, Sei Lá, para o grande ecrã, tendo aliás o Círculo de Leitores lançado uma edição do livro com capa alusiva ao facto. Autora dos argumentos de uma curta-metragem e um telefilme, Margarida assinaria o guião do filme baseado na sua ficção. A entrada da Wikipedia sobre a escritora informa que esta terminou no ano passado o argumento da versão cinematográfica de Sei Lá. Mas esse filme alguma vez virá realmente a existir? Recordem-se as afirmações de Rebelo Pinto numa entrevista: “Gosto de cinema, mas em Portugal é muito complicado, porque não há indústria e toda a gente acha que temos de trabalhar pro bono. Para projectos comerciais não trabalho de borla. Não ofereço guiões a realizadores nem a produtores. E eles não pagam porque sou cara, porque sou uma marca e represento bilheteira.” (i, 4 de Janeiro de 2010) Parece existir aqui um caso de filme com argumento, mas sem realizador.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Quem vem aqui nunca está só


Diário da República, II Série, Nº 69, 23 de Março de 1978

“Por despacho de 28 de Fevereiro findo do Secretário de Estado do Ensino Superior:
Doutor Aníbal Cavaco Silva – designado vogal do conselho administrativo da Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa.
Faculdade de Economia, 14 de Março de 1978. – O Presidente da Comissão Instaladora, Alfredo António de Sousa.”

O menino pertence a uma classe sem futuro histórico


A medalha de Mérito Desportivo, criada em 1960 pelo Decreto-Lei nº 43 107, por iniciativa de Francisco Leite Pinto, então ministro da Educação Nacional, não deixou de ser atribuída pelo regime democrático aos atletas mais destacados. A gratidão do Estado português far-se-ia sentir junto dos desportistas que obtivessem bons resultados em competições internacionais, como os Jogos Olímpicos. Assim, são distinguidos com a medalha de Mérito Desportivo pelo ministro da Educação e Investigação Científica, Mário Sottomayor Cardia, os atletas medalhados nas Olimpíadas de Montreal Paulo de Eça Leal, Luís Cardoso de Meneses Margaride e Armando da Silva Marques, tal como o treinador da equipa nacional de atletismo, Mário Moniz Pereira (Diário da República, II Série, Nº 33, 9 de Fevereiro de 1977).

Outra distinção, a medalha de Bons Serviços Desportivos, seria atribuída a personalidades que, longe da ribalta, tivessem dedicado a sua vida ao desporto. Em Abril de 1978, surgem no DR (II Série) os casos de Celso Santos, massagista do clube portuense Salgueiros durante 50 anos (Nº 78, 4 de Abril), e Rogério da Fonseca Ramos, praticante de hóquei em campo no Clube Futebol Benfica durante trinta anos, “distinguindo-se por várias vezes como campeão regional, nacional e ainda integrando a selecção nacional, que capitaneou” (Nº 94, 22 de Abril), ambos medalhados por Cardia.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Junte o inútil ao desagradável


Diário do Governo, II Série, Nº 281, 5 de Dezembro de 1975

“Por despacho ministerial de 21 de Julho último, visado pelo Tribunal de Contas em 20 do corrente mês:
Capitão Henrique Carlos Malta Galvão – reintegrado, a título póstumo, como inspector superior de administração ultramarina, aposentado, de harmonia com o acórdão da Comissão para a Reintegração dos Servidores do Estado de 10 de Julho do corrente ano, homologado por despacho ministerial de 14 do mesmo mês, nos termos do artigo 2º, nº 1 e 3, do Decreto-Lei nº 173/74, de 26 de Abril, este aditado pelo Decreto-Lei nº 225/75, de 9 de Maio. (…)
Direcção-Geral de Administração Civil (Ministério da Cooperação), 28 de Novembro de 1975. – Pelo Director-Geral, Feliciano Marques.”

domingo, 7 de novembro de 2010

O macorvo e o caco


Eis os 10 programas televisivos mais marcantes da primeira década do século XXI:

Anjo Selvagem
Dei-te Quase Tudo
Deixa que Te Leve
Doce Fugitiva
Espírito Indomável
Fascínios
Ilha dos Amores
Meu Amor
Ninguém como Tu
Tempo de Viver