Encontrar algo útil no meio da tralha é parte essencial do trabalho de um historiador.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Nós queremos saber onde param os violinos de Chopin

Distantes que estão os tempos de sexo, poder e riqueza dos Bórgia (a série de Neil Jordan em exibição no AXN é fascinante), o cargo de Papa é, para os cardeais de Habemus Papam, de Nanni Moretti, uma responsabilidade descomunal que nenhum deles quer assumir. Quando, depois de empates entre os favoritos do conclave, o trono de S. Pedro é relegado no cardeal Melville (Michel Piccoli), este não se sente com qualidades para o pontificado e entra em pânico, recusando apresentar-se aos fiéis. Apesar da originalidade desta premissa e do enorme talento de Piccoli, fica uma certa sensação de que Moretti não foi tão longe como poderia, até porque a personagem que o cineasta interpreta, um psicanalista ateu, pouco contacta com o Papa e dedica-se a animar os cardeais entediados (detesto voleibol). Menos que uma sátira, assiste-se a uma dessacralização do Vaticano (e também da psicanálise e dos media), cujos responsáveis são homens como quaisquer outros, enquanto o novo Papa enfrenta incógnito os seus receios e tenta decidir o que fazer. No final, Moretti finta com classe as expectativas de personagens e espectadores, deixando um sabor de amargura.

O que terá sentido Joseph Ratzinger naquele dia de 2005?

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