Encontrar algo útil no meio da tralha é parte essencial do trabalho de um historiador.

sábado, 30 de julho de 2011

O seu governo foi uma calamidade

O jornalista Rui Miguel Tovar lançou 366 Histórias de Futebol (Livro do Dia, 2011), um livro que associa a cada dia do ano um episódio da história do futebol (sobretudo) português, permitindo uma divertida e instrutiva viagem pelo passado da modalidade e dos seus intervenientes, sem se limitar aos acontecimentos mais óbvios. 

No entanto, Tovar comete um lapso na entrada de 26 de Janeiro (de 1947), data em que se realizou uma partida Portugal-Espanha com a vitória da equipa da casa: “Num Portugal-Espanha, três jogadores do Belenenses, treinado então por Cândido de Oliveira, que é também o seleccionador nacional, ainda mal refeito da deportação no Tarrafal, não fazem a saudação (fascista)” (p. 21). Foi, de facto, num desafio entre o Portugal de Salazar e a Espanha de Franco que ocorreu o caso dos “punhos cerrados”, mas tal ocorreu em 30 de Janeiro de 1938, ainda durante a guerra civil espanhola (ver História do Futebol Português, vol. I, pp. 232-233). Em 1947, Cândido de Oliveira não era o seleccionador nacional, cujas funções eram desempenhadas por Tavares da Silva. De resto, a saudação fascista desapareceu do quotidiano português após a vitória dos Aliados na II Guerra Mundial. Outras falhas do livro são menos relevantes, resultando de erros de revisão (o título da obra presente na lombada é 366 História de Futebol, enquanto no rodapé passa a 365 História de Futebol). Por exemplo, o Real Madrid não chegou à final da Taça dos Campeões Europeus em 1964/65, ao contrário do que se refere na p. 200: foi nessa época que “o Vale dos Caídos mudou-se para Lisboa” (o polémico título do Mundo Desportivo) e o Benfica, depois de eliminar os madrilenos, foi derrotado pelo Inter de Milão em casa deste.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Até fico com os tomates azedos

Seara Nova, nº 1716, Verão de 2011

António Catita: “ (…) Tal como no tempo do Império Romano e dos seus circos, dá-se presentemente aos povos espectáculos embrutecedores e alienantes, como o futebol, passatempos televisivos absolutamente frívolos, distracções nocturnas pela noite dentro (com bebidas e sexo), cinema emotivo e violento, sem conteúdo de qualquer valor, e que, no conjunto, afastam muitos jovens de actividades sãs, positivas, culturais, mais viradas para o enriquecimento da mente e do corpo. (…)” (p. 44)

sábado, 23 de julho de 2011

Café, café, preciso de ti

O livro Regras de Futebol de Cinco (Serviço de Publicações da Mocidade Portuguesa, 1968), da autoria de José Guerreiro Correia, inspector dos Serviços de Educação Física da MP, surge numa altura em que a variante do futebol actualmente conhecida por futsal é ainda uma novidade em Portugal, proliferando os torneios particulares antes da regulamentação e oficialização da modalidade pela FPF. No entanto, as normas definidas por Guerreiro Correia não encaram o futebol de cinco como um desporto em si mesmo, mas apenas como futebol de 11 em terreno reduzido, que exige menos condições e equipamentos. Os recintos de “handebol de 7”, já “em número considerável” (p. 11), seriam utilizados para a iniciação das crianças em idade escolar (as regras destinam-se essencialmente aos escalões de infantis e iniciados) no futebol. As faltas dos jogadores deveriam ser punidas com pontapés livres ou de grande penalidade (neste caso, “Qualquer das equipas pode ser punida com grande penalidade, independentemente do local onde tenha sido cometida a falta, se esta for julgada, pelo árbitro, suficientemente grave para o efeito”, p. 27), na cobrança dos quais o jovem futebolista não poderia tomar um balanço superior a 3 metros.

Na introdução, o autor refere que muitos professores de Educação Física resistem a ensinar aos alunos futebol, devido ao medo das características desse desporto de massas profissionalizado. Contudo, Guerreiro Correia considera que a atracção das crianças pelo “fenómeno social dos nossos dias” que é o futebol pode ser aproveitada para lhes incutir “uma perspectiva de desporto mais válida” (p. 6). Os primeiros pontapés na bola serviriam não para detectar novos talentos mas para difundir entre os alunos um “excelente meio de educação” (p. 7). O futebol de cinco, praticável nas escolas devido às dimensões reduzidas do seu terreno de jogo, constituiria uma fase de transição para o futebol de 11.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

