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quinta-feira, 10 de maio de 2012

É proibido assobiar em todas as prisões do País

Na sua autobiografia, Largos Dias Têm 100 Anos (Ideias & Rumos, 2004), Jorge Nuno Pinto da Costa, que sempre frisou o seu apartidarismo, refere vários políticos com quem contactou, entre os quais se destacam, pelo realce atribuído na obra, António Ramalho Eanes (o herói) e Rui Rio (o vilão). Se a antipatia de Pinto da Costa pelo presidente da Câmara do Porto persiste até hoje, o mesmo acontece com a estima do dirigente por Ramalho Eanes (uma das personalidades a quem é dedicado Largos Dias Têm 100 Anos). A origem dessa amizade é novamente referida nas declarações de Pinto da Costa à Dragões de Abril de 2012, a propósito dos 30 anos de presidência, com o líder portista a referir-se a Eanes como “o cidadão português que eu mais respeito e admiro”.

Ao tomar posse em Abril de 1982, a direcção presidida por Jorge Nuno encontra as finanças do FC Porto “numa situação altamente preocupante”. As dificuldades do clube em pagar as dívidas são agravadas por uma campanha contra os novos dirigentes que os descreve como comunistas (vários membros do elenco de Pinto da Costa possuem ligações ao PS e PCP) que teriam assaltado o poder no FCP. É nesta altura que Pinto da Costa é informado do interesse pela situação portista do Presidente da República, que “tinha acompanhado com muita simpatia a nossa luta” durante a campanha para a eleição dos órgãos gerentes do clube. Contra o que é habitual no seu exercício da Presidência, o general Eanes aceita receber em Belém os dirigentes do FC Porto. A audiência, que se prolonga por mais de uma hora, e a iniciativa do PR ao deslocar-se mais tarde ao Estádio das Antas para entregar uma condecoração à colectividade portuense, tiveram um impacto muito forte, inclusive devido ao prestígio nacional de Eanes. Segundo afirma Pinto da Costa à Dragões, “nessa altura o presidente não era como nos últimos tempos, era um presidente que realmente era o garante da democracia e da estabilidade”. Assim, o apoio do general contribuiu para melhorar a imagem da nova direcção portista, que passou a dispor de maiores facilidades, nomeadamente ao nível do crédito bancário. O FC Porto foi salvo e Eanes ganhou a gratidão eterna de Jorge Nuno. 

Ainda no depoimento concedido à revista do clube, o líder portista (fotografado com os seus cães no Palácio do Freixo) faz uma breve alusão aos problemas levantados pela Câmara do Porto durante a construção do Estádio do Dragão (“foi só aturar quem não contávamos ter de aturar, mas a nossa determinação venceu”) e não deixa de alfinetar o ministro das Finanças responsável pela penhora das Antas (“uma coisa que não gosto de ver é luzes acesas, porque não tenho nada que dar dinheiro a ganhar à EDP, ainda para mais agora, porque vai algum para o Catroga”).

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