Encontrar algo útil no meio da tralha é parte essencial do trabalho de um historiador.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Cocó para ti!


Foot, nº 44, Junho de 1988

Manuel Sérgio, “A dependência cultural”

“ (…) Convenhamos que, logo após o 25 de Abril, viu-se e propagou-se o socialismo e o desporto como ideias reguladoras, no sentido kantiano da expressão, isto é, como transcendentais a priori, ordenando o campo do que deve ser conhecido e transformado. Quero eu dizer: tombou-se no equívoco (no qual eu abundei também e era então dirigente do CF “Os Belenenses”) de partir de uma ideia de socialismo muito mal assimilada dos livros (que é preciso ler, com respeito e preparação filosófica) de Marx, Engels e Lenine, Gramsci e alguns mais, para a transformação do desporto português.

Enfim, éramos todos, os que trabalhávamos no desporto, com honrosas excepções (e entre essas excepções eu quero colocar o Alfredo Melo de Carvalho) idealistas blasonando de materialistas. Valeu ao desporto nacional um Mário Moniz Pereira, o já citado José Maria Pedroto e meia dúzia de homens vividos, para que o próprio futebol não caísse numa retórica que o conduziria a um fracasso de proporções imprevisíveis. Para alguns técnicos da Direcção-Geral dos Desportos, nesses anos de 1974, 1975 e 1976, só o que chegava do desporto socialista merecia adjectivos bem próximos da basbaquice pacóvia ou do oportunismo partidário.

Afinal continuavam o vício tão português de fazer das nossas ideias meras sucursais do que na Europa (a Leste ou a Oeste, consoante os gostos) se legitima como importante ou admirável. A nossa dependência cultural era evidente. Só que com slogans e palavras de ordem que incensavam “outro” imperialismo. E repetidos por indivíduos sem o mínimo de prática aceitável, como atletas, técnicos ou dirigentes. (…)” (p. 16)

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Portugal merece Governo CDS


É muito importante que Nuno Markl inclua no livro da Caderneta de Cromos (Objectiva, 2010) um texto sobre Um Grande, Grande Amor, o tema com o qual José Cid ganhou em 1980, após várias tentativas falhadas, o Festival RTP da Canção. Na “análise” que Markl faz dos momentos televisivos ligados à música perfeita para um festival da canção, falta, porém, uma referência à T-shirt preta usada por Cid debaixo do kispo verde, a qual tinha bordada a palavra “Cid” (nos coros, Zé Nabo e Ramon Galarza também possuíam T-shirts personalizadas). A roupa mais formal usada depois pelo cantor no Festival da Eurovisão, combinada com a peruca e os vastos óculos escuros, dar-lhe-ia um aspecto no mínimo invulgar.

São numerosas no livro as referências a Cid e a canções de sua autoria, num interesse de Markl pela figura da “mãe do rock português” que raia a obsessão (depois sou eu que sou obcecado). Isto pode dar a entender que Cid, tal como outros “cromos”, é um produto que esteve muito na moda mas depois desapareceu e tornou-se irrelevante, recordado apenas por nostálgicos. Nada mais falso, já que José Cid é, obviamente, um “cromo” de ontem, hoje e amanhã.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

What do you get for pretending the danger's not real?


Diário da República, II Série, nº 239, 15 de Outubro de 1977

“Por despachos do Director-Geral do Ensino Superior de 14 de Maio último: (…)
Pedro Miguel de Santana Lopes – contratado, por conveniência urgente de serviço, para o exercício das funções de monitor além do quadro da Faculdade de Direito desta Universidade. (…)
Reitoria da Universidade de Lisboa, 26 de Setembro de 1977. – Pelo Reitor, Ilídio Melo Peres do Amaral.”

domingo, 26 de setembro de 2010

Eu também quero ir descansar

Não sei se, na entrada 105 de Call Me Shane (Caminho das Águas, 2010), Eastwood da Silva não está a ser irónico ao falar da reacção da Igreja Católica ao filme A Vida de Brian e outras obras sobre religião, mas aqui fica:

