Encontrar algo útil no meio da tralha é parte essencial do trabalho de um historiador.

sábado, 17 de setembro de 2011

O infantário Trenó da Carochinha

No romance de Carlos Vale Ferraz Os Lobos Não Usam Coleira (Bertrand, 1991), que inspirou o filme Os Imortais, de António-Pedro Vasconcelos (trata-se de uma boa adaptação, com originalidade e vida própria mas mantendo o “espírito” do texto literário), o subinspector Joaquim Malarranha “meteu o Volkswagen a caminho de Odivelas (…) mas ao aproximar-se encontrou um labirinto tão intrincado como o da zona de vivendas do Estoril. O caos urbanístico era um mal comum a todas as classes sociais (…). Só os bombeiros locais o ajudaram a orientar-se no bairro suburbano, onde ninguém se lembrara de tratar dos arruamentos pelos quais o carocha se arrastava a gemer da suspensão.” (p. 168) Antes de chegar ao destino, o polícia passaria pelas ruas (fictícias) Projectada J e Travessa dos Navegantes.

Esta referência pouco elogiosa a Odivelas é rara no panorama da ficção portuguesa, pelo menos daquela que conheço. António Lobo Antunes coloca personagens suas em Odivelas nos romances A Ordem Natural das Coisas (curiosamente referindo também a Rua dos Bombeiros Voluntários) e O Manual dos Inquisidores, onde faz um divertido relance da vida suburbana. Para além destes casos, não recordo a presença da cidade da marmelada em nenhuma obra de ficção (alguém conhece mais referências a Odivelas?). Trata-se de um óbvio desperdício, já que há muito material por explorar da Arroja à Codivel.

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