Em entrevista ao Diário de Notícias publicada a 17 de
Dezembro, o jornalista Luís Miguel Pereira recorda que “Quando ia a Inglaterra,
sobretudo em reportagem, apercebia-me de que havia um mercado imenso de livros
de futebol e fazia-me um pouco de confusão não existir esse mercado em
Portugal, à sua dimensão.” (p. 50) Compreendendo a lacuna, Pereira produziu em
2002 livros sobre Jardel e Laszlo Bölöni, assim como um Dicionário do Futebol (edições da Booktree), que tiveram grande
sucesso e abriram um mercado por explorar. No ano seguinte, Estórias d’Alvalade, uma recolha de
depoimentos organizada por Pereira sobre o estádio sportinguista inaugurado em
1956, foi a primeira obra publicada pela Prime Books, a editora que acolheria
os livros seguintes do jornalista da SportTV. Até hoje (o mais recente, Missão Benfica, sobre a presidência de
Luís Filipe Vieira, foi posto à venda no mês passado), Luís Miguel Pereira
lançou em Portugal 25 livros, a que se somam as obras editadas em Espanha,
Brasil, Inglaterra, Coreia do Sul, Japão e Polónia.
Embora quantidade
não seja o mesmo que qualidade, a descoberta por Luís Miguel Pereira do filão
inexplorado em Portugal dos livros sobre futebol (antes de 2002, obras do
género, além de manuais técnicos, eram lançadas esporadicamente, mas os editores
ainda não se tinham apercebido do potencial comercial do tema) abriu portas a
uma ampla actividade editorial. A Prime Books e outras chancelas (Quidnovi,
Zebra, Casa das Letras, Oficina do Livro, Livros d’Hoje, etc.), estimuladas por
fenómenos mediáticos como Cristiano Ronaldo e José Mourinho, publicaram muitas
obras de análise do beautiful game,
escritas sobretudo por jornalistas. No entanto, o interesse comprovado do
público pelos livros sobre futebol favoreceu o aparecimento e publicação de investigação
académica acerca da história e sociologia do desporto-rei, com os consequentes
avanços no estudo deste.
Voltando a Luís
Miguel Pereira, além dos seus trabalhos jornalísticos dedicados a treinadores e
futebolistas (curiosamente, na entrevista atrás citada, Pereira afirma manter
algum distanciamento nas relações pessoais com os protagonistas do futebol, em
parte devido às reservas destes, o que contrasta com o caso de outro jornalista
desportivo, João Malheiro), criou conceitos editoriais de sucesso como a série Caretas (em colaboração com os
cartoonistas Ricardo Galvão, Carlos Laranjeira e Pedro Ribeiro Ferreira) e as Bíblias, onde aos “grandes” portugueses
se seguiram clubes e selecções de Brasil e Espanha, com Pereira a desenvolver
compilações de factos desportivos especificamente direccionadas a esses
mercados. O reconhecimento obtido levou o jornalista ao Programa do Jô, numa projecção mediática que Pereira se queixa de
não receber nos media portugueses.
Independentemente da apreciação dos seus pares, Luís Miguel Pereira soma êxitos
de vendas e contribui para enriquecer a agora vasta bibliografia portuguesa
sobre futebol e desporto em geral.