No romance de Carlos
Vale Ferraz Os Lobos Não Usam Coleira (Bertrand, 1991), que inspirou o filme Os
Imortais, de António-Pedro Vasconcelos (trata-se de uma boa adaptação, com
originalidade e vida própria mas mantendo o “espírito” do texto literário), o
subinspector Joaquim Malarranha “meteu o Volkswagen a caminho de Odivelas (…)
mas ao aproximar-se encontrou um labirinto tão intrincado como o da zona de vivendas
do Estoril. O caos urbanístico era um mal comum a todas as classes sociais (…).
Só os bombeiros locais o ajudaram a orientar-se no bairro suburbano, onde ninguém
se lembrara de tratar dos arruamentos pelos quais o carocha se arrastava a
gemer da suspensão.” (p. 168) Antes de chegar ao destino, o polícia passaria
pelas ruas (fictícias) Projectada J e Travessa dos Navegantes.
Esta referência
pouco elogiosa a Odivelas é rara no panorama da ficção portuguesa, pelo menos
daquela que conheço. António Lobo Antunes coloca personagens suas em Odivelas
nos romances A Ordem Natural das Coisas (curiosamente referindo também a Rua dos
Bombeiros Voluntários) e O Manual dos Inquisidores, onde faz um divertido
relance da vida suburbana. Para além destes casos, não recordo a presença da
cidade da marmelada em nenhuma obra de ficção (alguém conhece mais referências
a Odivelas?). Trata-se de um óbvio desperdício, já que há muito material por
explorar da Arroja à Codivel.
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