Encontrar algo útil no meio da tralha é parte essencial do trabalho de um historiador.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

As feministas são o contrário dos touros



A propósito das listas de discos e filmes sobre o fim do mundo feitas há poucos dias, cumpre lembrar o cenário apocalíptico traçado em 10.000 Anos Depois Entre Vénus e Marte (1978), o célebre álbum de rock progressivo de José Cid. Nas duas primeiras faixas do trabalho, O Último Dia na Terra e O Caos, as letras falam de “guerras nucleares, poluição” como causas de uma situação em que, sem ar nem luz, “o planeta Terra já não pode mais viver”. A inacção das pessoas perante o desastre que se avizinhava (“não se ouviu um grito, não se fez um gesto”) levou à destruição do planeta, do qual poucos conseguem fugir em naves para o espaço. Só 10 mil anos depois a Terra voltará a ser habitável, permitindo “recomeçar outra civilização”.

O fim e recomeço do mundo imaginados por José Cid integram um álbum espantoso que, apesar do escasso êxito comercial em 1978, veio a ser reconhecido pelos apreciadores de rock progressivo a nível internacional. Nos espectáculos, Cid e a sua banda interpretam por vezes Mellotron, o Planeta Fantástico, a quarta faixa de 10.000 Anos… O estatuto de culto obtido pelo disco leva a que os fãs de Cid reclamem frequentemente um regresso do músico ao rock progressivo, em que não se voltou a aventurar depois dos anos 70. Na verdade, o cantor ribatejano já anunciou várias vezes um projecto no género sinfónico intitulado Vozes do Além, no qual, com outros músicos, Cid trataria o tema da vida para além da morte e da reencarnação, a partir de poemas de Natália Correia e Sophia de Mello Breyner Andresen. Um Dia, escrito por esta última, foi musicado, como balada, por Cid no CD Quem Tem Medo de Baladas (2011). No entanto, o anunciado Vozes do Além continua por concretizar, impondo-se para já na agenda de Cid o álbum actualmente em gravação Menino Prodígio. Sem querer criticar os últimos discos gravados por José Cid, quando acontecerá o tão esperado regresso ao rock progressivo?

Entretanto, também em registos mais alternativos, não deve ser esquecido o segundo LP do Quarteto 1111, datado de 1975 e chamado Onde, Quando, Como, Porquê, Cantamos Pessoas Vivas (editado no formato CD em 2008). Essa “Obra-Ensaio de José Cid”, dividida nas partes mencionadas no título, reflecte o ambiente de esperança vivido nos primeiros meses depois do 25 de Abril, além de possuir acentuada qualidade poética e, na opinião do compositor, ser mais original relativamente ao que se fazia lá fora que 10.000 Anos Entre Vénus e Marte. Por sua vez, o EP de José Cid Vida (Sons do Quotidiano), de 1977, permanece inédito em CD.

1 comentário:

  1. Acho sempre interessante quando alguém menciona a obra progressiva do José Cid, sobretudo a mais esquecida, como é o caso do «Vida(Sons do Quotidiano» e do «Cantamos Pessoas Vivas». Estou em condições de dizer que o tal álbum «Vozes do Além» está todo composto, pronto a ser gravado. O problema é que nos últimos anos, o José Cid tem estado sempre na ribalta (ainda bem para ele), aproveitando assim para editar trabalhos mais comerciais em detrimento deste projecto menos mediático à partida. O tempo não dá para tudo. Está nas mãos do José Cid arranjar tempo para dar corpo a este esperado disco.

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