“A Inquisição foi há muito tempo, já passou. Quando ouço falar na Inquisição, fico logo desconfiado.
Nada pode atingir Cristo e a Igreja compreendeu-o. Ignora os insultos, sorri com a sátira.
A Igreja encolhe os ombros quando num filme se vê um tipo no cimo de uma colina a começar com o Sermão da Montanha e cá de baixo alguém grita: — Fala mais alto que não se ouve nada!
A Igreja pensa: é verdade, isso deve-se ter passado, devia haver alguma algazarra, muitos não devem ter ouvido, mas ouviram os suficientes.” (p. 45)

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Esquece e põe-lhe molho


Terminando em quarto lugar a fase final do campeonato nacional de 1994/95, a equipa de futebol feminino do Sporting (onde Carla Cristina ocupava a posição de guarda-redes) não deixava de encarar com ambição a temporada seguinte. O coordenador Diamantino Ribeiro expressava o desejo de chegar ao título nacional, até aí monopólio do Boavista. Para alcançar esse fim, sete futebolistas do 1º Dezembro, incluindo Carla Couto, que já alinhara pelo clube de Alvalade, foram contratadas para a época de 95/96. No entanto, a nova direcção do SCP, presidida por Pedro Santana Lopes, decidiria em Julho extinguir a secção de futebol feminino, “invocando dificuldades na disponibilidade de campos para os treinos” (Sporting, 1 de Agosto de 1995). A colectividade leonina não voltaria a aventurar-se no futebol praticado por mulheres, do qual os outros “grandes” se mantiveram afastados (embora o Benfica viesse a criar uma equipa de jogadoras de futsal).

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Tico, tico, Frederico, vem-me aqui fazer um bico


Diário da República, II Série, nº 169, 23 de Julho de 1977

“Louvo a escriturária-dactilógrafa desta Comissão Maria Adelaide Andrade Fialho, porque durante o tempo em que prestou serviço na CARSR demonstrou possuir invulgares dotes de trabalho e iniciativa.
Metódica e cumpridora, procurou sempre fazer mais e melhor, em completa dedicação ao serviço.
A sua eficiente actuação, conjugada com a boa vontade que sempre demonstrou, permite considerá-la boa e prestável colaboradora dos seus superiores e apontar a sua conduta como exemplo de bem cumprir.
Comissão de Análise de Recursos de Saneamento e Reclassificação, 8 de Julho de 1977. – O Delegado do Conselho da Revolução, José Bernardo do Canto e Castro, major piloto aviador.”

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Entra, minha menina

Outro Franco da banda desenhada portuguesa é o protagonista do álbum Franco, o Trolha (Polvo, 2002), de Pedro Brito, que inclui duas histórias de oito páginas publicadas originalmente na revista Art Nove em 1994. Desenhado a preto e branco, Franco é um detective particular de óculos escuros e gabardina que tenta ganhar algum dinheiro. Nas suas “aventuras” de recorte policial “cómico-xunga” (na expressão do autor), Franco substitui a pistola por um letal taco de basebol, a que se junta o talento para a porrada de um detective que possui relações tempestuosas com a PJ, na pessoa do inspector Gonçalves. Os confrontos entre Franco e os maus dão origem a linhas de diálogo tão saborosas como “Então baza, xô, fora, pira-te!”, “Lascou-me o taco com os dentes!”, “o longo braço da lei cai-te logo em cima que nem dás por ele”, “É inútil continuarmos com esta perseguição insana!” ou “Vá, ignóbil criatura!”

