O caso da ocultação
da dívida elevou ao cúmulo a irritação dos portugueses cuja aversão ao
presidente do Governo Regional da Madeira tem sido alimentada durante anos e
anos por sucessivos incidentes e declarações de Alberto João Jardim. O carácter
típico desse produto nacional sem paralelo em nenhum país já não chega para
travar a ira da maioria da população lusa contra Jardim, quando estão prestes a
realizar-se eleições para a Assembleia Legislativa da Madeira. A imprensa
continental expõe o sistema vicioso e a corrupção moral do jardinismo, “uma
rede baseada nas obras públicas, subsídios, propaganda e a bênção da Igreja”
(Público, 2 de Outubro). No DN de hoje, Fernanda Câncio assinala os erros e
contradições dos madeirenses apoiantes de Jardim (se deveria fazê-lo numa reportagem,
é discutível).
Na verdade, o
“regime” madeirense parece ser idílico para quem o integra. Liderado por um
chefe eterno e invencível, o sistema beneficia uma elite restrita (que troca
favores entre si) e atribui umas migalhas a quem não o contesta, enquanto quem
se lhe opõe sofre as consequências. Relativamente à impunidade de Alberto João
Jardim e ao seu discurso desbragado, é sabido que o líder (ou dono) da Madeira
possui um documento (passado por quem?) que lhe atribui o raro privilégio de
poder dizer e fazer tudo o que lhe apeteça. O que para qualquer outro político
representaria o fim da sua carreira transforma-se em motivo de orgulho na boca
de Alberto João. Tudo isto seria dificilmente imaginável numa democracia, mas
constitui um exemplo de poder em estado puro, exercido de forma descarada, sem
necessitar de qualquer justificação ideológica a não ser a “luta” fictícia
contra Lisboa. O único limite ao poder jardinista reside na obrigatoriedade de
se legitimar através de eleições, até agora vencidas pelo PSD/M sem qualquer
dificuldade. Resta saber se Vasco Graça Moura tem razão e a Madeira é o Jardim,
ou o tempo da eternidade acabará.
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