Encontrar algo útil no meio da tralha é parte essencial do trabalho de um historiador.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Matateu não diz mal de ninguém


É de elogiar a posição tomada por Tozé Martinho, que em declarações à Notícias TV de 15 de Junho rejeita introduzir nas suas novelas os “núcleos cómicos” cada vez mais comuns nos folhetins portugueses. Nas telenovelas da SIC e TVI, abundam as personagens de contornos declaradamente humorísticos que se envolvem em situações criadas para fazer rir os espectadores. O artigo da Notícias TV relaciona essa tendência com a função escapista da ficção, sobretudo num período de dificuldades económicas. Os “bonecos” de actores como Carla Andrino e João Ricardo favorecerão, nesse sentido, o bom humor dos portugueses.

No entanto, o público visado pelas telenovelas dos canais generalistas é tão vasto que dificilmente todos os espectadores acharão piada aos “núcleos cómicos”. De resto, independentemente das capacidades dos intérpretes para compor as personagens alvo de risota, a qualidade dos núcleos tem sido reduzida e as situações “cómicas” frequentemente patéticas (em Doce Tentação, as “princesas falidas” são más imitações de personagens de Herman José). A combinação dos elementos cómicos com os dramas passionais dos protagonistas produz contrastes bizarros. António Barreira introduz abundantes traços de comédia em Remédio Santo, novela onde se sucedem os assassinatos, com os consequentes funerais e lutos cheios de sofrimento, o que torna difícil levar a sério os “30% de drama”. Sem caírem no dramalhão nem “exigirem” aos espectadores que riam, os argumentistas devem procurar um meio-termo que possibilite a fruição de histórias inteligentes. Claro que uma coisa é o que seria artisticamente melhor e outra aquilo que a maioria dos fãs das telenovelas lusas quer ver.

Sem comentários:

Enviar um comentário