Hoje somos muitos, amanhã seremos milhões

O futebol feminino não tem uma entrada própria na Enciclopédia Fundamental do Sporting (Prime Books, 2007), de José Goulão, apesar de uma equipa de “leoas” ter sido criada em 1991, durante a presidência de Sousa Cintra. Patrocinada pela gasolineira Cipol e contando com jogadoras como Carla Couto, a equipa de futebol feminino do SCP conheceu durante os seus escassos anos de existência a frustração de não conseguir ultrapassar o então dominante Boavista e alcançar a vitória no campeonato nacional. As dificuldades financeiras atravessadas pelo clube levariam Santana Lopes a extinguir a secção feminina de futebol, juntamente com as modalidades de voleibol, basquetebol e hóquei em patins.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Já libertaram pides e bombistas

Em que ano foi fundado o Futebol Clube do Porto? Existem duas respostas para esta pergunta: 1893 e 1906. O assunto não é propriamente novo, sendo debatido na imprensa desportiva já nos anos 50. A segunda data foi consensual entre os dirigentes do clube, que celebrou as bodas de diamante em 1981, até à publicação da fotobiografia do FCP (D. Quixote, 1987) da autoria de Rui Guedes. A obra apresenta recortes de imprensa e cartas particulares que realçam o papel de António Nicolau de Almeida na criação em 1893 de uma equipa de futebol com jogadores portuenses e ingleses, em actividade através de treinos abertos ao público e do desafio de 1894, patrocinado por D. Carlos, contra o Clube Lisbonense. A questão é saber se esse efémero FCP de 1893-1894, desaparecido sem deixar rasto, possui ligações com o FC Porto fundado por José Monteiro da Costa em 1906. Para Guedes, essa relação de continuidade existe, tanto mais que Nicolau de Almeida e Monteiro da Costa seriam amigos. Outros autores, como o meu colega Ricardo Serrado (História do Futebol Português), consideram abusiva a identificação entre os dois clubes, tendo os homens de 1906 actuado sem conhecer a experiência ocorrida 13 anos antes. O certo é que nem Guedes nem Serrado apresentam provas inequívocas que confirmem uma das posições. O mais correcto, tendo em conta a informação existente, é afirmar que Nicolau de Almeida desempenhou uma acção importante como um dos pioneiros do futebol no Porto, mas a história do FCP como o conhecemos só começou em bases sólidas no ano de 1906. Seja como for, nem a data de 1893 é uma invenção de Pinto da Costa nem o FC Porto é melhor que os clubes de Lisboa por ser presumivelmente mais antigo (as razões são outras).

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Juca Pirama está vivo

A polémica em torno da não atribuição do nome de José Saramago a uma rua do Porto chamou a atenção para a toponímia das cidades. Os nomes escolhidos pelas autarquias para designar o espaço urbano são bastante significativos, embora acabem geralmente por perder impacto junto dos munícipes devido ao seu uso quotidiano. No entanto, a selecção das personalidades (ou acontecimentos, outras cidades, etc.) a colocar nas placas identificativas das artérias reflecte com frequência o contexto político em que ocorre, sendo interessante o estudo das transformações na toponímia provocadas pelas mudanças de regime do século passado. A nomenclatura das ruas não é estática e pode ser contestada. No caso de Lisboa, verificam-se casos de inclusão na toponímia local de figuras de existência histórica duvidosa (Avenida Frei Miguel Contreiras) e de outras que estão longe de constituir exemplos impolutos a seguir, como Agostinho Neto (a rua com o nome do primeiro presidente angolano fica junto à estação do Campo Grande).

sábado, 18 de setembro de 2010

Lisboa 30 graus, Porto 27, Faro 29

Diário de Lisboa, 12 de Dezembro de 1974


“Pedro Cabrita, o “pide” do râguebi


Este cavalheiro, Pedro Cabrita de seu nome, passou (infelizmente) pelo desporto português. Foi seleccionador nacional de râguebi, treinou determinada equipa e, além disso, julgava-se um dos “autores” da modalidade entre nós, graças à larga cobertura que recebia em certo sector da Imprensa e através da RTP. Um dia, caiu a máscara: advogado do pide que assassinou Ribeiro dos Santos, descobriu-se que ele pertencia, também, ao famigerado elenco dirigido pelo inefável Silva Pais.


