O pior da crise foi ter feito com que o vocabulário ligado à economia (juros, dívida, rating, agências, FEEF, leilão, mercados, Obrigações do Tesouro, etc.) dominasse os noticiários portugueses. Embora eu saiba que sem o conhecimento da economia não é possível compreender nenhum período histórico (como agora se comprova), tudo o que diga respeito a dinheiro e não seja imediatamente palpável me despertou sempre desinteresse. A linguagem económica, associada à crença nos mecanismos financeiros, era uma espécie de latim que só especialistas formados em seminários, ou melhor, em FEs, conheciam na sua plenitude. Sacerdotes e sacerdotisas como a minha irmã reuniam-se em templos (Bolsa, Banco de Portugal, Diário Económico, etc.) para adorar o seu deus e pronunciar na língua oficial do culto os sacramentos que asseguravam, em nome da comunidade, o apaziguamento das entidades divinas. Fora do corpo clerical, as pessoas só tinham uma vaga ideia dos princípios da fé, consultando os sacerdotes em períodos de dificuldades para tentarem compreender os misteriosos desígnios de uma Economia distante mas aparentemente todo-poderosa. Agora, um conhecimento mínimo das Sagradas Escrituras, que começam a ser traduzidas para as línguas profanas, é essencial para perceber o que se passa à nossa volta, até porque parece que um qualquer deus maligno soltou sobre nós a sua ira, sem que os sacerdotes possam fazer algo para aplacar a sede de sangue da divindade enfurecida.
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