Encontrar algo útil no meio da tralha é parte essencial do trabalho de um historiador.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Porque é que tu não és como a Sharon Stone?

O Diabo, 18 de Julho de 1978

“Heterónimos não têm filhos” (p. 28)

“Afinal, também não se confirma que o laço que liga o actual secretário de Estado António Reis à Cultura seja o facto do ilustre militante socialista ser filho de um dos heterónimos de Fernando Pessoa, o intimista, metido consigo mesmo “Ricardo Reis”.
Não só Fernando Pessoa, como os seus variados heterónimos morreram sem descendência, como continua a mostrar-se improfícuo (e sem resposta) o esforço dos investigadores – teimosos na averiguação de razões lógicas, ou biológicas, que expliquem a presença do jovem António Ribeiro dos Reis (não confundir com um tenente-coronel que jogou no Benfica, foi seleccionador de futebol e fundador do jornal “A Bola”) na gestão da Secretaria de Estado da Cultura.”

domingo, 29 de maio de 2011

Elas são belas e vão tentar seduzir-te

A conferência Hoje, como ontem: o Estado Novo (União Nacional, 1946) foi proferida por Marcelo Caetano, então ministro das Colónias, no Porto, aquando das comemorações do vigésimo aniversário do 28 de Maio. Perante várias autoridades civis e militares do regime, Caetano relembra os seus anos de juventude passados na I República, em especial o período entre 1919 e 1926, expondo as razões que levaram ao golpe do Exército. Realça em seguida os méritos do guia da “Revolução Nacional”, Salazar, homem de “sistemática oposição a todas as violências” e “zelo pelos direitos essenciais da personalidade” (p. 31), tal como a obra desenvolvida em vinte anos de ditadura. Perante o choque do pós-guerra que o regime português então enfrenta, o jurista considera que o Estado Novo tem todas as condições para sobreviver na nova Europa. A estabilidade política é, para Caetano, uma conquista fundamental do salazarismo que o distingue do caos e agitação permanentes da democracia.

O crescimento da população portuguesa desde 1930 fora favorecido pela queda da emigração, prejudicada pela crise internacional e consequentes barreiras à entrada de estrangeiros no Brasil e nos Estados Unidos. Marcelo Caetano pensa que o país, contrariando as previsões mais pessimistas, sobrevivera bem na nova situação. Se a oposição aponta o “nível de vida baixíssimo” dos portugueses, Caetano resume o presente com as palavras “cá vamos vivendo” (p. 37). O ministro, ele próprio “de modestíssima origem”, acredita que a situação económica da população é melhor que vinte anos antes, até porque existem no Portugal de Salazar escassos preconceitos de classe e uma acentuada mobilidade social: “Homem com algumas qualidades de inteligência, iniciativa e carácter, muito pouco sorte terá se não conseguir elevar-se” (p. 38). Seria impossível esperar milagres no combate à pobreza, especialmente num período de urbanização e industrialização, que tinham criado novas necessidades materiais. Para Caetano, “O problema do nível da vida do povo português não pode ser resolvido revolucionariamente” (p. 38), através de uma hipotética distribuição indiscriminada de dinheiro. Seria necessário, além do aumento da produção nacional e da melhoria dos mecanismos de distribuição de riqueza, fornecer aos trabalhadores, através da educação, uma nova mentalidade que lhes permitisse gastar melhor os seus recursos e ganhar hábitos de higiene. A assistência social deveria ser, mais do que apoio material aos necessitados, “amparo, guia e ensino” (p. 45).

O futuro Presidente do Conselho não é insensível às desigualdades, integrando-se no “cristianismo social” europeu que subordina a política a “um profundo sentido de justiça” e à virtude da caridade (p. 43). Essa preocupação permitiria corrigir os problemas do capitalismo e as situações de exploração. Assim, apesar de garantir a propriedade privada, o Estado deveria ser intervencionista; de acordo com o bem comum e a moral, “a economia tem de ser dirigida, regulada e limitada” (p. 47). Caetano pensa mesmo que o Estado Novo terá de acentuar o seu “carácter intervencionista e social” nos próximos anos (p. 48), criticando a liberdade económica defendida pela oposição. Outro meio de combater as injustiças sociais seria o filantropismo dos ricos, os quais possuem o dever de aplicar a sua fortuna em obras que beneficiem a comunidade. O modelo do capitalista explorador é, implicitamente, considerado por Caetano incompatível com a doutrina cristã e o interesse colectivo defendido pelo Estado Novo, um regime ainda com largo futuro, pois “Hoje como ontem, Portugal quer viver: hoje como ontem Portugal quer o Estado Novo” (p. 53).

