Encontrar algo útil no meio da tralha é parte essencial do trabalho de um historiador.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Trocou a coroa por um chapéu alto

Hesitei antes de ler A Chama Imensa (Tinta-da-China, 2010) devido ao manifesto acinte com que Ricardo Araújo Pereira (RAP) ofende o FC Porto (no livro, o autor refere-se sempre apenas como “Porto” ao clube “que é designado pelos seus dirigentes e adeptos como Ftócuporto”, p. 191) e o presidente deste. Em rigor, não são ofensas, na medida em que as escutas do processo Apito Dourado são verdadeiras (apesar do seu lado divertido, não foram escritas pelos Gato Fedorento). O papel de RAP é o de recordar em todas as crónicas o “caso da fruta”, como se andasse sempre ao lado de Pinto da Costa e lhe repetisse “cheiras mal da boca”. O uso exímio da ironia pelo humorista permite-lhe picar continuamente (qual mosquito irrequieto) FCP, SCP e, a partir de dada altura, também o SCB, fazendo o humor com que as picadas sejam mais irritantes e profundas. Por outro lado, a subvalorização por RAP de treinadores como Jorge Jesus (antes da contratação do técnico pelo Benfica), Domingos Paciência e André Villas-Boas ou dos jogadores Hulk e Falcao indica que o autor de A Chama Imensa não possui a faculdade de adivinhar o futuro. Afinal, no futebol atrás de tempos vêm tempos.

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