Encontrar algo útil no meio da tralha é parte essencial do trabalho de um historiador.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

E assim nasceu o rock

Mundo Desportivo, 28 de Abril de 1948

“Um homem ao serviço da Nação

(…) No nosso caso especial, o do Desporto, também a acção de Salazar se revelou clarividente e profícua. Os seus governos têm protegido ostensivamente as práticas da Cultura Física, desde a construção do grandioso Estádio Nacional e do Pavilhão dos Desportos, da criação da Direcção-Geral dos Desportos e da fundação do Instituto Nacional de Educação Física, até aos valiosos subsídios destinados ao fomento de várias modalidades. Isto quer dizer que nenhum departamento da Governação Pública foi descurado e que particular atenção se dedicou também ao revigoramento físico do povo. (…)” (p. 12)

Se estiver aqui uma bomba eu quero que ela expluda

Enquanto não surge o grande filme que D. João II merece (há muitos anos, ouvi falar de um projecto dos irmãos Guedes de Carvalho sobre o Príncipe Perfeito, mas não sei o que aconteceu), a ficção histórica portuguesa, entre a televisão e o cinema, concentra-se no período contemporâneo. Com o tempo, temas “tabu” foram caindo (25 de Abril, guerra colonial, Salazar), proporcionando uma maior diversidade de abordagens. A qualidade artística e pedagógica dos dispendiosos projectos tem variado, embora exemplos como a mini-série Noite Sangrenta, de Tiago Guedes e Frederico Serra, indiquem a possibilidade de criar produtos valiosos e duráveis, sem sacrificar o rigor histórico. No que respeita à história da oposição ao Estado Novo, uma vez feito o trabalho quase definitivo sobre o PCP (Até Amanhã, Camaradas), figuras como Henrique Galvão e Humberto Delgado aparecem como tentadoras para projectos ficcionais. Assalto ao Santa Maria, de Francisco Manso, foi um esforço nesse sentido, embora nem a crítica nem o público se tenham entusiasmado com o filme (entretanto, Manso colocou Vítor Norte na pele de Aristides de Sousa Mendes). Quanto a Delgado, aguarda-se com expectativa Operação Outono, o filme de Bruno de Almeida baseado na biografia do General Sem Medo escrita pelo neto deste, Frederico Delgado Rosa (também neto, por via paterna, do dirigente do Belenenses Acácio Rosa). John Ventimiglia e Nicolau Breyner actuarão numa longa-metragem destinada a distribuição internacional e presumivelmente falada em inglês. O projecto centrar-se-á sobretudo nos últimos anos de Delgado, marcados pelo isolamento e desespero que o conduziriam à cilada da PIDE, na qual terá sido morto não pelos disparos do agente Casimiro Monteiro, como indica a versão mais comum, mas sim através de espancamento. Trata-se sem dúvida de um projecto aliciante que pode levar a história do século XX português a novos públicos.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Não sei se mereço tanto calor

Mundo Desportivo, 22 de Março de 1948

Anúncio:

“Treinador de futebol

Precisa o Clube Oriental de Lisboa. Quem se encontra nas condições, pode dirigir-se, com todos os detalhes, para a Praça David Leandro da Silva nº 22.” (p. 10)

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Se os cornos fossem antenas os teus chegavam a Marte

Ainda a propósito de O Fio do Tempo, dir-se-ia que, assim como o escravo Tobias amaldiçoou D. João II, provocando a morte do Príncipe Perfeito sem descendência legítima, alguém fez um feitiço para tudo correr bem ao Benfica e tudo correr mal ao Sporting. Futebol e feitiçaria não são, como se sabe, territórios estranhos entre si, recorrendo os dirigentes e treinadores a bruxos, videntes e astrólogos para orientarem as suas equipas rumo ao sucesso.

