Para o escritor e professor universitário Rui Zink, não deveriam ser as pessoas a ter medo dos carros, mas sim os carros a temer as pessoas. O combate à sinistralidade rodoviária é uma das (muitas) facetas do autor expostas em Luto pela Felicidade dos Portugueses (Planeta, 2012), compilação de crónicas escritas na sua maioria entre 2000 e 2005 para a revista SOS Saúde (já reunidas em livro em 2007, pela editora Quasi), a que se juntam textos posteriores. Para além da autopromoção que considera essencial a qualquer cronista, Zink procede nos seus artigos à dissecação do “ser português”, a estudos (baseados no saber de experiência feito) das relações entre homens e mulheres, a reflexões acerca de como enfrentar os traumas e dificuldades e à exposição de um pouco de todos os temas, recorrendo ao humor e provocação que resultam de uma maneira de estar na vida. A leveza aparente das crónicas de Zink proporciona uma agradável e estimulante conversa entre escritor e leitor (apenas através do papel, já que, por timidez, não fui capaz de dialogar oralmente com Zink na Feira do Livro).
Encontrar algo útil no meio da tralha é parte essencial do trabalho de um historiador.
domingo, 29 de julho de 2012
domingo, 22 de julho de 2012
Os valentes vestem de vermelho
No conjunto da bibliografia de José Hermano Saraiva (autor de muitos livros de divulgação histórica, além de obras de direito, memórias e breves incursões na ficção), tem passado relativamente despercebido um livro intitulado simplesmente História de Portugal publicado pela Europa-América em 1993 (4ª edição, 1995). A obra segue os temas e a estrutura do best-seller História Concisa de Portugal, mas possui acrescentos importantes em relação a este, particularmente no período de um século entre a ascensão ao poder do Marquês de Pombal (admirado por Saraiva e cujo retrato surge na capa de História de Portugal) e a estabilização da monarquia constitucional após a Regeneração, tal como nos capítulos relativos ao século XX. Saraiva apresenta ainda algumas imagens, uma cronologia e árvores genealógicas das dinastias reais portuguesas. Trata-se de uma síntese valiosa, inclusive como contraponto à de A.H. de Oliveira Marques.
Criticando posições radicais, de um lado e doutro, sobre a I República, José Hermano Saraiva escreve: “É, aliás, tendência geral, em relação aos períodos recentes da história, usar-se mais o sentimento que a aritmética e preferir-se a reacção emotiva, que vai da hipérbole pueril ao insulto primário, aos juízos baseados nos factos, isentos, serenos e informados.” (p. 503) Mais à frente, depois de referir a acção da polícia política e da censura durante o Estado Novo, o autor afirma: “Qualquer juízo global sobre este período histórico no seu conjunto depende em última análise do valor que se atribua aos conceitos de ordem e de liberdade. São conceitos cuja valoração está sujeita a contingências históricas, e neste caso verificou-se que a ordem foi o valor privilegiado durante as décadas de 30 e 40, porque se apresentava como condição essencial ao efectivo funcionamento do Estado, mas, uma vez atingido esse valor, a liberdade voltou a ser inscrita entre os objectivos que legitimam a própria existência do Estado.” (p. 526)
segunda-feira, 16 de julho de 2012
A Manuela terminou a corrida exausta
Basta (2002), de Michael Apted, é talvez o filme mais exibido na televisão generalista portuguesa (entre TVI e SIC) nos últimos dez anos. Jennifer Lopez interpreta em Basta uma mulher que foge ao marido violento e acaba por aprender a lutar e passar ao contra-ataque (o confronto final é das poucas partes interessantes, até pela sensualidade de Lopez como guerreira). O filme já terá sido exibido umas 350 vezes nas tardes e noites dos canais lusos. A frequência com que os programadores recorrem à obra de Apted revela a falta de qualidade e diversidade da oferta cinematográfica das estações generalistas, apertadas pela concorrência dos videoclubes e canais especializados do cabo. Excepto no Natal e Ano Novo, quando são exibidas as compras mais caras, RTP (com o caso especial do segundo canal), SIC e TVI não valorizam propriamente o cinema nem recorrem a filmes “antigos” que ainda possuam atractivos para os espectadores.
