Mário Soares já falou (no final do segundo mandato presidencial) sobre as suas preferências quanto a cinema. Além do simbolismo do filme Casablanca e da rejeição da ficção científica, não recordo nada de especial nos gostos cinéfilos do fundador do PS. Relativamente à televisão, Soares e a sua esposa têm dado atenção àquilo que consideram o problema do excesso de violência na ficção e mesmo nos telejornais. Em Um Político Assume-se (Círculo de Leitores/Temas e Debates, 2011), ao enumerar o que aconteceu no ano de 1993, Soares escreve: “A violência na televisão – e nos filmes americanos – tornou-se quase um hábito, com consequências deploráveis no espírito das crianças e mesmo dos adultos” (pp. 410-411). Maria Barroso e o então Presidente da República procuraram sensibilizar os media para a necessidade de um maior controlo (sem se confundir com censura) dos conteúdos exibidos, mas “A luta pelas audiências foi superior a todos os argumentos…” (p. 412)
É fácil imaginar que a série americana 24, exibida pela RTP2 na década passada, tinha tudo para desagradar a Mário Soares (aspectos artísticos de lado), quer pela abundância de tiroteios e cenas violentas quer pela influência da agenda ideológica da Administração Bush, que passou, nas primeiras temporadas, pela legitimação do uso da tortura (uma questão sensível para Soares) no combate ao terrorismo.
No que respeita a políticos mais jovens, na casa dos 40-50 anos, que cresceram com as séries vindas dos EUA, os gostos em matéria de ficção televisiva não deverão ser muito diferentes dos do resto da população. No entanto, um inquérito sobre o assunto poderia conduzir a conclusões interessantes. Por exemplo, seria útil saber que séries, novelas, telefilmes ou programas humorísticos influenciaram a estratégia política de Miguel Relvas.
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