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quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Há uma capitulação moral da população

Como único deputado da UDP eleito nas legislativas de 1976, Acácio Barreiros multiplicou-se em intervenções no Parlamento, celebrizando-se pelo bigode (embora mais comum nessa época) e pela violência dos seus discursos. Além de criticar a direita e os primeiros governos constitucionais, Barreiros tinha como alvo privilegiado a bancada do PCP, por si denominado “grupo burguês contra-revolucionário de Cunhal”.

A 30 de Julho de 1976, Barreiros leu na Assembleia da República as conclusões da última reunião plenária do Comité Central do Partido Comunista Português (Reconstruído), organização através da qual os maoístas pretendiam compensar o revisionismo em que o PCP original teria caído. O Diário da Assembleia da República (reproduzido em Intervenções Parlamentares de Acácio Barreiros, Lisboa, Assembleia da República, 2007, pp. 46-52) registou o discurso do deputado da UDP e os comentários feitos por alguns dos seus colegas do PCP. Ouvindo os ataques de Barreiros, Jerónimo de Sousa, Francisco Miguel, Aboim Inglês e Vital Moreira fizeram apartes como “Nunca te vi à frente da luta dos trabalhadores”, “Onde é que passaste a vida?”, “Não tens nada a ver com a classe operária”, “Cala-te, provocador”, “És um agente da burguesia”, “És um aldrabão, pá!”, “O homem está nervoso!” ou “És a vergonha do bacharelato”. Vasco da Gama Fernandes, então presidente da AR, teve de apelar à contenção dos comunistas, pedindo “compreensão e um pouco de silêncio”. Nem sempre Fernandes se mostrava tolerante para com a oratória de Acácio Barreiros, repreendido noutra ocasião pelo presidente da AR por ter chamado “gangster” ao embaixador dos Estados Unidos, Frank Carlucci.

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