O diamante Klopman

Mundo Desportivo, 3 de Janeiro de 1948

“Acácio Rosa – Vice-presidente do Clube de Futebol “Os Belenenses”

Basquetebol – Acácio Rosa; andebol – Acácio Rosa; Belenenses – Acácio Rosa.
E será assim mesmo. Não poderá fazer-se a história do basquetebol, do andebol ou dos Belenenses, sem nela incluir o nome de Acácio Rosa.
Muito novo ainda, mas inteligente e sensato, Acácio Rosa conquistou brilhante posição no seu clube e no quadro dos dirigentes desportivos de Portugal.
Tinha interesse auscultar os seus votos para 1948. (…)
— Que os Belenenses ganhem o Campeonato Nacional de Futebol;
— Que os Belenenses ganhem os “regionais” de basquete e andebol; e que, por último, o meu clube veja realizado o seu sonho de possuir novo e melhor campo de jogos.” (p. 9)

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

O caminho é sinuoso, mas o futuro é luminoso

Pela segunda vez, o historiador João Paulo Oliveira e Costa, um benfiquista crente em Deus e no amor, aventura-se na escrita de ficção. O Fio do Tempo (Temas e Debates/Círculo de Leitores, 2011) sucede a O Império dos Pardais, com o qual tem numerosas ligações. O século XV é abordado através da longa vida do fidalgo D. Álvaro de Ataíde, envolvido em numerosas viagens pela Europa e por África. 

Uma das maiores curiosidades que o lançamento de O Fio do Tempo provocou entre os leitores foi a de saber se o autor voltaria a fazer, pelo meio das andanças das personagens, referências mais ou menos subtis ao futebol e em particular ao Benfica. Existe uma metáfora sobre águias, mas relativa a Portugal, que com a conquista de Ceuta deu o seu “primeiro voo” fora da Península Ibérica (p. 29). Num torneio, D. Álvaro de Ataíde derrota um adversário vestido de verde e branco (p. 32). Um dos amigos de Ataíde, Pedro Francês, tem gravado no escudo com que combate “o seu animal favorito, a águia” (p. 69). De resto, surgem apenas novos paralelismos com o jogo de bola praticado no século XV, inclusive por monges, o que era considerado condenável (p. 311).

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Os açúcares fizeram um bom trabalho

Foi no ano de 1949 que se verificou a introdução em Portugal do andebol de sete, variante da modalidade que acabaria por deixar para trás o andebol de onze, praticado ao ar livre (do qual o FC Porto venceu 8 dos 10 primeiros campeonatos nacionais). Para além de vários clubes e da Federação Portuguesa de Andebol, a Mocidade Portuguesa foi uma das entidades que se interessaram pelo novo desporto. De acordo com o Mundo Desportivo de 7 de Dezembro de 1949, o festival da MP de 26 de Novembro desse ano, ocorrido no Pavilhão dos Desportos, em Lisboa, incluiu uma partida de andebol de sete, disputada por equipas da Escola Veiga Beirão e do Colégio “O Académico”. O carácter de demonstração do evento, sem a duração regulamentar, numa altura em que o modelo do andebol de onze era ainda predominante, pode explicar a escassez do resultado pelo qual a Escola Veiga Beirão se sagrou vencedora (2-1). O árbitro do desafio foi Henrique Feist, grande impulsionador da introdução do andebol de sete no país.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Santana sovina, come o arroz da cantina

Mundo Desportivo, 12 de Agosto de 1964

“Atendendo a informações várias que há tempos vinha recebendo, o FC Porto assegurou agora o concurso de um habilidoso júnior do Desportivo de Chaves, Pavão, recebendo o clube flaviense, por recompensa, o concurso dos ex-juniores França, Alves e Baptista e ainda do guarda-redes reservista Antenor, todos por uma época, em regime experimental.” (p. 7)

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

O camisinha odeia a sidinha

No número de hoje do semanário gratuito Jornal de Odivelas, dirigido por Filomena Moreira (a redacção inclui ainda o estagiário Paulo Monteiro), a presidente da Câmara de Odivelas, Susana Amador, aparece em 15 fotografias (numa delas de costas, na página 11). É preciso explicar que apenas 7 das 16 páginas da publicação, incluindo a primeira, não são totalmente preenchidas por publicidade. 

