Na revista Ler deste mês, José Mário Silva assina uma crónica com o título “São Pedro do Sul” (p. 41), onde desfia as recordações que lhe restam das férias passadas com os avós paternos naquela estância termal, quando Silva tinha “oito ou nove anos” (ou seja, em 1980/81). Sem nunca ter voltado desde então às termas de S. Pedro do Sul, o autor lembra-se, entre outras coisas, do Hotel Vouga e dos outros hóspedes deste (“deviam andar pelos 50, 60 anos, e pareciam-me muito velhos”), das tardes longas, do silêncio, das leituras que fazia (Stevenson, Júlio Verne, Astérix, Michel Vaillant), “do jardim que tinha no centro uma taça circular – cheia de água borbulhante e vapores – de que eu me aproximava a medo” ou dos passeios nas margens do rio.
A crónica de José Mário Silva aborda uma realidade que me é muito familiar, já que passei duas semanas de Agosto em S. Pedro do Sul todos os anos entre 1992 e 2005 (com as excepções de 1993 e 2000). Além do Hotel Vouga, existiam nas termas unidades hoteleiras como o Hotel do Parque, o Hotel Lisboa, a Pensão Avenida e o Inatel reaberto em 1997 após obras. Silva é “incapaz de recordar o edifício onde se faziam os tratamentos”, referindo-se ao velho Balneário Rainha D. Amélia, mas em 1992 já existia um novo edifício (que depois recebeu o nome de D. Afonso Henriques) ao qual os utentes se deslocavam para os tratamentos. A taça circular atrás citada continuava a espalhar um “cheiro fortíssimo, como de enxofre”. Quanto ao perfil etário predominante dos aquistas, mantinha-se basicamente o mesmo do início dos anos 80, por mais que a publicidade das termas estivesse cheia de fotografias de jovens sorridentes. Lembro-me de alguns dos livros que li nas tardes enormes de Agosto (Capitães da Areia, Os Maias, Glória, Se Isto É um Homem, Homens-Aranhas, Morte no Estádio, O Velho que Lia Romances de Amor, etc.), mas a verdade é que não me apetece falar muito sobre as termas sampedrenses. Embora nada tenha contra S. Pedro do Sul, foram Agostos a mais.
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