Encontrar algo útil no meio da tralha é parte essencial do trabalho de um historiador.

domingo, 26 de dezembro de 2010

Durma, xerife, bem descansado


De acordo com o depoimento de Fernando Madureira (Macaco) registado por Filipe Bastos no livro Fernando Madureira, O Líder (O Gaiense, 2005), a tarefa do chefe da claque Super Dragões (SD) é comparável à de “uma educadora de infância sempre a ver onde é que as crianças estavam a fazer asneiras” (p. 60). De facto, são inúmeras as situações referidas no livro em que Macaco tem de negociar com a polícia a libertação dos “ultras” detidos ou exigir que os “gaiatos” devolvam objectos roubados. No entanto, surgem como habituais e mesmo inevitáveis as “rapadelas” dos SD em estações de serviço ou free shops de aeroportos. Nem a megastore do Manchester United escapou em 1997 à perícia da claque portista, na qual vários jovens encontram uma alternativa à heroína e ao crime organizado.

Embora as memórias de Madureira incluam os anos dourados de José Mourinho, tal como a derrocada em 2004/05, o que se passa nos relvados acaba por ter escassa relevância, perante a abundância de peripécias ligadas às deslocações dos SD. Entre estas incluem-se as batalhas, no sentido literal, contra os No Name Boys (as relações dos SD com a claque dos Diabos Vermelhos são mais pacíficas, enquanto Macaco dá ordens para que não se verifiquem agressões a “pessoas normais”, ou seja, benfiquistas civis). Nos recontros, além da supremacia pela força, a tomada de presas valiosas (faixas e estandartes da claque rival) assume grande importância. 

O livro de Filipe Bastos acaba por demonstrar que o mundo do futebol inclui histórias pessoais que ultrapassam a imaginação dos ficcionistas. Pelo menos, as “aventuras” de Macaco e outras personagens dos SD como Futre, Bruno Pidá, Afurada, Cult, Trilho, Caveira, Teixeira, Pili, Terror, Leitinho e muitos mais registam experiências vividas por poucas pessoas, quanto mais não seja pelo descaramento dos intervenientes.

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