Encontrar algo útil no meio da tralha é parte essencial do trabalho de um historiador.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Em terra de capados quem tem um testículo é rei


No livro A TV do Futebol (Campo das Letras, 2006), coordenado por Felisbela Lopes e Sara Pereira, académicos e jornalistas analisam, em vésperas do Mundial, a relação actual entre o futebol e a televisão. O crítico de televisão Eduardo Cintra Torres, autor do artigo “O telepatriotismo durante o Euro 2004”, reproduz o discurso e o conteúdo das emissões da RTP sobre a competição, dando a entender que aquilo que a estação pública fez em Junho e Julho de 2004 foi propaganda “patriótica” e não jornalismo. No entanto, o jornalista Carlos Daniel, um dos rostos da RTP durante esses dias de Verão e outro dos co-autores da obra, não se arrepende de ter literalmente vestido o cachecol da selecção portuguesa: “Não acredito no relato jornalístico desprovido de emoção, quando estamos perante um fenómeno que vive dela e da qual não se consegue separar. (…) Se a notícia tem emoção, o jornalista não pode deixar de a retratar. Ser impenetrável a essa emoção, será, na minha perspectiva, não apenas inviável como indesejável.” (p. 42) 

A euforia patriótica em torno da selecção principal da FPF mostrada e apoiada pela televisão repetir-se-ia em moldes semelhantes de dois em dois anos, nas fases finais seguintes. Põe-se a questão de saber se os canais generalistas portugueses fabricaram a ligação da Nação a uma equipa de futebol de modo a ganharem audiências para as transmissões dos jogos e os muitos outros programas à volta das competições ou se foi o público a “exigir” da televisão uma cobertura mediática exaustiva e um discurso emocional e patriótico. Será que a resposta varia conforme a pergunta se dirija a crentes ou não crentes no futebol?

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