Gabriel Mithá
Ribeiro, autor de O Ensino da História
(Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2012), baseia-se na sua experiência como
professor de História no ensino básico e secundário (da qual dá vários exemplos
no livro, como a sua atitude impiedosa perante a indisciplina dos alunos) para
criticar as orientações que os responsáveis do Ministério da Educação têm enviado
às escolas. Opositor da corrente pedagógica “progressista” predominante nas
últimas décadas, Mithá Ribeiro acredita que “o sistema tem de se tornar
tendencial e essencialmente conservador” (p. 98), ou seja, a escola deve
transmitir “saberes académicos e científicos sedimentados ao longo da história
civilizacional do Ocidente” (p. 36). O professor insurge-se contra o “ensino
centrado no aluno” criado pelas “Ciências da Educação” (entre aspas no original),
que, dedicando-se apenas aos aspectos didácticos e pedagógicos, falha no
essencial, a divulgação do conhecimento.
Em O Ensino da História e outros livros,
Gabriel Mithá Ribeiro reage (trata-se, exactamente, de um “reaccionário”) à
prática e pensamento educativos desenvolvidos após o 25 de Abril num contexto
de ruptura com aquilo que teria marcado a escola do Estado Novo: a autoridade
inflexível e opressora do professor, as aulas meramente expositivas, a
valorização excessiva da memorização, a apologia do colonialismo, a
diabolização da I República, as sínteses historiográficas sem fontes nem
qualquer apelo à iniciativa do aluno presentes em compêndios como os de António
Gonçalves Mattoso, o isolamento do ensino em relação à sociedade da qual provêm
os estudantes, o trabalho apenas individual, etc. É curioso verificar a quase
simetria entre O Ensino da História e
Um Rumo para a Educação (Editorial
República, 1974), de Vitorino Magalhães Godinho, ministro da Educação e Cultura
no II e III Governos Provisórios. Enquanto Godinho se preocupava em abrir a
escola ao exterior e promover a ligação com a comunidade, Mithá Ribeiro dá a um
capítulo o título “Fechar a porta da sala de aula e o portão da escola” (p.
32). As ideias dos autores sobre o modelo das aulas e a actividade dos alunos
também são exactamente opostas.
Sem manifestar
saudosismos, Gabriel Mithá Ribeiro pensa que os pedagogos e governantes da
democracia levaram a educação portuguesa de um extremo para o outro, descurando
a necessidade de equilíbrio. Numa corrente adversária, encontram-se estudiosos
como António Teodoro, autor do artigo “Uma escola democrática, inclusiva e
exigente” (Público, 22-10-2012, p.
47), que se baseia na investigação das Ciências da Educação (agora sem aspas)
para apontar problemas actuais do ensino como “um curriculum escolar ainda
organizado em termos de conhecimento disciplinar” e “uma formação de
professores centrada num conhecimento disciplinar que subalterniza a construção
de saberes práticos”.
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