Esteiro, Nº 1, Março de 2011
Luciano Zaga, “A questão fundamental”
“Numa esplanada à beira-rio, ele está absorto. Ela, sorvido o café, encara-o com estranheza.
— Estás hoje muito calado.
— Sabes, estou a pensar na vida.
— Então? (…)
— A questão fundamental, o cabouco sobre que assentam todos os problemas da vida, é a divisão entre os que acreditam que a origem de tudo, do universo e do mundo foi uma ideia, um ente superior desconhecido e que depois identificaram com o Sol a que chamaram deus, da palavra “div”, luz, em sânscrito; e aqueles que sabem que a matéria sempre existiu, não foi criada por ninguém, e está em contínuo processo de transformação de vida e morte e vida, em espiral ascendente, desde a rocha inanimada ao homem e à mulher sapiens sapiens, à maior maravilha da natureza: o cérebro humano. (…)
Se eu, erradamente, acredito na primeira posição, acredito em mitos, ilusões, homens salvadores da humanidade, submeto-me ao destino, à aceitação da exploração, voto nos partidos da direita, clara ou disfarçada, sou enganado pelos que se dizem meus amigos, sem aferir que interesses servem, sou lançado para a guerra para morrer e matar por interesses que não são os meus. (…)
E eu, pelo contrário, sei firmemente que não há um destino que me aprisione o futuro, que não há seres superiores aos homens. Não indo atrás de qualquer carismático demagogo, então sentes-te irmão, igual aos outros homens, sejam eles de que credo ou cor forem, e sabes que só a solidariedade entre todos os trabalhadores, intelectuais ou manuais, professores ou operários, resolverá os dramas da humanidade. Voto no partido fraternal, que luta pela humanização do homem, em todo o mundo. Não aceito a exploração. Não haverá guerra, nem doenças sociais, não haverá fome e miséria.
— Cada homem realiza a sua felicidade contribuindo para a felicidade dos outros.
— E todos se erguerão acima da condição animal em que nos encontramos… (…)” (p. 7)
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