Encontrar algo útil no meio da tralha é parte essencial do trabalho de um historiador.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

A UDP que pague a crise

Lourenço Marques Guardian, 15 de Janeiro de 1949

“A Comissão Administrativa da Federação Portuguesa de Futebol comunicou a todas as associações distritais e clubes que os campos de futebol não podem ser cedidos para reuniões políticas.” (p. 4)

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Não precisava de bolsos porque não tinha dinheiro


O livro Clube de Futebol “Os Belenenses”, 90 Anos de História (Âncora, 2009), de José Ceitil, complementa obras de autores como Acácio Rosa, Homero Serpa e Ana Linheiro no registo da história do “Belém”. José Ceitil enumera os altos e baixos do percurso belenense ano a ano, traça perfis das principais figuras do CFB, recolhe depoimentos de ex-presidentes e atletas e conversa com “pastéis” famosos (curiosamente, não falou com Manuel Sérgio). 

Ao referir as mudanças trazidas pelo 25 de Abril, Ceitil manifesta azedume contra a intelectualidade de esquerda (“entes esclarecidos, quase todos canhotos”, p. 198) que, durante a ditadura, atribuía ao futebol um papel de alienação e incentivo à passividade dos portugueses, mantidos no marasmo pelo Estado Novo. Os intelectuais vanguardistas, para o autor, ainda não recuperaram da “rasteira que a história lhes pregou” com o derrube do regime à margem dos “manuais e cartilhas que indicavam o trilho que o povo, por eles rebocado, devia seguir até á tomada do poder” (p. 199).

Relativamente ao Belenenses, o 25 de Abril tornou intolerável que o Estádio Almirante Américo Thomaz (o nome do Presidente da República fora atribuído ao Estádio do Restelo em 1970, depois do CFB recuperar a gestão do recinto) mantivesse a sua designação, sendo então proposto o nome “Estádio da Liberdade”. No entanto, a Assembleia-Geral do clube reunida em 6 de Dezembro de 1974 aprovou o regresso definitivo a “Estádio do Restelo”, já depois, segundo Ceitil, do dirigente histórico Acácio Rosa receber uma carta de Tomás onde o almirante exilado no Brasil apelava à mudança de nome do estádio, considerando-a benéfica para o clube. Em texto publicado no jornal A Bola, Acácio Rosa realçou o carácter apolítico do “Belém” e a dedicação ao CFB de Américo Tomás, sócio desde 1924, ex-presidente da colectividade (exercera o cargo em 1944) e detentor da Medalha de Ouro Dedicação atribuída pelo clube. Ainda em 1974, a 17 de Julho, todos os dirigentes e jogadores da secção de ténis do Belenenses apresentaram a demissão, numa decisão que “teve a ver com o estigma de “fascista” que as forças políticas dominantes colaram à modalidade” (p. 203), tradicionalmente praticada pelas elites.

sábado, 21 de abril de 2012

Assim, o Fanô não poderá voltar a roubá-las

Diário de Notícias, 18 de Abril de 1943

“Porto, 17 – Realizou-se ontem, no Tribunal Militar Territorial desta cidade, o julgamento do agente da Polícia de Vigilância e Defesa do Estado Leonel Laranjeira, acusado como autor da morte do Dr. António Carlos Ferreira Soares, caso ocorrido em 4 de Julho de 1942, no concelho de Vila da Feira. No decurso do julgamento ficou exuberantemente demonstrado que a vítima, além de condenado à revelia na pena de quatro anos de prisão, era um perigoso agente comunista internacional e ainda que o agente incriminado, depois de tentar prendê-lo, foi por ele agredido.
Na luta estabelecida entre ambos o agente da autoridade teria sido morto se não se defendesse a tiro. O promotor de justiça pôs em evidência que a acusação carecia de elementos para proceder.
O advogado do réu, sr. dr. Ângelo César, começou por exaltar o significado moral e político do julgamento, sublinhando a circunstância de um caso que legitimamente bem poderia ser arquivado em corpo de delito ter sido entregue á acção da Justiça. Classificou o julgamento como um facto honroso para a história da justiça do Estado Novo.
Relembrou, em evocação justa, o grande número de mártires da política portuguesa vitimados por agentes comunistas. Sobre os factos demonstrou que a acção do agente foi tão legítima como a do bombeiro que, para apagar um incêndio, tem de danificar e cortar a machado o que impedir a sua acção.
O Tribunal por unanimidade considerou legítimo e imposto pelas circunstâncias o procedimento do réu, que, por isso, foi absolvido.” (p. 5)

sábado, 14 de abril de 2012

O desejo concreto de bater e aleijar

Por sua vez, o espaço noticioso Jornal do Norte, exibido hoje no Porto Canal, terminou com uma peça sobre os eventos comemorativos do aniversário do 25 de Abril a realizar em Vila Nova de Gaia. No entanto, o rodapé da reportagem afirmava que o município gaiense iria celebrar “os 38 anos da Implantação da República”. O lapso sobre o significado da Revolução dos Cravos é mais grave por ocorrer no canal do FC Porto, que gosta de salientar o facto de ser o clube português com maior sucesso desportivo em democracia, deixando implícita a protecção da ditadura derrubada em 1974 aos emblemas da capital.

sábado, 7 de abril de 2012

Inteligente e astuto como um verdadeiro jesuíta

Num episódio da série documental Vitórias e Património exibido hoje na Benfica TV, foi abordada a preparação do clube para o ciclo olímpico com desfecho em Londres, onde o SLB espera incluir os seus atletas na comitiva portuguesa. Na abertura do programa, o narrador faz uma introdução ao tema dos Jogos Olímpicos, afirmando, sobre imagens de ruínas e esculturas gregas, que os Jogos terão surgido na Grécia em 776 a.C., no “período do Império”. Mais à frente, a narração constata que, com o declínio do “Império Grego” e “a ascensão do Romano”, os Jogos foram perdendo relevância até desaparecerem. A ideia repetida da existência de um “Império Grego” está errada, uma vez que a Grécia da Antiguidade se dividia em poleis, ou seja, estados independentes que ocupavam áreas correspondentes ao espaço de uma cidade. Só com a conquista da Grécia pelos Macedónios, no século IV a.C., a península helénica conheceu uma unificação política. Da mesma forma, os Jogos Olímpicos continuaram a realizar-se durante o período romano, terminando apenas em 393 d.C., já em fase de cristianização.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Tu és o Sucata, pá

Na introdução à colecção Uma História do Desporto em Portugal (Quidnovi, 2011), publicada no volume I (Corpo, Espaços e Média), os coordenadores José Neves e Nuno Domingos fazem, sobretudo nas notas ao texto, um resumo da bibliografia já publicada sobre o tema. Entre as obras de carácter geral referidas, encontra-se História do Futebol Português (Prime Books, 2010), cuja autoria é atribuída, por duas vezes, a “Ricardo Serrado e Pedro Serpa” (pp. 23-24). Trata-se de um lapso, pois Pedro Serpa (n. 1975) é um desenhador com trabalho na ilustração e BD, tendo sido autor, juntamente com o escritor David Soares, do álbum O Pequeno Deus Cego (Kingpin Books, 2011). Na bibliografia que encerra o primeiro volume da obra coordenada por Neves e Domingos, os nomes de ambos os autores de História do Futebol Português surgem grafados correctamente.