I kill myself if Portugal doesn't win

O Diabo, 16 de Janeiro de 1979

“No parolo convencimento da utilidade táctica de acorrer em defesa do desastrado cineasta Manuel (sic) de Oliveira (relativamente ao qual se não vislumbrou nenhuma discussão de feição ideológica), um tal Pedro Garcia Rosado veio à estacada no “diário” da manhã. Das duas colunas de sandices ali arquivadas, extractamos este suculento meio parágrafo:
Amor de Perdição não é, pensamos, o cinema popular que reflicta a luta da classe operária e das massas populares em Portugal, não é uma interpretação ideologicamente justa da realidade e da luta de classes, poderá não ter que ver (eis, no entanto, assunto para discussão) com certa tradição do discurso cinematográfico, que tem em Eisenstein, ainda, o seu marco central. Mas é algo que importa discutir…”
O que Camilo faria de um tratante deste jaez! E será possível que Manuel de Oliveira não tenha estoirado às gargalhadas? Estes comunistas de palmo e meio com que Deus nos castigou…”

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Diga-se o que se disser, agora pode dizer-se

A Bola, 28 de Maio de 1934

“Diz-se que Orlando Serra, nadador que deixara o Belenenses pelo Algés e Dafundo, voltou de novo ao seu antigo club. Uma boa nova para os azuis? E parece que Cupido anda metido no caso…”

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Sê um cidadão activo, informado e interveniente

A Bola, 16 de Outubro de 1933

“Adolf Hitler, chanceler do Reich, na recente visita que fez ao curso preparatório dado a 570 jovens, no Stadium de Grunewald, achou insuficientes os planos de construção do Stadium Olímpico.
Ele terá que ser ainda muito mais gigantesco.”

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Meu Deus, aquilo pega-se?

A Bola, 13 de Março de 1933

“O Club Radiofónico de Portugal inaugurou ontem a sua secção desportiva, que fica a cargo do nosso querido director, Tavares da Silva. O nosso director transmitiu ontem ao público as suas impressões sobre o Porto-Lisboa, fazendo uma pequena crónica com as notas mais sugestivas do grande encontro disputado entre jogadores das duas cidades.”  

terça-feira, 12 de julho de 2011

Mulher que ama mulher sabe bem o que quer

Seguem-se as frases finais das Mensagens de Ano Novo dirigidas por Américo Tomás aos portugueses, ao longo do seu primeiro mandato como Presidente da República (1958-1965), de acordo com a compilação de discursos Sete Anos na Chefia do Estado (Secretariado Nacional da Informação, 1965):

1959: “O génio lusíada levou-nos a toda a parte e em quase toda a terra moureja ainda a nossa gente; a todos no começo deste ano desejo, por igual, as maiores felicidades – por todos, neste dia, dirijo a Deus as mesmas preces.”
1960: “Deus leve a todos os lares onde palpitam corações portugueses a tranquila felicidade que o Chefe do Estado, indistintamente e por igual, a todos deseja.”
1961: “Que todos os lares portugueses possam sentir-se felizes nesta quadra festiva e gozem da maior paz neste novo ano, são os votos que o Chefe do Estado fervorosamente formula por dever do cargo e, sobretudo, por imperativo do coração.”
1962: “Por mais amargurada que a alma se sinta, nunca deve descrer do poder de Deus. E n’Ele deposito as minhas maiores esperanças, de melhores dias para Portugal.”
1963: “Com fé removem-se montanhas e há que confiar, com fé, no triunfo final do Bem sobre o Mal. Tenhamos também nós esperança, neste dia que enche de esperança quase toda a humanidade.”
1964: “Confio em que virão melhores dias para Portugal, neste novo ano de 1964. Portugal, País missionário, como talvez nenhum outro, bem merece a protecção divina. E ela não lhe faltará.”
1965: “E esse pouco, que é muito, que é tudo, consiste em rogar fervorosamente a Deus, nesta alvorada dum novo ano, que dê a merecida Paz a Portugal e inunde de luz, de vida e de felicidade todos os lares portugueses.”

domingo, 10 de julho de 2011

Há histórias aos quadradinhos formidáveis

O terceiro filme de Richard Kelly, Presente de Morte (talvez The Box não tenha sido traduzido para A Caixa devido ao filme de Manoel de Oliveira com esse título), parte de uma premissa semelhante à do livro O Mandarim, de Eça de Queirós (a possibilidade de matar um desconhecido através de um simples gesto e assim receber uma fortuna), mas não chega a explorar convenientemente a questão dos remorsos posteriores ao acto consumado. A história prossegue um caminho de bizarria e mistério, já nosso conhecido do filme de 2001 que catapultou Kelly para a fama, e chega a intrigar pela incerteza sobre o que virá a seguir. Mais ou menos a partir da canção Fearless, dos Pink Floyd, a falta de nexo e o surrealismo das cenas atingem um ponto que destrói qualquer interesse. Salva-se a presença (e a voz) inquietante de Frank Langella, enquanto Cameron Diaz e James Marsden não passam do razoável. Em relação a Donnie Darko, Kelly manteve a capacidade de surpreender o espectador, mas as de atrair, estimular e questionar ficaram pelo caminho. 

