Encontrar algo útil no meio da tralha é parte essencial do trabalho de um historiador.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Um político que promete corrupção



Em entrevista ao Diário de Notícias publicada a 17 de Dezembro, o jornalista Luís Miguel Pereira recorda que “Quando ia a Inglaterra, sobretudo em reportagem, apercebia-me de que havia um mercado imenso de livros de futebol e fazia-me um pouco de confusão não existir esse mercado em Portugal, à sua dimensão.” (p. 50) Compreendendo a lacuna, Pereira produziu em 2002 livros sobre Jardel e Laszlo Bölöni, assim como um Dicionário do Futebol (edições da Booktree), que tiveram grande sucesso e abriram um mercado por explorar. No ano seguinte, Estórias d’Alvalade, uma recolha de depoimentos organizada por Pereira sobre o estádio sportinguista inaugurado em 1956, foi a primeira obra publicada pela Prime Books, a editora que acolheria os livros seguintes do jornalista da SportTV. Até hoje (o mais recente, Missão Benfica, sobre a presidência de Luís Filipe Vieira, foi posto à venda no mês passado), Luís Miguel Pereira lançou em Portugal 25 livros, a que se somam as obras editadas em Espanha, Brasil, Inglaterra, Coreia do Sul, Japão e Polónia. 

Embora quantidade não seja o mesmo que qualidade, a descoberta por Luís Miguel Pereira do filão inexplorado em Portugal dos livros sobre futebol (antes de 2002, obras do género, além de manuais técnicos, eram lançadas esporadicamente, mas os editores ainda não se tinham apercebido do potencial comercial do tema) abriu portas a uma ampla actividade editorial. A Prime Books e outras chancelas (Quidnovi, Zebra, Casa das Letras, Oficina do Livro, Livros d’Hoje, etc.), estimuladas por fenómenos mediáticos como Cristiano Ronaldo e José Mourinho, publicaram muitas obras de análise do beautiful game, escritas sobretudo por jornalistas. No entanto, o interesse comprovado do público pelos livros sobre futebol favoreceu o aparecimento e publicação de investigação académica acerca da história e sociologia do desporto-rei, com os consequentes avanços no estudo deste.

Voltando a Luís Miguel Pereira, além dos seus trabalhos jornalísticos dedicados a treinadores e futebolistas (curiosamente, na entrevista atrás citada, Pereira afirma manter algum distanciamento nas relações pessoais com os protagonistas do futebol, em parte devido às reservas destes, o que contrasta com o caso de outro jornalista desportivo, João Malheiro), criou conceitos editoriais de sucesso como a série Caretas (em colaboração com os cartoonistas Ricardo Galvão, Carlos Laranjeira e Pedro Ribeiro Ferreira) e as Bíblias, onde aos “grandes” portugueses se seguiram clubes e selecções de Brasil e Espanha, com Pereira a desenvolver compilações de factos desportivos especificamente direccionadas a esses mercados. O reconhecimento obtido levou o jornalista ao Programa do Jô, numa projecção mediática que Pereira se queixa de não receber nos media portugueses. Independentemente da apreciação dos seus pares, Luís Miguel Pereira soma êxitos de vendas e contribui para enriquecer a agora vasta bibliografia portuguesa sobre futebol e desporto em geral.

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