O último livro do ex-ministro dos Negócios Estrangeiros Alberto Franco Nogueira (1918-1993), Juízo Final (2ª edição, Civilização, 1993), expressa como o autor encarava, no fim da sua vida e do século XX, a situação do país e do mundo. Combatendo ao serviço de Salazar como ministro entre 1961 e 1969 (e mesmo depois, nas críticas a Marcelo Caetano, que estaria a ameaçar a integridade nacional), Nogueira conhecera desde então sucessivas derrotas: o 25 de Abril, a descolonização, a entrada de Portugal na CEE.
O pensamento que o biógrafo de Salazar expressa de forma coerente em Juízo Final deixa, de facto, a sensação de que Franco Nogueira foi magoado e ultrapassado pelo seu tempo. As ideias “fascistas” de Nogueira incluem posições como a defesa da nação como valor e unidade fundamental, o eurocepticismo radical (quaisquer instituições supranacionais deveriam ser rejeitadas), o culto dos heróis do passado, a recusa do pacifismo (a paz não poderia sobrepor-se aos interesses da comunidade) ou o desprezo pelas elites portuguesas (na concepção de Nogueira, estas incluem sobretudo o poder político-social e os intelectuais), que em momentos de crise ignoram os interesses nacionais e se colocam ao serviço do estrangeiro, copiando ideias alheias devido ao receio excessivo do isolamento (em 1971, durante a guerra colonial, Franco Nogueira expusera no livro As Crises e os Homens as falhas do escol que, perante as ameaças em 1383, 1580 ou no presente, traía o país). Só o povo sentia sempre a pátria e compreendia o que estava em jogo, mas, em 1992, Nogueira observa que os portugueses manifestam “indiferença perante valores nacionais” e caem numa “submissão passiva e inconsciente, e até alegre e eufórica, aos interesses de terceiros” (p. 229), ignorando os perigos que correm.
Não sei se Franco Nogueira gostava de futebol, mas seria curioso conhecer o que o diplomata pensaria da euforia patriótica criada recentemente nos portugueses pela participação da selecção no Europeu, onde, ainda por cima, a equipa lusa enfrentou a Espanha, sempre desejosa, segundo Nogueira, de nos absorver numa Península Ibérica unificada.
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