Encontrar algo útil no meio da tralha é parte essencial do trabalho de um historiador.

domingo, 22 de julho de 2012

Os valentes vestem de vermelho


No conjunto da bibliografia de José Hermano Saraiva (autor de muitos livros de divulgação histórica, além de obras de direito, memórias e breves incursões na ficção), tem passado relativamente despercebido um livro intitulado simplesmente História de Portugal publicado pela Europa-América em 1993 (4ª edição, 1995). A obra segue os temas e a estrutura do best-seller História Concisa de Portugal, mas possui acrescentos importantes em relação a este, particularmente no período de um século entre a ascensão ao poder do Marquês de Pombal (admirado por Saraiva e cujo retrato surge na capa de História de Portugal) e a estabilização da monarquia constitucional após a Regeneração, tal como nos capítulos relativos ao século XX. Saraiva apresenta ainda algumas imagens, uma cronologia e árvores genealógicas das dinastias reais portuguesas. Trata-se de uma síntese valiosa, inclusive como contraponto à de A.H. de Oliveira Marques. 

Criticando posições radicais, de um lado e doutro, sobre a I República, José Hermano Saraiva escreve: “É, aliás, tendência geral, em relação aos períodos recentes da história, usar-se mais o sentimento que a aritmética e preferir-se a reacção emotiva, que vai da hipérbole pueril ao insulto primário, aos juízos baseados nos factos, isentos, serenos e informados.” (p. 503) Mais à frente, depois de referir a acção da polícia política e da censura durante o Estado Novo, o autor afirma: “Qualquer juízo global sobre este período histórico no seu conjunto depende em última análise do valor que se atribua aos conceitos de ordem e de liberdade. São conceitos cuja valoração está sujeita a contingências históricas, e neste caso verificou-se que a ordem foi o valor privilegiado durante as décadas de 30 e 40, porque se apresentava como condição essencial ao efectivo funcionamento do Estado, mas, uma vez atingido esse valor, a liberdade voltou a ser inscrita entre os objectivos que legitimam a própria existência do Estado.” (p. 526)


Sem comentários:

Enviar um comentário