Encontrar algo útil no meio da tralha é parte essencial do trabalho de um historiador.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Essas extinguem-se em 1 de Outubro

Apesar da idade avançada, o coronel João Varela Gomes continua lúcido e atento à situação nacional e internacional. O recente livro Memória Ideológica no Centenário da República (Letra Livre, 2011) reúne crónicas publicadas pelo militar antifascista no jornal Alentejo Popular. Um dos temas mais abordados por Varela Gomes é a produção historiográfica portuguesa sobre o período contemporâneo, em especial o século XX. Várias obras lançadas nos últimos anos são sujeitas a recensão pelo cronista, destacando-se a abundância de trabalhos provenientes do Instituto de História Contemporânea da FCSH-UNL.

Varela Gomes, que a badana do livro indica como um dos militares que defenderam profundas mudanças sociais em Portugal após o 25 de Abril, manifesta ainda um grande ressentimento pela derrota de 25 de Novembro de 1975 e a consequente “normalização” que deu origem ao regime por ele designado como “democracia filofascista”, no qual o poder político e militar permitiu a amnistia e reintegração dos apoiantes da ditadura derrubada. Segundo Varela Gomes, a historiografia produzida nos últimos trinta e cinco anos tem seguido a orientação dos vencedores do PREC e distorcido a realidade passada, nomeadamente através do branqueamento do fascismo (chamar outra coisa ao Estado Novo deveria ser considerado negacionismo), da subvalorização das lutas operárias/camponesas e do esquecimento a que são votados aspectos de 1974-75 como o papel da Igreja Católica e das potências ocidentais (às quais se aliou o PS de Mário Soares) na contra-revolução.

O principal problema de Varela Gomes com o trabalho do IHC é o facto do organismo ser dirigido por Fernando Rosas e António Reis, adversários do coronel durante o PREC e alegados promotores de uma História parcial, à medida dos seus interesses políticos e ideológicos. No entanto, Varela Gomes contém o seu discurso crítico ao falar de livros como a obra colectiva Vítimas de Salazar (sobre o aparelho repressivo do Estado Novo) e a biografia de Humberto Delgado criada por Frederico Delgado Rosa. Interessantes são também as referências do coronel à sua participação em colóquios e documentários sobre a História recente.

Já agora, sou um dos alunos a quem o prof. António Reis e outros docentes da FCSH-UNL fizeram “lavagens ao cérebro”. No meu caso, de pouco serviu, pois a mente continuou suja.

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