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quinta-feira, 26 de abril de 2012

Não precisava de bolsos porque não tinha dinheiro


O livro Clube de Futebol “Os Belenenses”, 90 Anos de História (Âncora, 2009), de José Ceitil, complementa obras de autores como Acácio Rosa, Homero Serpa e Ana Linheiro no registo da história do “Belém”. José Ceitil enumera os altos e baixos do percurso belenense ano a ano, traça perfis das principais figuras do CFB, recolhe depoimentos de ex-presidentes e atletas e conversa com “pastéis” famosos (curiosamente, não falou com Manuel Sérgio). 

Ao referir as mudanças trazidas pelo 25 de Abril, Ceitil manifesta azedume contra a intelectualidade de esquerda (“entes esclarecidos, quase todos canhotos”, p. 198) que, durante a ditadura, atribuía ao futebol um papel de alienação e incentivo à passividade dos portugueses, mantidos no marasmo pelo Estado Novo. Os intelectuais vanguardistas, para o autor, ainda não recuperaram da “rasteira que a história lhes pregou” com o derrube do regime à margem dos “manuais e cartilhas que indicavam o trilho que o povo, por eles rebocado, devia seguir até á tomada do poder” (p. 199).

Relativamente ao Belenenses, o 25 de Abril tornou intolerável que o Estádio Almirante Américo Thomaz (o nome do Presidente da República fora atribuído ao Estádio do Restelo em 1970, depois do CFB recuperar a gestão do recinto) mantivesse a sua designação, sendo então proposto o nome “Estádio da Liberdade”. No entanto, a Assembleia-Geral do clube reunida em 6 de Dezembro de 1974 aprovou o regresso definitivo a “Estádio do Restelo”, já depois, segundo Ceitil, do dirigente histórico Acácio Rosa receber uma carta de Tomás onde o almirante exilado no Brasil apelava à mudança de nome do estádio, considerando-a benéfica para o clube. Em texto publicado no jornal A Bola, Acácio Rosa realçou o carácter apolítico do “Belém” e a dedicação ao CFB de Américo Tomás, sócio desde 1924, ex-presidente da colectividade (exercera o cargo em 1944) e detentor da Medalha de Ouro Dedicação atribuída pelo clube. Ainda em 1974, a 17 de Julho, todos os dirigentes e jogadores da secção de ténis do Belenenses apresentaram a demissão, numa decisão que “teve a ver com o estigma de “fascista” que as forças políticas dominantes colaram à modalidade” (p. 203), tradicionalmente praticada pelas elites.

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