Encontrar algo útil no meio da tralha é parte essencial do trabalho de um historiador.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

É difícil ser-se insensível a uma certa emoção

Sporting, 2 de Julho de 1934

“ “Onze Negro”!
Assim se intitula o novo agrupamento que o Carlos Alves acaba de organizar para, em digressão pela província, fazer a propaganda do football.
“Onze Negro” parece piada à Exposição Colonial (do Porto), mas não é e ainda bem.
Mas onde terá ido o grande “back” internacional arranjar onze negros para constituir um “team”?
Ah! Já sabemos. Foi às cubatas do Palácio (de Cristal) contratá-los…
Não haverá por aí quem aproveite as negras para um grupo feminino?
Agora era um sucesso e um êxito de bilheteira…” (p. 10)

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Já cheira a cadáver

No último programa de Gato Fedorento Esmiúça os Sufrágios, o jornalista Júlio Magalhães ofereceu provocatoriamente a Ricardo Araújo Pereira um exemplar da obra para crianças que “Juca” escreveu em conjunto com Fernando Norton de Matos (Paulo Martins Bastos foi o ilustrador), O Meu Primeiro Livro do FC Porto – Toques de Campeão (Prime Books, 2005). O livro, destinado por RAP ao fogo da lareira, tem a curiosidade de, ao abordar as origens do FC Porto, desviar-se ligeiramente da versão oficial adoptada pela direcção do clube:

“O Foot-Ball Club do Porto é imaginado pelo comerciante Nicolau de Almeida, em 1893, intenção assinalada através de dois desafios com o FC Lisbonense. A ideia é retomada, e concretiza-se treze anos depois, por José Monteiro da Costa, afinal o fundador e primeiro presidente.” (p. 6)

Tal não significa da parte dos autores qualquer desconsideração pelo actual presidente do FCP, Jorge Nuno Pinto da Costa, “amado e idolatrado pelos adeptos do FC Porto” (p. 10) e considerado um excelente dirigente pelos adversários. Pinto da Costa é apontado como o principal responsável pelos êxitos portistas das últimas três décadas. Na sua síntese da história do clube portuense, O Meu Primeiro Livro… preocupa-se em mostrar aos jovens “dragões” que muitos fracassos ocorreram no passado, mas tudo se alterou a partir de 1974. Deixa-se implícito que, antes do 25 de Abril, “era difícil, não se chamando Benfica, ser campeão em Portugal” (p. 18), como o “caso Calabote” prova. Os clubes de Lisboa, e o SLB em particular, seriam favorecidos pelo poder central durante a ditadura.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

O Tratado de Maastricht aos quadradinhos

O livro Guia TV dos Jogos Olímpicos 1976 (Edicria, 1976), dirigido por Avelãs Coelho e Neves de Sousa, faz a antevisão das Olimpíadas de Montreal, apresenta os representantes portugueses (como Carlos Lopes, “uma das maiores esperanças portuguesas de sempre” e o homem que ocupa a capa do livro) e divulga o calendário do evento, tal como o plano de transmissões definido pela RTP (sob a coordenação do antigo atleta José Galvão) para mostrar as competições ao público nacional. Contudo, logo na página 2 surge um apelo dirigido ao leitor com vista à poupança de electricidade, uma vez que “o País sofre uma grave crise de produção de energia eléctrica, especialmente devido a circunstâncias hidrológicas de verdadeira excepção”. A cobertura televisiva dos Jogos Olímpicos iria previsivelmente levar a um aumento do consumo de energia, inclusive em horário nocturno. Surgem, assim, três sugestões que os telespectadores deveriam seguir para evitar um gasto excessivo de electricidade:

“* sempre que possível, reúna-se com amigos ou outras pessoas, para assistir às transmissões: em vez de vários televisores em funcionamento simultâneo… bastará, apenas um!
* se for de noite, desligue todas as lâmpadas de sua casa e arranje um pequeno “piloto” para iluminar o local onde estiver o seu televisor (ver televisão completamente às escuras é prejudicial à saúde);
* não tenha o televisor aceso sem ninguém a assistir à programação (o habitual “até começar”) e não se esqueça de o desligar quando terminar a transmissão e não estiver interessado no resto da emissão.”

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Com gostinho de quero mais

Avante!, 16 de Abril de 1992

“Num contacto telefónico, o grupo de estudos do PCP para a política desportiva transmitiu uma “saudação muito calorosa” ao atleta António Pinto e ao seu técnico Alfredo Barbosa, pela brilhante vitória conseguida no domingo na Maratona de Londres.” (p. 20)

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Como é bom ser-se vaca sem nunca se avacalhar

Sporting, Maio de 1958

“Lição de anatomia

O professor estava já impaciente. Avançou até ao fundo da sala onde a loiríssima Maria se achava, de pé e imóvel, e insistiu:
— Senhorinha, não é possível continuar se os seus conhecimentos são tão escassos. Não me vai dizer que não conhece o corpo do homem.
Ela sorriu com ingenuidade e após alguma hesitação explicou:
— Mas, professor, eu ainda não me casei…” (p. 7)