O Jornal de Odivelas tem apoiado oficiosamente o executivo da Câmara Municipal, pelo menos desde que a socialista Susana Amador foi eleita pela primeira vez em 2005, preenchendo o seu escasso noticiário com a cobertura de eventos promovidos pela Câmara ou por empresas privadas. No entanto, o periódico começa a fazer lembrar as publicações municipais do tempo da Comissão Instaladora em que Manuel Varges parecia omnipresente. O outro semanário gratuito do concelho, Nova Odivelas, de Henrique Ribeiro, segue uma linha mais isenta e possui artigos de opinião escritos por figuras dos partidos da oposição.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Agricultor que não teme, vota no PPM

Mundo Desportivo, 12 de Outubro de 1949

Carlos Pinhão: “ (…) A propósito, quereis saber qual o desafio mais “explosivo” que se podia organizar?
— O Arsenal-Botafogo!...” (p. 11)

sábado, 12 de fevereiro de 2011

O Duende Verde renasce

Diário de Notícias, 12 de Fevereiro de 2011

“A história de João Loureiro e o Boavista é antiga. Antes de suceder ao pai, major Valentim Loureiro, na presidência, jogou nas camaradas jovens do clube – “e nem jogava mal”, confessa.” (DN Gente, p. 5)

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Se a bola toca no árbitro, o jogo continua

Como encarar os acontecimentos do Egipto com olhos portugueses? Para já, a resposta à pergunta óbvia: Hosni Mubarak chegou ao poder em 1981, um ano antes dos Táxi lançarem o álbum Cairo. Cairo, a cidade onde agora é tempo de gritar “o povo unido jamais será vencido” e promover a confraternização entre a população e as Forças Armadas.

Se tudo correr bem, os politólogos terão para estudar no Egipto um novo caso de transição para a democracia. Pode haver mesmo quem fale numa nova vaga de democratizações, desta vez iniciada na Tunísia. No entanto, as perspectivas sobre o futuro do país dos faraós (dos quais os egípcios se fartaram de vez, preferindo a democracia) têm variado por cá. De uma maneira geral, entre a opinião publicada, a esquerda tem-se envolvido emocionalmente na celebração da luta egípcia pela liberdade (e rejubilado com o contraste entre o “dominó” verdadeiro de 2011 e o “dominó” imaginário de 2003), enquanto a direita teme a chegada ao poder no Cairo dos islamistas, com o perigo que isso representaria para Israel. Só o futuro dirá se são os optimistas ou os pessimistas a ter razão. Ainda quanto à comparação com a “nossa” transição, há que perguntar se vai haver um processo de justiça política, ou seja, de afastamento e punição dos principais responsáveis do aparelho político e repressivo da ditadura derrubada. A permanência de Mubarak em liberdade no território egípcio e o facto de, formalmente, não ter havido uma ruptura súbita, permanecendo por agora os militares no governo do país, parecem pôr de lado uma depuração.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Com as nossas saudações revolucionárias

Uma reportagem exibida no programa 30 Minutos, da RTP1, aborda a equipa de futebol feminino (FF) do 1º Dezembro, na semana em que o clube atingiu a marca de 100 jogos consecutivos sem perder no Campeonato Nacional. Para lá da concentração das melhores jogadoras portuguesas na equipa sintrense, o feito das “dezembristas” revela a falta de competitividade existente no FF português, sujeito à hegemonia prolongada de uma colectividade (outrora o Boavista, na última década o 1º Dezembro) que deixa as restantes a disputar quase uma prova à parte. Coloca-se a questão de como manter a motivação de jogadoras que, a nível interno (falta ainda a afirmação nas provas europeias), nada fazem senão “ganhar, ganhar, ganhar”. No entanto, o trabalho do jornalista Luís Filipe Fonseca revela o empenho do treinador Nuno Cristóvão em evitar qualquer desleixo das suas comandadas, que pressiona mesmo depois da vitória estar assegurada. Uma vez que o profissionalismo é uma realidade ainda longe do FF português, a reportagem acompanha, além dos treinos nocturnos e dos desafios ao fim de semana, o trabalho de três jogadoras “dezembristas”, a Mariana Cabral (Expresso), Inês Quintanilha (Fundação Mário Soares) e Carla Couto (auxiliar educativa), recordista de partidas com a camisola da selecção portuguesa.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Já nos safemos!

