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terça-feira, 4 de outubro de 2011

Batalhas que se travam de joelhos têm assegurada a vitória

O caso da ocultação da dívida elevou ao cúmulo a irritação dos portugueses cuja aversão ao presidente do Governo Regional da Madeira tem sido alimentada durante anos e anos por sucessivos incidentes e declarações de Alberto João Jardim. O carácter típico desse produto nacional sem paralelo em nenhum país já não chega para travar a ira da maioria da população lusa contra Jardim, quando estão prestes a realizar-se eleições para a Assembleia Legislativa da Madeira. A imprensa continental expõe o sistema vicioso e a corrupção moral do jardinismo, “uma rede baseada nas obras públicas, subsídios, propaganda e a bênção da Igreja” (Público, 2 de Outubro). No DN de hoje, Fernanda Câncio assinala os erros e contradições dos madeirenses apoiantes de Jardim (se deveria fazê-lo numa reportagem, é discutível).

Na verdade, o “regime” madeirense parece ser idílico para quem o integra. Liderado por um chefe eterno e invencível, o sistema beneficia uma elite restrita (que troca favores entre si) e atribui umas migalhas a quem não o contesta, enquanto quem se lhe opõe sofre as consequências. Relativamente à impunidade de Alberto João Jardim e ao seu discurso desbragado, é sabido que o líder (ou dono) da Madeira possui um documento (passado por quem?) que lhe atribui o raro privilégio de poder dizer e fazer tudo o que lhe apeteça. O que para qualquer outro político representaria o fim da sua carreira transforma-se em motivo de orgulho na boca de Alberto João. Tudo isto seria dificilmente imaginável numa democracia, mas constitui um exemplo de poder em estado puro, exercido de forma descarada, sem necessitar de qualquer justificação ideológica a não ser a “luta” fictícia contra Lisboa. O único limite ao poder jardinista reside na obrigatoriedade de se legitimar através de eleições, até agora vencidas pelo PSD/M sem qualquer dificuldade. Resta saber se Vasco Graça Moura tem razão e a Madeira é o Jardim, ou o tempo da eternidade acabará.

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