O artigo que o
director do i, António Ribeiro Ferreira
(n. 1950), publicou anteontem no seu jornal acabou por ser uma boa forma de
recordar o 11 de Setembro e os efeitos que teve a nível cultural e ideológico. O
editorial de Ribeiro Ferreira pode ser resumido em frases como “o Obama não tem
tomates” e “porrada nos mouros, pá”, até porque o nível do discurso do
jornalista não é muito superior a isso. Ribeiro Ferreira pode ser (não o
conheço bem) uma pessoa geralmente sensata e ponderada, mas quando aborda a política
internacional torna-se um “gajo de Alfama”.
Cabe aqui recordar
que não é a primeira vez que o actual director do i se indigna com a suposta moleza ocidental em relação ao combate
ao terrorismo e à defesa de Israel. Aquando do 11 de Setembro e de
acontecimentos posteriores como a ofensiva israelita na Cisjordânia (2002) e a
invasão do Iraque, Ribeiro Ferreira escreveu numerosos editoriais do Diário de Notícias (na altura, eram
assinados e a sua autoria rodava). Defensor acérrimo das opções de Ariel Sharon
e George W. Bush, o jornalista revelava asco pelos “pacifistas” e pela esquerda
em geral, que considerava cúmplice do terrorismo e anti-semita. Qualquer
hesitação na via militar contra os muçulmanos (perdão, os terroristas) significava
cobardia. No contexto de “guerra” nas colunas de opinião da imprensa e na
nascente blogosfera portuguesa que marcou os anos de 2002-2003 (o tema poderia
dar um bom estudo académico), muitos autores exprimiram posições semelhantes, mas
nenhum se aproximou da linguagem e do puro ódio dos textos de António Ribeiro
Ferreira. O editorial de sábado passado revela, pelo menos, que o cronista se
mantém coerente. No entanto, o discurso guerreiro do director do i surge cada vez mais isolado.
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