No ano passado, o PCP realizou em Santa Maria da Feira a
tradicional homenagem anual a António Ferreira Soares, médico e militante
comunista que em 4 de Julho de 1942, quando se encontrava na localidade de
Nogueira da Regedoura (onde era protegido pela população, à qual prestava
auxílio médico gratuito), foi alvo de uma cilada e assassinado pela PVDE. O
nome de Ferreira Soares passou a integrar a lista dos “mártires” do PCP,
vítimas da repressão salazarista e referidos nos documentos publicados pelo
partido. A propósito dos 70 anos da morte de Ferreira Soares, a romagem ao
cemitério da Feira contou com a presença do secretário-geral comunista,
Jerónimo de Sousa (em 1992, Álvaro Cunhal participou na cerimónia, recordando
que se encontrava no Norte quando soube do assassinato), e um discurso proferido por este.
O discurso de Jerónimo é interessante quer pelo ataque do
líder comunista à campanha “levada a cabo pelo exército de
historiadores de serviço e difundida pelos difusores de serviço” que estará a
desvalorizar a violência promovida pelo Estado Novo e o papel do PCP na
resistência à ditadura, quer pelo resumo das actividades oposicionistas desenvolvidas
durante a II Guerra Mundial. É feita uma enumeração das povoações e sectores
laborais onde ocorreram greves e outras acções de protesto, assim como são
referidos os movimentos unitários (MUNAF, MUD, MUDJ) onde diversas correntes da
oposição colaboraram no ataque a Salazar. Naturalmente, Jerónimo de Sousa
atribui ao seu partido, então em fase de reorganização e crescimento sob a
direcção de Álvaro Cunhal, a liderança das movimentações populares e da “unidade
anti-fascista”.
O político descreve da seguinte
forma o assassinato de António Ferreira Soares: “uma falsa doente, acompanhada
por um inspector e dois agentes da PVDE, solicita-lhe uma consulta de urgência,
pedido a que ele (...) acede, recebendo a falsa doente em casa de sua irmã.
Depois foram as 14 balas de pistola metralhadora disparadas à queima-roupa.
(...)” De acordo com a narrativa dos acontecimentos de 4 de Julho de 1942 que
tem sido divulgada pelo PCP, o inspector da PVDE referido por Jerónimo seria
António Roquete, que comandava então os agentes Leonel Laranjeira e José
Rodrigues Coimbra. No entanto, os nomes dos intervenientes e os pormenores da
morte de Ferreira Soares divergem várias vezes nas fontes (do PCP ou de outras
origens), numa situação que dificulta o esclarecimento do que se passou em
Nogueira da Regedoura naquele dia. Certa é apenas a informação de que foi
Leonel Laranjeira o único elemento da PVDE a ser julgado, em 1943, pelo crime,
e a obter do Tribunal Militar Territorial do Porto a absolvição, a partir da
conclusão de que Laranjeira disparara sobre o médico comunista em legítima
defesa.
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