Encontrar algo útil no meio da tralha é parte essencial do trabalho de um historiador.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Capitalismo é crime organizado

A gravação exibida na RTP do concerto que os GNR realizaram no Coliseu dos Recreios (Lisboa) em 19 de Novembro do ano passado omite um momento ocorrido então numa pausa entre canções. Informado do resultado da partida para a Taça de Portugal em futebol entre o FC Porto e a Académica de Coimbra, disputada nessa noite, Rui Reininho disse, salvo erro, “Levámos três secos da Académica” (os portistas foram eliminados da competição), com a consequente reacção jubilosa do público. Na montagem do filme, a RTP pode ter considerado a tirada do cantor excessivamente datada, logo dispensável numa gravação para exibição futura. No entanto, a desilusão dos GNR com o resultado negativo do FCP constituirá uma recordação importante do reinado de terror de Vítor Pereira.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Bêbado, torpe e bufão

A revista “O Melhor de 2011”, editada pelo jornal O Jogo, faz o balanço do ano desportivo que passou, dando a glória do FC Porto origem a títulos como “Melhor já não há” (p. 50) e “O maior em Portugal” (p. 58). Apesar do destaque conferido ao futebol, os vencedores nacionais e internacionais de outras modalidades não são esquecidos, tal como as notícias “sociais” (na secção “Outras coisinhas”). Lamenta-se apenas a reduzida visibilidade no anuário do futsal e do futebol feminino. A revisão dos textos foi feita por Clara André e Pedro Félix, que deixaram escapar gralhas como as seguintes:
 
“Destinados ao sucesso, num ano em que voltou a patentear (…), os dragões” (p. 14)
“A a bola entrou” (p. 16)
“acabou por não ser o mais importantes” (p. 19)
“o segunda melhor pontuação” (p. 20)
“o melhor segunda classificada” (p. 22)
“ao bósnios tenham beneficiado” (p. 24)
“Ele que já saiu do Camp Nau eufórico, após ter levado o Inter à final Liga dos Campeões” (p. 36)
“os oito milhões de euros que custou o seu passe acabou por ser uma verdadeira pechincha” (p. 38)
“começou a tomar medidas e uma das primeiras passou pela despensa de Gutti” (p. 41)
“o novo técnico do reds” (p. 48)
“os milhões de libras do Roman Abramovich” (p. 62)
“No clube recebeu a distinção máximo” (p. 98)
“Mundial de Contrutores” (p. 117)

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Uma vez Flamengo, Flamengo até morrer

Publicado em separata da revista Rumo de Agosto de 1967, o ensaio Juventude de Hoje, Juventude de Sempre foi inspirado ao autor, Marcelo Caetano, por conversas com outras pessoas “inquietas e perplexas perante um modo de ser e de agir completamente discordante dos padrões tradicionais da vida familiar e social” (p. 5), manifestado pelos jovens dos anos 60, e pela longa experiência de professor universitário que colocou Caetano perante centenas de alunos que o académico procura compreender. O texto do futuro Presidente do Conselho visa compreender a juventude actual de uma forma global, indo além do caso português, onde os novos fenómenos costumam chegar tarde e com dimensão reduzida.

A rebeldia dos indivíduos nascidos depois da II Guerra Mundial é em parte explicável, segundo Caetano, por “factores constantes” (p. 6) presentes na juventude de todas as épocas, como o idealismo, a irreverência e a necessidade de afirmação. Existem, porém, várias características próprias do século XX, onde se passou “de um Mundo velho para um Mundo novo” (p. 9), que contribuem para a agitação juvenil do presente. O progresso da ciência e a explosão da tecnologia alteraram a vida e o conhecimento, sendo as contínuas inovações melhor aceites e compreendidas pelos jovens que por aqueles que, como Caetano, nasceram no início de Novecentos. A sociedade agrícola, regida pelas normas imutáveis da Natureza e tendente ao conservadorismo, deu lugar a uma “civilização mecânica, urbana e cosmopolita” (p. 11), onde a mudança surge como possível e desejável. Para desagrado de Caetano, as novas ideias sobre educação tornam-na menos rígida e exigente, enquanto uma vulgarização das teorias freudianas leva ao objectivo de “reduzir ao mínimo os constrangimentos” (p. 13), sejam sociais, morais ou religiosos. 

Simultaneamente, num processo que partiu do Norte para se estender recentemente ao Sul da Europa, verifica-se a entrada massiva das mulheres no mercado de trabalho e nos estabelecimentos escolares, com o consequente afastamento da tutela familiar. O vestuário uniformiza-se de modo a aproximar mulheres e homens, mantendo estes apenas a barba como “derradeiro refúgio da dignidade máscula” (p. 15). Habitualmente guardiã da tradição, a mulher torna-se um factor de subversão dos costumes. O declínio das restrições, a influência dos media e a maior convivência de rapazes e raparigas conduzem a novas relações entre os sexos. Passando cada vez mais tempo fora de casa, na escola e em espaços de convívio, os jovens libertam-se do controlo da família e assumem-se como grupo distinto dos restantes (“A juventude tende a deixar de ser uma idade para ser concebida como uma classe”, p. 18). O desejo de agrupamento favorece a adesão à cultura de massas, expressa no culto dos ídolos do desporto (a função educativa deste é prejudicada pelo clubismo e pelo “vício do espectáculo desportivo”), do cinema e da música. Neste caso, Caetano não leva muito a sério as manifestações de histeria associadas ao sucesso do “yé-yé”.