Não chegou a ir parar a Caxias ou a Peniche, para onde atirou dezenas de patriotas. Graças à protecção de certos indivíduos, raspou-se para o Brasil, onde vive perto de amigos de peito. E, enquanto se desvenda que auferia, só como funcionário pidesco, a quantia mensal de 10 contos, o râguebi fica (pelo menos…) limpo deste “devotado” impulsionador.


A propósito: recentemente, veio a lume numa revista quinzenal que havia um pide no râguebi português, nomeando-o, muito erradamente, como sendo Pedro Lince. A verdade está feita: o pide chama-se Pedro, mas é o Cabrita. Este, o da fotozinha. Pedro Cabrita: que esfolava aquele “cabritinho” da António Maria Cardoso, nas horas em que repousava da divulgação raguebística.”

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Um é um génio, o outro é choné

Os programas da RTP exibidos nos comboios Alfa Pendular da CP não primam pela actualidade. Hoje, os ecrãs das composições mostravam um episódio de Destinos.pt (apresentado por Helena Coelho) no qual é mostrado um passeio de Rosa Lobato de Faria, falecida a 2 de Fevereiro deste ano, pela Estufa Fria e pelo Jardim Botânico, em Lisboa.

O racismo do cabelo é só dor de cotovelo

Tenha ou não razão naquilo que afirma, Henrique Raposo é imperdível pelo seu carácter de provocador nato e pelo humor e clareza da linguagem. No caso da crónica linkada, é preciso ter em conta, no entanto, que a Câmara de Odivelas é presidida por uma autarca do PS e não da CDU.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Daqui para outro lado onde possa mexer em ti

Num anúncio da editora Perspectivas & Realidades inserido no jornal oficial do PS, Portugal Socialista, de 18 de Fevereiro de 1976, destaca-se a publicação de O Triunfo dos Porcos (Animal Farm), de George Orwell. A frase publicitária sobre o livro é “A desmistificação do golpismo dos burocratas num livro clássico escrito por um homem de esquerda e que nunca foi tão actual – para os portugueses – como neste momento.”

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Eusébio, menino e senhor

Irene Flunser Pimentel escreveu um artigo sobre a relação entre Salazar e a democracia cristã, a propósito de uma entrevista de Filipe Ribeiro de Meneses.

Ponha o seu coiso na minha coisinha

Os actores do elenco da telenovela Deixa que Te Leve que pouco depois começaram a gravar Espírito Indomável são António Capelo, Vera Kolodzig, Melânia Gomes, João Catarré, Mariana Monteiro, Marta Andrino e Sofia Nicholson. Afonso Pimentel, um dos realizadores da novela de Arcos de Valdevez, passou para a frente das câmaras em Coruche.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

O povo é lixo

Se a palavra "girassol" tivesse menos um "s", seria um anagrama de "gorilas".

O DN é do povo, não é de Moscovo

Na brochura Para um Grande Sportinguista (Texto, 2008), comercializada pelo SCP e que contém em poucas dezenas de páginas o essencial sobre o clube (ou o que este julga ser o essencial), são referidos doze jogadores que, presume-se, serão os mais importantes da história do Sporting: Peyroteo, Jesus Correia, Albano, José Travassos, Manuel Vasques, João Morais, Vítor Damas, Hilário, Manuel Fernandes, Rui Jordão, Ricardo e Liedson. As Botas de Ouro ganhas por Yazalde e Jardel são referidas noutra secção. Quanto aos treinadores, o destaque vai para Joseph Szabo, Cândido de Oliveira, Randolph Galloway (1896-1964), Fernando Vaz, Anselmo Fernandez, Juca, Malcolm Allison, Augusto Inácio, Laszlo Bölöni e Paulo Bento. Seria igualmente interessante que soubéssemos quais foram os futebolistas menos importantes para o clube ou os treinadores que não deixaram uma marca maior que a de um Carlos Carvalhal.

