O Playboy que Chora nas
Canções de Amor (Verso
da Kapa, 2007) revela, entre posts,
crónicas, contos, humor e tragédia, o mundo de Luís Filipe Borges, numa
antologia reeditada em 2010 com o título A
Vida É Só Fumaça (apenas a capa foi alterada, permanecendo inclusive o
texto onde Borges explica o título original). O argumentista açoriano,
actualmente um dos apresentadores do 5
Para a Meia-Noite, expõe de forma confessional os seus sentimentos e
ambições, alternando o sorriso com a emoção. No entanto, embora o resultado
seja bastante interessante e superior ao do livro anterior de Borges, Sou Português... e Agora? (A Esfera dos
Livros, 2006), fica-se com a sensação que o Boinas
não ultrapassa uma dada fasquia, ou seja, é médio mas não é brilhante, quer
dizer, sabe dar uns toques na bola mas não faz o público vibrar... em resumo,
Luís Filipe Borges não é Ricardo Araújo Pereira, agora premiado pela APE pelo
livro Novas Crónicas da Boca do Inferno.
Apesar de terem em comum a origem nas Produções Fictícias, o
gosto pela literatura e a presença assídua no Estádio da Luz, Borges e Araújo
Pereira estão longe de serem amigos. A propósito do livro de poesia Mudaremos o Mundo Depois das 3 da Manhã
(Tágide, 2003), onde Borges inclui, entre outros, o poema “Mãe”, os Gato
Fedorento conceberam o sketch “Gente que não vai a lado nenhum” (um dos poucos das quatro séries de Gato Fedorento que parecem ter sido criados
a pensar especificamente numa pessoa), onde satirizam Boinas e os amigos deste (como o actor Tiago Rodrigues), que, pelos
vistos, se dedicam com paixão ao elogio mútuo. As razões da zanga entre os
humoristas não são claras, mas ainda não foram totalmente esquecidas por Luís
Filipe Borges, que, numa entrevista recente à Notícias TV, sem nomear o quarteto, afirma: “Quero é enterrar machados, passou, que
se lixe! Quero é que os gajos sejam felizes a fazer as cenas deles.” Na
verdade, há espaço para todos no humor (e nos livros) em Portugal.