Identificadas as causas dos comportamentos dos jovens de 1967 que chocam os mais velhos, Marcelo Caetano termina confiante no futuro: “Não vamos alarmar-nos por ver a mocidade seguir rumos diversos daqueles que considerávamos seguros e certos” (p. 20). Apesar dos desvios que a juventude possa sofrer, no momento próprio ela assumirá as suas responsabilidades e a experiência levará a que compreenda os “valores essenciais da humanidade” (p. 21), eternos e vencedores de agitações passageiras. Recusando “acreditar na vitória do erro” (p. 21), o professor garante a sobrevivência dos princípios legados pelo passado. Caetano parece não se aperceber das transformações políticas e ideológicas que as mudanças sociais implicam num país como Portugal. Na verdade, a partir de 1968, numerosos jovens serão mobilizados pelo movimento estudantil e por múltiplas organizações de esquerda contra o sistema que Caetano representa. A ânsia de mudança da nova geração não aceitaria uma ditadura construída com base no “viver habitualmente” e no “a cada um o seu lugar”.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Quanto mais o tempo passa, mais hipóteses de ressaca

Em Abril de 1959, o jornal Diário do Norte, dirigido por Alexandre Cal, publicou um número especial comemorativo do 70º aniversário de António de Oliveira Salazar. Além de textos escritos por figuras do Estado Novo e numerosas mensagens de saudações ao estadista enviadas por Casas do Povo, sindicatos nacionais e autarquias, a edição inclui fotografias (algumas delas da autoria de António Rosa Casaco) que procuram retratar as várias facetas públicas e privadas do homem que governava Portugal. Uma das páginas da publicação é dedicada ao tema “Salazar e o Desporto”, a propósito do qual surgem quatro imagens. As legendas são “O Presidente do Conselho interessa-se pelas coisas do desporto. Testemunham-no as fotografias desta página. Expressiva a sua atitude ao receber a equipa de hóquei em patins, vencedora em Montreux” e “A sua presença na inauguração do grandioso Estádio 28 de Maio, em Braga, documentada, expressivamente, nas três restantes fotografias desta página”. É curioso que os propagandistas do salazarismo procurem apresentar o Presidente do Conselho como um adepto do desporto (Ayala Botto escreveu Salazar e o Desporto), com vista à valorização da imagem do ditador, independentemente do que este realmente pensasse acerca das actividades atléticas.  

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Mamã, este é que é o revisor?


Stadium, 18 de Abril de 1934

“O excelente vinho do Porto “Vamar”, além das suas magníficas qualidades, que o impõem como um dos melhores vinhos do Porto, é também um tónico de efeitos seguros, apreciadíssimo pelos desportistas, que vêem nele um poderoso reconstituinte.
É seu representante entre nós a firma A.D. Marques.” (p. 11)

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Eu sou o cérebro


Stadium, 23 de Janeiro de 1933

“Consta-nos que na próxima época dois clubes de Lisboa apresentarão “équipes” femininas de “ping-pong”.
A notícia é sensacional, e registamo-la com aprazimento, por verificar que o “tennis” de mesa vai, pouco a pouco, conquistando novos adeptos, inclusive, ocupando um lugar nas ocupações da mulher portuguesa…” (p. 11)

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Quem criou você?

Mundo Desportivo, 12 de Setembro de 1962

“O Vitória Futebol Clube, reunido em Assembleia Geral, resolveu eleger Sócio Honorário da colectividade o mais alto magistrado da Nação, sr. almirante Américo Tomás. (…)
O acto foi vivamente aplaudido, sentindo-se os associados do Vitória Futebol Clube muito honrados com o facto do Presidente da República passar a fazer parte da sua lista de sócios de honra.” (p. 7)

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

You'll have no sequel

Record, 14 de Novembro de 1980

“A equipa do Marítimo em igualdade de pontos com as lisboetas da “Fidelidade”, acaba de vencer um torneio de futebol de salão entre equipas femininas com as “seguradoras” a conseguirem os seguintes resultados: Selecção do Machico, 1 – Fidelidade, 3; Selecção da Camacha, 0 – Fidelidade, 4 e Marítimo, 0 – Fidelidade, 0.
A confirmar o interesse pelo futebol feminino no Funchal regista-se que este último desafio proporcionou quase setenta mil escudos de receita.” (p. 5)