A propósito das
listas de discos e filmes sobre o fim do mundo feitas há poucos dias, cumpre
lembrar o cenário apocalíptico traçado em 10.000
Anos Depois Entre Vénus e Marte (1978), o célebre álbum de rock progressivo
de José Cid. Nas duas primeiras faixas do trabalho, O Último Dia na Terra e O
Caos, as letras falam de “guerras nucleares, poluição” como causas de uma
situação em que, sem ar nem luz, “o planeta Terra já não pode mais viver”. A inacção
das pessoas perante o desastre que se avizinhava (“não se ouviu um grito, não
se fez um gesto”) levou à destruição do planeta, do qual poucos conseguem fugir
em naves para o espaço. Só 10 mil anos depois a Terra voltará a ser habitável,
permitindo “recomeçar outra civilização”.
O fim e recomeço do
mundo imaginados por José Cid integram um álbum espantoso que, apesar do
escasso êxito comercial em 1978, veio a ser reconhecido pelos apreciadores de
rock progressivo a nível internacional. Nos espectáculos, Cid e a sua banda
interpretam por vezes Mellotron, o
Planeta Fantástico, a quarta faixa de 10.000
Anos… O estatuto de culto obtido pelo disco leva a que os fãs de Cid
reclamem frequentemente um regresso do músico ao rock progressivo, em que não
se voltou a aventurar depois dos anos 70. Na verdade, o cantor ribatejano já
anunciou várias vezes um projecto no género sinfónico intitulado Vozes do Além, no qual, com outros
músicos, Cid trataria o tema da vida para além da morte e da reencarnação, a
partir de poemas de Natália Correia e Sophia de Mello Breyner Andresen. Um Dia, escrito por esta última, foi
musicado, como balada, por Cid no CD Quem
Tem Medo de Baladas (2011). No entanto, o anunciado Vozes do Além continua por concretizar, impondo-se para já na
agenda de Cid o álbum actualmente em gravação Menino Prodígio. Sem querer criticar os últimos discos gravados por
José Cid, quando acontecerá o tão esperado regresso ao rock progressivo?
Entretanto, também
em registos mais alternativos, não deve ser esquecido o segundo LP do Quarteto
1111, datado de 1975 e chamado Onde,
Quando, Como, Porquê, Cantamos Pessoas Vivas (editado no formato CD em
2008). Essa “Obra-Ensaio de José Cid”, dividida nas partes mencionadas no
título, reflecte o ambiente de esperança vivido nos primeiros meses depois do
25 de Abril, além de possuir acentuada qualidade poética e, na opinião do
compositor, ser mais original relativamente ao que se fazia lá fora que 10.000 Anos Entre Vénus e Marte. Por sua
vez, o EP de José Cid Vida (Sons do Quotidiano), de 1977, permanece
inédito em CD.
Acho sempre interessante quando alguém menciona a obra progressiva do José Cid, sobretudo a mais esquecida, como é o caso do «Vida(Sons do Quotidiano» e do «Cantamos Pessoas Vivas». Estou em condições de dizer que o tal álbum «Vozes do Além» está todo composto, pronto a ser gravado. O problema é que nos últimos anos, o José Cid tem estado sempre na ribalta (ainda bem para ele), aproveitando assim para editar trabalhos mais comerciais em detrimento deste projecto menos mediático à partida. O tempo não dá para tudo. Está nas mãos do José Cid arranjar tempo para dar corpo a este esperado disco.
ResponderEliminar