Para um crítico de cinema, escrever uma crítica a um filme que se detestou não é tão simples como parece (nunca consegui fazê-lo convenientemente). Limitar-se a dizer que a obra em questão é “um pastelão” ou mesmo “uma merda” cumpre os mínimos, mas não tem a eficácia de um texto divertido no qual, recorrendo a ironia e exagero, o autor acentue a escassez de qualidade do filme. O humor permite mesmo destacar os aspectos ridículos (ou a falta de piada, nas comédias) da fita analisada. Alguém que costuma alcançar com mestria esse objectivo é Pedro Soares, no Royale With Cheese.
No número da Sábado de 9 de Agosto, o suplemento Tentações inclui uma crítica de Tiago R. Santos a Pai Infernal, de Sean Anders, com Adam Sandler no papel principal. A classificação adoptada pela revista utiliza uma escala de 1 a 100, com Pai Infernal a ser o primeiro filme a obter na Sábado uma percentagem de apenas 1%. Tiago R. Santos (também argumentista) começa o texto por afirmar: “Adam Sandler detesta-nos. É essa a única explicação. Ele quer fazer-nos sofrer. Mas é ainda pior. Sandler faz questão de destruir as coisas que nos são preciosas. (…)” Mais à frente: “Vale a pena falar de “Pai Infernal”? Querem mesmo saber? Nem sequer leiam o texto. Salvem-se. Salvem-se já. O que é que ganhei a ver o filme? Nada. Menos que zero. Nesse dia, depois da projecção, a comida deixou de ter sabor. (…) O mundo está perdido. (…) A comunidade internacional assiste passiva a estas catástrofes. (…) Se este texto convencer uma única pessoa a não pagar bilhete para este objecto do demónio, o meu sacrifício não terá sido em vão. (…)” (p. 29) A crítica é provavelmente bem mais divertida que o filme em si. Trata-se de um desanque com classe. No mesmo número, o outro crítico de cinema da Sábado, Pedro Marta Santos, atira-se a ATM – Armadilha Mortal, que mesmo assim chega aos 27%, realçando a excepcionalidade de Pai Infernal.
Quanto aos “filmes de Adam Sandler” (um género cinematográfico específico), parece que quem vê um, vê todos. Mais útil será assistir a algum filmes “com” Adam Sandler, não só o óbvio Embriagado de Amor, de Paul Thomas Anderson, mas também Gente Gira, de Judd Apatow (embora a obra pudesse ter sido melhor conseguida), onde Sandler brinca um pouco com a sua própria imagem.
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