P.S. A Junta de Freguesia de Odivelas anunciou a realização das Festas da Cidade (indicando mesmo vários nomes de artistas), mas, logo a seguir, um comunicado lacónico revelou que este ano nada acontecerá no recinto da Feira do Silvado, onde as estruturas tinham já começado a ser montadas. Soube-se depois que o cancelamento foi provocado por irregularidades cometidas pela Junta na escolha da empresa à qual foi atribuída a organização do evento. A JFO também divulgou que a mensal Feira de Antiguidades e Velharias ocorreria hoje junto ao Rio da Costa, sem que nada viesse a aparecer na área indicada. Começa a ser definido aqui um padrão.

terça-feira, 5 de julho de 2011

As democracias não temem o terrorismo

Ninguém me convidou mas eu queria entrar:

1 - Existe um livro que lerias e relerias várias vezes?
Costumo arrumar o livro na estante e passar ao próximo (um livro não precisa de tanto carinho e atenção como um CD). No entanto, os cartoons de Quino podem ser lidos muitas vezes.  

2 - Existe algum livro que começaste a ler, paraste, recomeçaste, tentaste e tentaste e nunca conseguiste ler até ao fim?
Balada da Praia dos Cães, de José Cardoso Pires.

3 - Se escolhesses um livro para ler para o resto da tua vida, qual seria ele?
Almanaque do FC Porto, de Rui Miguel Tovar. 

4 - Que livro gostarias de ter lido mas que, por algum motivo, nunca leste?
D. Manuel I, de João Paulo Oliveira e Costa.
5- Que livro leste cuja 'cena final' jamais conseguiste esquecer?
1984, de George Orwell.

6- Tinhas o hábito de ler quando eras criança? Se lias, qual era o tipo de leitura?
A minha formação intelectual residiu sobretudo nas revistas de BD da Disney e da Turma da Mónica. Entre 1992 e 1994, li com frequência os jornais A Bola, Record e Gazeta dos Desportos. Depois vieram os álbuns do Astérix e do Tintim, as tiras da Mafalda e os livros de Alice Vieira, Ana Maria Magalhães/Isabel Alçada e Maria Teresa Maia Gonzalez.

7. Qual o livro que achaste chato mas ainda assim leste até ao fim? Porquê?
Tive de ler vários assim quando estudava na FCSH-UNL.

8. Indica alguns dos teus livros preferidos.
Os Maias (Eça de Queirós), Explorando a Lua (Hergé), Astérix e os Godos (René Goscinny/Albert Uderzo), Explicação dos Pássaros (António Lobo Antunes), Memorial do Convento (José Saramago), Cem Anos de Solidão (Gabriel Garcia Marquez), As 3 Vidas (João Tordo), Glória (Vasco Pulido Valente), “El Portugués” (Paulo Futre e Luís Aguilar), Conquistadores de Almas (José Luís Pinto de Sá), O Triunfo dos Porcos (George Orwell), Peregrinação (Fernão Mendes Pinto), O Suplente (Rui Zink), Gabriela, Cravo e Canela (Jorge Amado), Auto da Índia (Gil Vicente), etc.

9. Que livro estás a ler neste momento?
O Homem do Turbante Verde, de Mário de Carvalho.

domingo, 3 de julho de 2011

Se o Futre tá em campo, é golo

A revista Notícias Magazine de hoje apresenta uma entrevista a Leila Marques, médica, ex-nadadora de alta competição e presidente da Federação Portuguesa de Desporto para Pessoas com Deficiência. Numa breve conversa, Leila fala do seu percurso pessoal, tal como dos actuais objectivos e dificuldades da FPDD e do desporto adaptado, ainda prejudicado pelas mentalidades vigentes em Portugal. A propósito, aproveito para agradecer aqui o apoio que Leila Marques e a FPDD generosamente concederam ao CHFD, cedendo vários livros sobre as participações portuguesas nos Jogos Paralímpicos.

O crocodilo está debaixo da nossa cama

Dragões, Outubro de 1992

Luís Gonçalves: “ (…) Após esta inesperada derrota, a equipa (do FC Porto) soube manter o antídoto para tal anormalidade e, no jogo seguinte, com o vizinho Salgueiros, a exibição e o resultado (4-1) foram de molde a tranquilizar todos os adeptos azuis e brancos. Foi bonito de ver que, dos onze jogadores que começaram este encontro, dez são produto das nossas escolas. O trabalho realizado pelo Departamento de Futebol Juvenil tem dado os seus frutos e a sua rentabilidade é, pois, um facto, o que deve merecer os maiores elogios de todos nós. Há nesta Clube uma boa organização que leva a que se possam colher os maiores dividendos da política seguida nas camadas jovens. O diálogo existente entre o futebol sénior e o futebol mais jovem é uma realidade, o que traduz a mística do dragão. Só assim é possível manter uma estrutura sólida e um forte espírito de grupo, condições indispensáveis para o êxito. Estes atributos estão consubstanciados nos resultados alcançados pelo nosso Clube nos últimos anos. (…)” (p. 4)

(O FCP começou o jogo com o Salgueiros alinhando com Vítor Baía, João Pinto, Aloísio, Fernando Couto, Bandeirinha, Rui Filipe, Jaime Magalhães, Semedo, Jorge Couto, Domingos e Toni)