Mundo Desportivo, 15 de Julho de 1949

“Devem chegar brevemente a Lisboa os jogadores de Lourenço Marques Mário Wilson, avançado centro, e Júlio Pereira, médio direito, que ingressarão no Sporting Clube de Portugal.” (p. 7)

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Sporting unido jamais será vencido

A cena de Os Mercenários que reúne Bruce Willis, Sylvester Stallone e Arnold Schwarzenegger é um verdadeiro mimo. No resto, Stallone apresenta tudo aquilo que se esperava: tiros, facadas, porrada da grossa, explosões enormes e vilões que gostam de fazer discursos. O conceito de uma “super-equipa” acaba por funcionar melhor que o solitário Rambo. Mesmo a destruição tem uma estética, e nisso o realizador é competente. Mais difícil para Stallone é expressar a sensibilidade amorosa dos personagens. Mesmo assim, trata-se de entretenimento sem miolos que cumpre o seu objectivo de descontrair. No final, os Mercenários aceleram para a sequela.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Hoje a superpotência somos nós

É um pouco ridícula a autopromoção da TVI em que Pedro Santana Lopes, o comentador com “licença para falar” (sic, ou melhor, tvi), é acompanhado pelo tema musical identificativo dos filmes da série James Bond. Santana Lopes como agente 007? A ligação mais óbvia remete para a sua fama de “playboy” a quem as mulheres não resistem. Por outro lado, enquanto Bond sai sempre vitorioso das suas aventuras (excepto em finais amargos como os de Ao Serviço de Sua Majestade e Casino Royale), Santana tem alternado vitórias com fracassos. No entanto, sabe-se sempre que as duas personagens, apesar das demoras e dificuldades de produção que os filmes sofrem, vão sempre regressar, mais cedo ou mais tarde, e sobreviver nas situações em que tudo parece perdido. Eles andam por aí, quanto mais não seja no imaginário do público. 2012 deverá ser o ano de um regresso em grande estilo do agente secreto britânico. E Santana, que planos terá guardados para relançar a sua saga?

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Galvão e Amaral, salvai Portugal

Bíblia dos Anos 80, de João Pedro Bandeira (Prime Books, 2010), aproveita a boleia do sucesso de Caderneta de Cromos, embora o livro de Nuno Markl não seja referido na bibliografia da obra de Bandeira. Das séries de animação japonesas referidas nesta, vi apenas As Aventuras de Tom Sawyer e Os Três Mosqueteiros.  

Duas correcções devem ser feitas a pormenores do texto da obra. Em 1982, segundo o autor, “Fausto grava “Por Este Rio Acima”, o primeiro de uma trilogia inacabada sobre a “Peregrinação” de Fernão Mendes Pinto” (p. 164). A trilogia de álbuns criados por Fausto aborda, na verdade, o conjunto da Expansão portuguesa. A Peregrinação serviu de inspiração a Por Este Rio Acima, tal como a História Trágico-Marítima ao álbum Crónicas da Terra Ardente. A série já não está propriamente inacabada, uma vez que Fausto apresentou ao vivo as canções do terceiro tomo, a serem gravadas este ano sob direcção musical de José Mário Branco. Mais à frente, um erro grave para quem também escreveu a Bíblia do FC Porto: “Em 1984, o Porto já tinha chegado à final dos Campeões Europeus, mas foi derrotado, dessa vez, pela Juventus” (p. 203). A final perdida de 1983/84 encerrou a edição desse ano da Taça das Taças.