Encontrar algo útil no meio da tralha é parte essencial do trabalho de um historiador.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Não somos massa dum todo?


A leitura de As Manobras de Pinto da Costa (Zebra, 2010), onde o jornalista Marco Alves (cuja fotografia não foi publicada, provavelmente devido a receio de represálias) se baseia numa exaustiva pesquisa de imprensa para narrar os quase 30 anos de gestão do FC Porto pelo mesmo homem, dá a entender que a alma de Jorge Nuno é mais suja que a retrete do Estádio das Antas penhorada em Março de 1994. O próprio autor revela alguma estupefacção provocada pela ousadia das acções do presidente portista. Surge-nos uma figura voluntariamente guerreira cuja vida foi dedicada a conquistar, manter e alargar o poder, sem barreiras éticas e com toques de génio. É preciso ter em conta que a Superliga portuguesa, mais que uma competição desportiva, é uma luta pelo poder, sobretudo entre os “grandes”.

Fica assim provado que a vida real consegue criar personagens mais fascinantes que as da ficção (Pinto da Costa já foi interpretado no cinema por Nicolau Breyner, mas o resultado global do filme Corrupção é bastante fraco). O mais notável é que esta história ainda não acabou, continuando todos os dias nas páginas dos jornais desportivos e das revistas cor-de-rosa. Como irá terminar este filme? No romance Golpe de Estádio, Marinho Neves imaginou o personagem que representa Pinto da Costa a falecer num desastre de viação a caminho de Fátima. Acho que uma boa cena final poderia mostrar Jorge Nuno sozinho no meio de um Estádio do Dragão deserto, a ponderar se tudo valeu a pena (terminar com grande plano). Outros imaginariam uma conclusão mais dramática que apresentasse uma lição moral.

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