No conjunto da bibliografia de José Hermano Saraiva (autor de muitos livros de divulgação histórica, além de obras de direito, memórias e breves incursões na ficção), tem passado relativamente despercebido um livro intitulado simplesmente História de Portugal publicado pela Europa-América em 1993 (4ª edição, 1995). A obra segue os temas e a estrutura do best-seller História Concisa de Portugal, mas possui acrescentos importantes em relação a este, particularmente no período de um século entre a ascensão ao poder do Marquês de Pombal (admirado por Saraiva e cujo retrato surge na capa de História de Portugal) e a estabilização da monarquia constitucional após a Regeneração, tal como nos capítulos relativos ao século XX. Saraiva apresenta ainda algumas imagens, uma cronologia e árvores genealógicas das dinastias reais portuguesas. Trata-se de uma síntese valiosa, inclusive como contraponto à de A.H. de Oliveira Marques.
Criticando posições radicais, de um lado e doutro, sobre a I República, José Hermano Saraiva escreve: “É, aliás, tendência geral, em relação aos períodos recentes da história, usar-se mais o sentimento que a aritmética e preferir-se a reacção emotiva, que vai da hipérbole pueril ao insulto primário, aos juízos baseados nos factos, isentos, serenos e informados.” (p. 503) Mais à frente, depois de referir a acção da polícia política e da censura durante o Estado Novo, o autor afirma: “Qualquer juízo global sobre este período histórico no seu conjunto depende em última análise do valor que se atribua aos conceitos de ordem e de liberdade. São conceitos cuja valoração está sujeita a contingências históricas, e neste caso verificou-se que a ordem foi o valor privilegiado durante as décadas de 30 e 40, porque se apresentava como condição essencial ao efectivo funcionamento do Estado, mas, uma vez atingido esse valor, a liberdade voltou a ser inscrita entre os objectivos que legitimam a própria existência do Estado.” (p. 526)
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