Como encarar os acontecimentos do Egipto com olhos portugueses? Para já, a resposta à pergunta óbvia: Hosni Mubarak chegou ao poder em 1981, um ano antes dos Táxi lançarem o álbum Cairo. Cairo, a cidade onde agora é tempo de gritar “o povo unido jamais será vencido” e promover a confraternização entre a população e as Forças Armadas.
Se tudo correr bem, os politólogos terão para estudar no Egipto um novo caso de transição para a democracia. Pode haver mesmo quem fale numa nova vaga de democratizações, desta vez iniciada na Tunísia. No entanto, as perspectivas sobre o futuro do país dos faraós (dos quais os egípcios se fartaram de vez, preferindo a democracia) têm variado por cá. De uma maneira geral, entre a opinião publicada, a esquerda tem-se envolvido emocionalmente na celebração da luta egípcia pela liberdade (e rejubilado com o contraste entre o “dominó” verdadeiro de 2011 e o “dominó” imaginário de 2003), enquanto a direita teme a chegada ao poder no Cairo dos islamistas, com o perigo que isso representaria para Israel. Só o futuro dirá se são os optimistas ou os pessimistas a ter razão. Ainda quanto à comparação com a “nossa” transição, há que perguntar se vai haver um processo de justiça política, ou seja, de afastamento e punição dos principais responsáveis do aparelho político e repressivo da ditadura derrubada. A permanência de Mubarak em liberdade no território egípcio e o facto de, formalmente, não ter havido uma ruptura súbita, permanecendo por agora os militares no governo do país, parecem pôr de lado uma depuração.
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