Na rubrica “As férias da minha vida” da Visão de 19 de Julho de 2007, o deputado do PSD Miguel Relvas
assina o seguinte texto:
“Brasil, 2000
As minhas férias maravilha foram passadas no Brasil, há sete
anos – faz em Agosto -, com a minha mulher e filha (...). Passámos dois dias em
Salvador da Baía, a fazer um roteiro de turismo cultural e depois fomos
descansar para um resort na Ilha de Comandatuba (Ilhéus), onde se podia fazer
quase tudo. Havia ginásio, actividades na piscina, de hora a hora, sauna, motas
de água, até uma pista de aviação havia na ilha. Tinha uma das paisagens mais
bonitas que já vi. Deu para “giboiar” (brasileirismo para descansar), olhar
para o céu, passar a tarde a dormir nas redes suspensas, ler. Foram umas férias
dedicadas a Eça de Queirós. Li a tese de doutoramento da Maria Filomena Mónica
sobre Eça e o Dicionário Gastroeconómico
(sic) Cultural de Eça de Queirós, do
Dário Castro Alves. Não voltei mais à ilha. Sempre ouvi dizer que o segundo
prato de sopa nunca sabe tão bem como o primeiro e que nunca se é feliz duas
vezes no mesmo lugar.” (p. 38)
Miguel Relvas manifestava já uma forte ligação sentimental ao
Brasil, recentemente realçada pelo cargo que assumiu. No entanto, a referência
do então deputado às duas obras sobre Eça de Queirós que leu em Ilhéus (os
livros de Mónica e Castro Alves integram esta lista bibliográfica sobre Eça)
provoca dúvidas. Maria Filomena Mónica doutorou-se em Sociologia pela Universidade
de Oxford, através de uma tese com o título português Educação e Sociedade no Portugal de Salazar (Presença, 1978), e a sua
biografia de Eça de Queirós foi publicada pela primeira vez em 2001, um ano
depois das férias paradisíacas de Relvas na ilha de Comandatuba (em 2000, de resto, foi oficialmente assinalado o centenário da morte de Eça). O título
correcto do trabalho (em dois volumes) referido do embaixador Dário Moreira Castro
Alves é Era Tormes e Amanhecia. Dicionário Gastronómico Cultural de Eça de Queirós (Livros do
Brasil, 1992). A gralha existente no depoimento de Relvas é, curiosamente,
idêntica à da ficha do livro na livraria online Wook. Houve, decerto, algum
lapso por parte da Visão ou do futuro
ministro.
Ou então, Relvas mentiu em 2007 para dar uma imagem de si mesmo diferente da realidade. Mas isso é pouco provável.
Sem comentários:
Enviar um comentário