Encontrar algo útil no meio da tralha é parte essencial do trabalho de um historiador.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Diogo, faz o teu jogo


Uma edição recente que não deve passar despercebida é a do álbum O País dos Cágados (Bertrand, 2012), dos velhos António Gomes de Almeida e Artur Correia. Trata-se de “uma reedição muito aumentada e atualizada da obra primitiva que foi publicada em 1989” (p. 5), a qual, apesar da sua reduzida tiragem, adquiriu um estatuto de clássico dentro da BD portuguesa, estando presentes várias pranchas em antologias e exposições. O interesse dos leitores levou Almeida e Correia a modificar a versão original através da introdução da cor e do alargamento da história do “país dos cágados”, um “folhetim histórico-cómico” baseado nas peripécias do século XX português, igualmente abordadas pelos autores no segundo volume de História Alegre de Portugal (Bertrand, 2003). Assim, os cágados atravessam um período que começa com a subida de Salazar ao poder e termina nos “nossos dias” com José Sócrates, a troika e Pedro Passos Coelho.

Se a sátira é relativamente consensual ao mostrar a vida privada de António de Oliveira “Azar” ou a brutalidade da “BIDE-DCS” (embora existam nuances), acaba por se tornar polémica quando chega a um processo revolucionário cheio de tensões. A perspectiva (anticomunista) dos acontecimentos é próxima do PSD, com temáticas semelhantes às dos livros de Augusto Cid publicados nos anos 70. 

No que respeita ao tema da justiça política na transição para a democracia, Almeida e Correia mencionam os saneamentos, reivindicados na rua pelas forças de esquerda e vistos pelos autores como veículo para todo o tipo de oportunismos (pp. 44 e 47), além da fase de estabilização do novo regime em que “todos os que, de uma ou de outra banda, tinham sido corridos, saneados ou marginalizados, voltaram às suas vidas normais” (p. 66).

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