domingo, 12 de setembro de 2010

As bundas a mexer, a temperatura a aumentar

Entre as “personagens” recentes da literatura autobiográfica portuguesa, uma das que compreendo melhor é o José Luís Pinto de Sá de Conquistadores de Almas (Guerra & Paz, 2006): ingénuo, com dificuldades de adaptação, carente de afecto, sem vocação para herói, manipulado e oprimido por gente mais esperta e poderosa. A editora Alêtheia tem publicado “aventuras” de outras figuras interessantes, como Zita Seabra, Pedro Santana Lopes e Maria Filomena Mónica (embora em Bilhete de Identidade a descrição dos sentimentos da protagonista seja tão exaustiva que o leitor pergunta-se o que tem a ver com aquilo). É preciso ter em conta que uma autobiografia cria sempre uma personagem a que o autor procura conferir verosimilhança. No caso de Jorge Nuno Pinto da Costa (Largos Dias Têm Cem Anos), a imaginação chega ao ponto de criar um dirigente desportivo sem apego ao poder. Sobre os livros de Diogo Freitas do Amaral (O Antigo Regime e a Revolução, A Transição para a Democracia, Ao Correr da Memória), é difícil ajuizar porque li apenas alguns excertos, embora seja notável a forma como, entre a emoção, a serenidade e o humor negro, Freitas recorda a noite da morte de Sá Carneiro e Amaro da Costa. Outro dos fundadores do regime, Mário Soares, apresentou as suas memórias (ainda que não as tenha escrito), ou antes, a sua versão da História, através das entrevistas a Maria João Avillez. Seja como for, é ponto assente que o autor português que com maior brilho desenvolve a arte de falar do seu próprio passado, em crónicas e romances, é António Lobo Antunes.

sábado, 11 de setembro de 2010

Partido Socialista, partido marxista

Na entrada “Tetracampeões” do seu ABC do Sporting (Prime Books, 2005), José Goulão escreve que em 1953 “O treinador Randolph Galloway retirou-se para o seu país com a glória de ser, até hoje, o único técnico que ganhou um tricampeonato em Portugal”. É certo que Jesualdo Ferreira ainda não treinava o FC Porto quando estas palavras foram escritas, mas, mesmo falando apenas de três campeonatos ganhos consecutivamente, o feito do inglês Galloway já tinha sido igualado por Bela Guttmann (1958-1961) e Jimmy Hagan (1970-1973). Entretanto, não deixa de ser curioso o azedume com que Goulão critica o súbito desaparecimento da Taça “O Século” (na entrada com este nome) após o Sporting a ganhar pela segunda vez, em 1953. A relutância da família Pereira da Rosa em voltar a gratificar os sportinguistas terá impedido que o SCP recebesse novamente o troféu nas inúmeras vezes que foi tricampeão nacional depois de 1953.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

And everything is green and submarine

O livro História do Desporto em Portugal. Do Século XIX à Primeira Guerra Mundial (Instituto Piaget, 2007), de Homero Serpa, possui grande valor analítico e informativo. A nível do conteúdo, apesar da concentração das primeiras actividades desportivas em Lisboa, não ficaria mal uma maior atenção aos clubes do Porto, passando Serpa ao lado da polémica sobre o ano de fundação do FCP. Sente-se a falta de uma bibliografia, embora o antigo jornalista de A Bola refira geralmente as fontes a que recorre. Quanto à linguagem utilizada, ninguém põe em causa a correcção da escrita e a riqueza do vocabulário do autor. No entanto, uma revisão do texto teria sido muito útil. Podemos encontrar no volume palavras como “alieanava”, “pratricar”, “estangeiro”, “especalizadas”, “as bola”, “biciletas”, “assitência”, “simpesmente”, “holocasuto”, “fott-ball”, “picinas”, “viligiatura”, “tabalho”, “istância”, “inevitávei” ou “inicitiva”.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Vil e déspota, com delírios de grandeza


Diário da República, II Série, Nº 206, 2 de Setembro de 1976


“Por despacho conjunto do Primeiro-Ministro e Ministro da Educação e Investigação Científica de 5 de Agosto último:

Professor Alfredo Carneiro Melo de Carvalho, inspector-geral da Junta Nacional de Educação, a exercer, em comissão de serviço, o cargo de director-geral dos Desportos – cessa as últimas funções a partir da data da publicação no Diário da República. (…)

Secretaria-Geral do Ministério, 30 de Agosto de 1976. – O Secretário-Geral, António Luís de Almeida Machado.”


