O
texto mordaz de José de Pina e as ilustrações de João Fazenda tornam Nascido para Mandar. Guia para chegar ao
Poder em Portugal (Gradiva, 2004) um livro muito divertido e uma fonte
valiosa sobre a política portuguesa (e a imagem pública desta) na transição
entre os séculos XX e XXI. O objectivo do “guia” de Pina, na altura um dos argumentistas
do Contra-Informação, é indicar ao
leitor como alcançar e manter o poder no nosso sistema político-partidário (incluindo
o “Partido do Futebol”, cuja influência sobre os políticos era então descoberta),
recorrendo a exemplos recentes para analisar como, num cenário de “revolução
informática e comunicacional” (p. 12), a forma de fazer política em Portugal se
alterou completamente desde os primeiros anos de democracia.
No
final da introdução, editor e autor apelam aos leitores para que escrevam a
relatar mudanças e novidades entretanto ocorridas, de modo a permitir “fazer
uma próxima edição ainda melhor” (p. 13). De facto, Nascido para Mandar veio a público em Maio de 2004, poucos meses
antes do consulado de Pedro Santana Lopes, marcado por abundantes episódios que
seriam certamente aproveitados por José de Pina. No entanto, a ausência de uma
nova edição da obra fez com que esta, sem perder a graça, se desactualizasse em
vários aspectos. Por exemplo, Pina ainda aconselha o aspirante a político a
fazer uma licenciatura a sério, com a duração de cinco anos e de preferência
numa universidade pública (p. 57), assim como afirma, após ponderação e sem
ironia, que “não é aconselhável ser presidente ou ter um cargo de muito
destaque numa juventude partidária”, indicando razões como a imagem de
envelhecimento prematuro fornecida pelos muitos anos de actividade política a “jotas”
como António José Seguro (pp. 62-63). Com a excepção do presidente do Governo
Regional da Madeira, muito do que é abordado no livro mudou nos últimos dez
anos. Deste modo, urge que Pina e Fazenda voltem a trabalhar juntos para criar
um Nascido para Mandar que combine a
observação satírica dos bastidores partidários com o retrato das circunstâncias
políticas do Portugal da troika, naquilo que este tem de cómico e trágico.