É muito bom saber
que um texto escrito por nós é lido e citado. A historiadora Maria de Fátima
Bonifácio ganhou os 1500 euros do Prémio Máxima Ensaio pelo seu livro A Monarquia
Constitucional, 1807-1910 (Texto, 2010). Nas notícias publicadas sobre o facto,
a apresentação da galardoada é feita recorrendo textualmente a várias frases
que escrevi ao criar o verbete da Wikipedia sobre Maria Fátima Bonifácio. O
sucesso da prof. Bonifácio acabou por me beneficiar também, ainda que em muito
menor escala.
Encontrar algo útil no meio da tralha é parte essencial do trabalho de um historiador.
sexta-feira, 23 de setembro de 2011
sábado, 17 de setembro de 2011
O infantário Trenó da Carochinha
No romance de Carlos
Vale Ferraz Os Lobos Não Usam Coleira (Bertrand, 1991), que inspirou o filme Os
Imortais, de António-Pedro Vasconcelos (trata-se de uma boa adaptação, com
originalidade e vida própria mas mantendo o “espírito” do texto literário), o
subinspector Joaquim Malarranha “meteu o Volkswagen a caminho de Odivelas (…)
mas ao aproximar-se encontrou um labirinto tão intrincado como o da zona de vivendas
do Estoril. O caos urbanístico era um mal comum a todas as classes sociais (…).
Só os bombeiros locais o ajudaram a orientar-se no bairro suburbano, onde ninguém
se lembrara de tratar dos arruamentos pelos quais o carocha se arrastava a
gemer da suspensão.” (p. 168) Antes de chegar ao destino, o polícia passaria
pelas ruas (fictícias) Projectada J e Travessa dos Navegantes.
Esta referência
pouco elogiosa a Odivelas é rara no panorama da ficção portuguesa, pelo menos
daquela que conheço. António Lobo Antunes coloca personagens suas em Odivelas
nos romances A Ordem Natural das Coisas (curiosamente referindo também a Rua dos
Bombeiros Voluntários) e O Manual dos Inquisidores, onde faz um divertido
relance da vida suburbana. Para além destes casos, não recordo a presença da
cidade da marmelada em nenhuma obra de ficção (alguém conhece mais referências
a Odivelas?). Trata-se de um óbvio desperdício, já que há muito material por
explorar da Arroja à Codivel.
segunda-feira, 12 de setembro de 2011
Odivelas tem a solução para os dejectos do seu cão
O artigo que o
director do i, António Ribeiro Ferreira
(n. 1950), publicou anteontem no seu jornal acabou por ser uma boa forma de
recordar o 11 de Setembro e os efeitos que teve a nível cultural e ideológico. O
editorial de Ribeiro Ferreira pode ser resumido em frases como “o Obama não tem
tomates” e “porrada nos mouros, pá”, até porque o nível do discurso do
jornalista não é muito superior a isso. Ribeiro Ferreira pode ser (não o
conheço bem) uma pessoa geralmente sensata e ponderada, mas quando aborda a política
internacional torna-se um “gajo de Alfama”.
Cabe aqui recordar
que não é a primeira vez que o actual director do i se indigna com a suposta moleza ocidental em relação ao combate
ao terrorismo e à defesa de Israel. Aquando do 11 de Setembro e de
acontecimentos posteriores como a ofensiva israelita na Cisjordânia (2002) e a
invasão do Iraque, Ribeiro Ferreira escreveu numerosos editoriais do Diário de Notícias (na altura, eram
assinados e a sua autoria rodava). Defensor acérrimo das opções de Ariel Sharon
e George W. Bush, o jornalista revelava asco pelos “pacifistas” e pela esquerda
em geral, que considerava cúmplice do terrorismo e anti-semita. Qualquer
hesitação na via militar contra os muçulmanos (perdão, os terroristas) significava
cobardia. No contexto de “guerra” nas colunas de opinião da imprensa e na
nascente blogosfera portuguesa que marcou os anos de 2002-2003 (o tema poderia
dar um bom estudo académico), muitos autores exprimiram posições semelhantes, mas
nenhum se aproximou da linguagem e do puro ódio dos textos de António Ribeiro
Ferreira. O editorial de sábado passado revela, pelo menos, que o cronista se
mantém coerente. No entanto, o discurso guerreiro do director do i surge cada vez mais isolado.
terça-feira, 6 de setembro de 2011
Aborto só queremos um, o Governo e mais nenhum
O livro editado pela Câmara Municipal de Cascais acerca da exposição Cascais – Aqui Nasceu o Futebol em Portugal (1888-1928) (patente no Centro Cultural de Cascais entre 27 de Maio e 5 de Outubro de 2004) inclui imagens do material exibido e uma cronologia em português e inglês. A versão inglesa do texto, escrita por Linda Pereira, possui a particularidade de terem sido traduzidos os nomes de alguns dos clubes portugueses referidos, enquanto outros mantiveram a sua forma original na transposição para inglês. Surgem, assim, colectividades como “Porto Football Club”, “International Football Club”, “Boavista Futebol Club” (sic), “Grupo Sport Lisboa”, “Portugal Sporting Club”, “Sport Lisboa e Benfica”, “Cascais Dramatic and Sporting Group” (Grupo Dramático e Sportivo de Cascais), ““Os Belenenses” Football Club”, “Casa Pia Atlético Clube” e “Carcavelos Sporting Group” (Grupo Sportivo de Carcavelos).
sábado, 3 de setembro de 2011
A partir desta hora, não morre mais ninguém
Não sei se o escritor Pedro Garcia Rosado leu os álbuns da Kingpin Books, mas, para lá da homonímia dos inspectores Franco e do género (thriller), as séries C.A.O.S. (BD) e Não Matarás (romances) partilham agora a atenção concedida a personagens russas a viver em Portugal. Garcia Rosado também tem o seu russo “de estimação”, que não se chama Boris Ivanov, mas sim Serguei Tchekhov, um ex-agente do KGB mais conhecido pelo nome de guerra de Ulianov. Criado por Garcia Rosado no livro Ulianov e o Diabo, o ex-KGB regressa em Vermelho da Cor do Sangue (Asa, 2011), o novo volume da colecção Não Matarás, brilhantemente escrito e sempre empolgante. Outra semelhança, mais indirecta, com as pranchas escritas por Fernando Dordio Campos reside no facto de Garcia Rosado remeter igualmente a origem da narrativa para um período da história contemporânea portuguesa, neste caso o PREC. O eventual apoio da União Soviética a um golpe comunista no Portugal de 1975 serve de base à acção. Apesar da premissa não ser muito verosímil, em termos literários revela-se interessante como ponto de partida.
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