Diário da República, II Série, Nº 211, 8 de Setembro de 1976


“Por despacho do Ministro da Educação e Investigação Científica de 26 do corrente mês:

Professor de Educação Física Alfredo Carreiro (sic) Melo de Carvalho, inspector-geral da Junta Nacional de Educação – exonerado (…) do cargo de presidente do concelho (sic) administrativo do Fundo de Fomento do Desporto, com efeitos a partir da publicação no Diário da República. (…)

Secretaria-Geral do Ministério, 31 de Agosto de 1976. O Secretário-Geral, António Luís de Almeida Machado.”


domingo, 5 de setembro de 2010

Guerra total à fera fascista

Certos filmes deixam dúvidas sobre como foi possível que, ao ler o argumento, os responsáveis pela obra não tenham pensado logo “isto é estúpido”, “isto não tem piada” ou “isto é um disparate pegado”. Em vez disso, resolveram avançar com a produção, o que se revelaria um grave erro. No caso de Nada Mais que Steve, de Phil Traill, a responsabilidade é sobretudo de Sandra Bullock, que além de protagonizar o filme é uma das produtoras. A longa-metragem lembra um sonho, na medida em que tudo pode acontecer, por mais ilógico e forçado que pareça. A personagem de Bullock, uma “excêntrica” autora de problemas de palavras cruzadas (o filme não menciona o problema actual da concorrência do Su Doku), é sempre mais chata que engraçada, e dos restantes intervenientes, incluindo Thomas Haden Church, nem vale a pena falar. Pelo menos Bullock tornou-se a primeira actriz a receber o Óscar e o Razzie no mesmo ano.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Não dês Cavaco nem enfies o Capucho


Diário da República, II Série, nº 175, 28 de Julho de 1976

“Pelo Dr. Augusto Abreu Lopes foi apresentado na Câmara Municipal de Loures um processo de loteamento urbano para a propriedade denominada “Quinta do Mendes”, loteamento que veio a ser aprovado por deliberação do município de 21 de Setembro de 1970 e a dar lugar ao alvará nº 58, passado por aquela mesma entidade em 1 de Março de 1971.
Considerando que a total execução do loteamento é prejudicial para o desenvolvimento ordenado da zona onde se integra e para o harmónico ordenamento do território;
Considerando que o crescimento urbano da zona de Odivelas não tem servido as populações existentes, antes criou um imenso dormitório, em que as carências de infra-estruturas urbanas e de equipamento social são das mais graves de todo o concelho;
Ao abrigo do disposto no artigo 2º do Decreto-Lei nº 511/75, de 20 de Setembro (…), determino o seguinte:
a) Que fique suspensa a validade do alvará de loteamento acima citado na parte que se refere à execução das células G-6 e G-7;
b) Que tal suspensão cessará na data que vier a ser fixada por deliberação da Câmara Municipal de Loures.


Secretaria de Estado da Habitação e Urbanismo, 16 de Julho de 1976. – O Secretário de Estado da Habitação e do Urbanismo, Manuel Taveira Pinheiro Guimarães Serôdio.”

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Submissa por ser um manequim

Nas 165 páginas do romance A Segunda Oportunidade (Quetzal, 2002), de Vítor Elias, são acesos 19 cigarros pelos personagens, a maior parte dos quais pelo narrador. Ao contrário do que o nome do autor pode fazer supor, a obra não é de carácter humorístico. Embora a história se passe em 2002, o filme Magnólia está em exibição.