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Nunca ouvi um "sim" tão seco e frio

Uma peça da SIC Notícias exibida hoje cobriu a presença do secretário-geral do PS, António José Seguro, num evento socialista em Torres Vedras. As imagens captadas durante a conferência e a recolha de declarações a Seguro por parte dos jornalistas mostraram Susana Amador, a presidente da Câmara de Odivelas, sempre atrás ou ao lado do líder socialista (embora o nome da autarca nunca fosse referido na narração). Apoiante da actual direcção do partido, Amador poderá estar a seguir a “técnica do emplastro” que, segundo José de Pina (nas pp. 109-110 do livro Nascido para Mandar, Gradiva, 2004), foi criada por António Guterres, que, nos anos 80, aparecia perante as câmaras sempre atrás do líder do PS, fosse ele qual fosse, de modo a que a imagem de Guterres ficasse na memória das pessoas. Um dia, passou para o primeiro plano, ou seja, tornou-se secretário-geral. Quem sabe se a estratégia funciona novamente e Susana Amador passa de figurante a protagonista?

Aos microfones, Seguro declarou que na terça-feira de Carnaval irá trabalhar, como todos os dias, mas depois acompanhará o corso das Caldas da Rainha. Em Odivelas, por despacho de 7 de Fevereiro, Susana Amador concedeu tolerância de ponto aos funcionários municipais na data festiva, justificando-se com a utilidade económica do Carnaval, indispensável em época de crise, e a tradição que concede aos trabalhadores na Terça-Feira Gorda um dia de lazer em família (positivo para a sua motivação no trabalho). Os funcionários cujo trabalho nesse dia for indispensável serão compensados mais tarde. Diga-se que a decisão do Governo de anular a tolerância de ponto carnavalesca este ano visou apenas impressionar a troika e Henrique Raposo, já que, na prática, o país parará como sempre.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Parece que há muitos bons condutores


Diário do Governo, II Série, 28 de Novembro de 1942

“ (…) Por contrato do enfermeiro mor de 21 do corrente:
José de Sousa Saramago – contratado como auxiliar de escrita dos serviços administrativos dos Hospitais Civis de Lisboa, além do quadro. (…)
Hospitais Civis de Lisboa, 25 de Novembro de 1942. – O Secretário, A.H. Mousinho da Silveira Barata.”

Uma personagem de animação que não conseguiu impor-se

Stadium, 20 de Março de 1935

“Manuel de Oliveira, que tem estado um pouco afastado do atletismo, vai esta época reaparecer no salto à vara. Bravo! Mais um elemento que irá animar a época que se aproxima.
Atletas que regressam, vontade de trabalhar da parte da “Apa”, clubes que trabalham com vontade, tudo se prepara para uma época que será brilhante.
O atletismo vai vencendo!” (p. 15)

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Sabes uma coisa? Eu amo Portugal

O Atlético, 6 de Dezembro de 1924

“O Impossível

Era mais fácil esgotar-se o mar,
Ou apagar o sol, num sopro só,
Ou varrer das estradas todo o pó,
Fazer… sei lá! – um cínico chorar;

Mais fácil conseguir um cego olhar,
Mais fácil a uma jovem ser avó,
Mais fácil desatar, de noite um nó,
Mais fácil ver um preto descorar;

Mais fácil ir à lua de avião,
Fazer alguém das tripas coração,
Mais fácil suportar sede e larica,

Do que, num desafio dos encarnados,
Conseguir um milhão de homens armados
Tapar a boca à claque do Benfica.”

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

É tudo paródia em bom português

A generalização do desporto pretendida após o 25 de Abril passou pelo atletismo. Autarquias, colectividades e privados favoreceram a multiplicação de corridas de estrada “populares”, abertas a atletas amadores sem enquadramento clubístico. Nos espaços publicitários da Revista Atletismo de Março de 1984, são divulgadas as seguintes provas: IV Grande Prémio Círculo de Leitores (Lisboa, 15 de Abril) II Grande Prémio de Atletismo do Concelho de Palmela (1 de Abril), Corrida da Liberdade (Odivelas, 24 de Abril), II Grande Prémio das Cerejeiras em Montes da Senhora (Proença-a-Nova, 21 de Abril), 12 Quilómetros Várzea-Felgueiras (6 de Maio), I Grande Prémio da Tecnilimpe (Benfica, 18 de Março) e 1ª Meia Maratona de Abril (25 de Abril), no percurso entre Trafaria e o Terreiro do Paço e promovida pela Associação 25 de Abril, além das “tradicionais corridas da Liberdade” para jovens.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Se tiverdes problemas sexuais, mergulhai na piscina

O Diário, 6 de Setembro de 1977

“Deram entrada na Federação de Futebol mais os seguintes pedidos de opção pela nacionalidade portuguesa de jogadores profissionais de futebol: Manaca (Sporting), José Maria (Belenenses), Pavão (Barreirense) e Arnaldo (Barreirense). Até agora optaram pela nacionalidade portuguesa 22 futebolistas das ex-colónias.” (p. 15)