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domingo, 23 de janeiro de 2011

É por aqui que se começa, pelas palavras simples


A previsível vitória de Cavaco Silva acabou por não ser esmagadora, ficando o Presidente aquém dos 53%. Como a abstenção subiu em relação a 2006 (os problemas causados pelo Cartão do Cidadão foram um verdadeiro fiasco), não terão sido muitos os votos ganhos por Cavaco que, por outro lado, não desiludiu aqueles que o escolheram há cinco anos. Dir-se-ia que os eleitores quiseram despachar já o assunto para evitar o horror de mais semanas de campanha. No discurso de vitória, Aníbal aproveitou para se banhar no sangue dos vencidos.

O resultado de José Manuel Coelho (cerca de 4,5%) não deixa de ser inquietante. Alguém que quase ninguém conhecia há um mês e fez uma campanha baseada em palhaçadas acabou por beneficiar do voto de protesto, dando a entender que basta alguém dizer que isto é uma choldra e são todos corruptos menos ele para atrair as atenções. No caso da sua Madeira natal, onde Coelho ficou perto de Cavaco, o PS local tem motivos para se preocupar, já que está longe de atrair a maioria do campo anti-Jardim.

Sobre Francisco Lopes, não há muito a dizer, para variar. Recebeu o apoio do eleitorado tradicional do PCP, que votaria no candidato indicado pelos comunistas mesmo que fosse a Pantera Cor-de-Rosa (apesar da cor do pêlo, é “filha” de Vasco Granja, que foi um militante fiel do Partido). Ao contrário do que Jerónimo de Sousa afirmou, num discurso mais previsível que as novelas da TVI, o PCP não aproveita muito bem o descontentamento social.

Fernando Nobre sente-se feliz. Assumido candidato “anti-sistema”, beneficiou do descontentamento cada vez maior com a III República e conquistou muitos dos potenciais apoiantes de Manuel Alegre (ao ver as projecções das 20.00, o primeiro pensamento de Mário Soares foi certamente “Justiça de Deus grande!”). Durante o apuramento das últimas freguesias, localizadas nos grandes centros urbanos, a percentagem total do candidato do PSD foi-se reduzindo, como é habitual longe do antigo “oceano de ruralidade”, mas a de Alegre quase não se alterou. Nobre foi o escolhido por parte significativa da classe média urbana. Agora, para além de continuar a presidir à AMI com o valor que se conhece, o Dr. Nobre terá bem maior audiência para os seus “gritos de rato” sobre a situação mundial.

Manuel Alegre perdeu. A aura de derrotado que captou fez-se sentir até ao falar durante os intervalos publicitários das televisões, que não deixaram de sublinhar a solidão a que o PS o condenou. Não era nada disto que o poeta esperava há um ano, mas deu o seu melhor durante a campanha. Um grande abraço para ti, Manuel.

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