quinta-feira, 12 de julho de 2012
Fizemos o juramento do Batalhão Sagrado
O Sport de Lisboa, 27 de Março de 1926
“O crítico de A Capital, comentando o treino da selecção (contra o Benfica), efectuado na passada quinta-feira, expressa-se assim:
“… tendo agradado imenso o trabalho de Roquete, que esteve colossal.”
E mais abaixo:
“A linha avançada do Benfica não conseguiu apontar uma única bola às redes da selecção.”
Não conseguimos compreender, por mais voltas que demos ao miolo, como é que não tendo os avançados do Benfica apontado uma única bola às redes de Roquete, este jogador conseguiu estar colossal!
E ainda se diz que a agricultura luta com falta de braços!” (p. 5)
domingo, 8 de julho de 2012
Receando tornar-se louco como sua mãe
Viriato, D. Afonso Henriques, D. Dinis, D. João I, A Ínclita Geração, D. Henrique, Vasco da Gama e Luís de Camões (embora anunciado, não há certeza se este último fascículo chegou a ser posto à venda) foram os temas respectivos de cada número da revista de BD Herói, publicada no Porto a partir de Novembro de 1985. Dirigida por Francisco X. Castro e com desenho de Pedro Castro (no seu dicionário dos autores de BD em Portugal, publicado em 1999, Leonardo de Sá e António Dias de Deus relacionam Pedro Castro, além de Herói, apenas com o fanzine Espongiforme, de 1996), a revista dirigia-se sobretudo ao público infanto-juvenil, junto do qual pretendia divulgar a História portuguesa através de fascículos de 16 páginas a cores sobre algumas das suas figuras.
sexta-feira, 6 de julho de 2012
Beba a ginja e coma o copo
O nº 17 (primeiro semestre de 2011) da revista maçónica Grémio Lusitano inclui o artigo “Cândido de Oliveira: Homem do desporto, democrata e maçon”, cujo autor, de nome simbólico “Emílio Costa” e pertencente à Loja Bomtempo do Grande Oriente Lusitano, traça um breve perfil de Cândido nas várias áreas de actuação (futebolista, treinador, escritor, jornalista desportivo, funcionário dos Correios, antifascista) do casapiano. O aspecto mais inovador do artigo é a revelação de que Cândido de Oliveira foi maçon e a narração do seu breve percurso no GOL (o texto original segue a nova ortografia):
“ (…) Cândido de Oliveira foi iniciado na Loja “Luz e Liberdade” nº 393, de Braga, em 1 de Dezembro de 1930, quando era Chefe dos Correios naquela cidade, com o nome simbólico de “Sócrates”. Foi elevado a Companheiro a 14 de Julho de 1931 e a Mestre a 30 de Setembro do mesmo ano. Foi-lhe passado atestado de quite em 31 de Dezembro de 1933, por a Loja ter cessado os seus trabalhos.” (p. 113)
segunda-feira, 2 de julho de 2012
Espera-nos o êxtase
O Sport de Lisboa, 1 de Abril de 1925
“Sport Lisboa e Benfica
Na próxima 5ª feira, realiza-se em Benfica, pelas 16 horas, um treino do grupo de Rugby, do Benfica. Devem comparecer: Alberto Freitas, Vítor Hugo, Agostinho, José Bento, Benjamim Araújo, Pedro Gomes, Xavier de Araújo, Correia Leal, Manuel Grilo, Ilídio Nogueira, Abel Renato Carvalho, Abril Júnior, José Vilela, Ribeiro dos Reis, Alfredo Oliveira, Artur Travassos, José Travassos, Aniceto e Raul Oliveira.” (p. 4)
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