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Eu sou a Princesa da Pedra Antiga

Nas últimas semanas, o rosto de Paulo Futre surgiu em todos os meios de comunicação social do país. Além de conceder inúmeras entrevistas, Futre fez uma visita “surpresa” à casa do programa Último a Sair. Depois de anunciar o Licor Beirão, o ex-futebolista promove a sua biografia, o livro El Portugués (Livros d’Hoje, 2011), escrito pelo próprio com a colaboração de Luís Aguilar. Remetido durante alguns anos à memória dos adeptos, Futre tornou-se o homem mais importante de 2011, com uma presença mediática que chega a ser opressiva. No entanto, há que reconhecer que o montijense, tal como ficou demonstrado nas eleições para os órgãos sociais do Sporting, é um mestre na utilização dos media. A pose descontraída e as histórias incríveis da vida de Futre prendem a atenção de todo o público, cuja curiosidade é fomentada pelos pormenores sumarentos que o desportista remete para o livro (recheado de sexo, como convém). Um dos maiores génios do futebol português revela-se igualmente um prodígio na venda da sua imagem.

terça-feira, 24 de maio de 2011

A loura platinada não me soube a nada

Uma das canções “de intervenção” emitidas pelos altifalantes dos carros de campanha da CDU é A Cantiga É uma Arma, do GAC. Autor da letra e música, José Mário Branco reflecte sobre o próprio género da canção de intervenção e um coro entusiasta faz da cantiga uma arma “contra a burguesia”. No entanto, Branco e o conjunto do GAC estavam em 1975-1976 politicamente alinhados com a UDP e o PCP (R), movimentos de extrema-esquerda que lutavam pela constituição de um verdadeiro partido comunista em Portugal, contra os “revisionistas” e “falsos amigos do povo” agrupados no PCP de Álvaro Cunhal. O CD A Cantiga É uma Arma, lançado no ano passado pela Valentim de Carvalho, recupera uma gravação inédita do GAC, Hino da Reconstrução do Partido, que inclui os versos “Fora com os revisionistas/ De Cunhal e sua companhia/Que se mascaram de comunistas/Para melhor servir a burguesia/A traição será vingada/Numa irresistível maré/Pelo Partido que derrubaram/A classe operária está de pé”. Ironicamente, o tema mais célebre do GAC é agora aproveitado na campanha da CDU. Na verdade, a música cedo deixa de pertencer aos seus criadores. Os Xutos & Pontapés não pretendiam originalmente que Sem Eira nem Beira (canção também emitida pelas viaturas comunistas) se transformasse num hino contra José Sócrates.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

E muito boa noite para si, meu amigo

Record, 29 de Agosto de 2007


“Futebol juvenil

Realiza-se nos dias 29 e 30 de Setembro o 6º Torneio Quadrangular da SMD Caneças. Para além do clube organizador, participam as equipas do Sporting, Benfica e Odivelas.

Futebol feminino

A Selecção Nacional Sub-19 terminou ontem o primeiro estágio de observação que marcou a estreia da seleccionadora Mónica Jorge. Amanhã, tem início o estágio de preparação da Selecção A que treina no Jamor a partir das 17 horas.” (p. 33)

sábado, 21 de maio de 2011

Estuda-a com gosto e tino

Tal como os seus antecessores na Presidência da República, Américo Tomás tinha a função de representação ao mais alto nível do Estado em eventos desportivos (dos quais Salazar geralmente se distanciava). Para além desse papel protocolar, o almirante adepto do Belenenses gostava de realçar o seu passado de desportista e o seu gosto pelas actividades atléticas. O livro Terceiro Ano na Chefia da Nação – 1961 (Orbis – Edições Ilustradas, 1963), com texto e selecção iconográfica de João Patrício, inclui o capítulo “Desporto Nacional” (pp. 139-145), centrado sobretudo em três eventos públicos desse ano particularmente difícil para o Estado Novo: a recepção em Belém à equipa do Benfica campeã europeia de futebol, a final da Taça de Portugal (excepcionalmente realizada no Estádio das Antas) e o festival desportivo do “Dia de Angola”.

A 2 de Junho, os jogadores do SLB são condecorados com a Medalha de Mérito Desportivo, após ouvirem Américo Tomás elogiar a carreira da equipa na Taça dos Campeões Europeus (sete vitórias, um empate e uma derrota), transmitindo-lhes o seu entusiasmo pessoal, comum a todo o país: “Que a sorte esteja com todos no futuro e que consigam trazer para Portugal outros êxitos como este. São os meus votos, que são afinal os votos de todos os desportistas e os votos de todos os portugueses.” Cada condecorado recebe um abraço e “desejos pessoais de felicidades” do PR.

A cidade do Porto acolhe no dia 9 de Julho a final da Taça, disputada por dois clubes da região, Leixões e FC Porto. Convidado pela FPF e pelos finalistas, Tomás parte do Palace Hotel do Buçaco às 16.00 e chega às 17.15 ao Estádio das Antas, onde o aguardam dirigentes do regime, dos clubes e da Federação (presidida por Francisco Mega). O autor do livro destaca as numerosas aclamações dedicadas pelo público ao Chefe de Estado, o qual entrega antes da partida as medalhas de finalistas aos jogadores, incluindo o seu homónimo Américo, guarda-redes do FCP. Durante o intervalo, os dirigentes portistas oferecem a Tomás um emblema e um livro luxuosamente encadernado sobre a história do clube. Consumado o triunfo do Leixões, o PR entrega o troféu aos vencedores, abraça os capitães das duas equipas e regressa ao Buçaco.

Por fim, a 27 de Agosto, o Estádio Nacional acolhe um evento que serve como abertura da temporada de futebol, além de incluir provas de atletismo. As receitas de bilheteira, assim como as de outras manifestações desportivas nesse dia, reverteriam para as “vítimas do terrorismo em Angola”. Verifica-se no Jamor um desfile de atletas e uma demonstração realizada por soldados de Caçadores Especiais, destinados a combater na nova guerra. Um grupo de atletas angolanas, vindas à metrópole para a competição, oferece flores a Tomás, acompanhado na tribuna pelos ministros da Educação Nacional e do Exército, o que produz uma fotografia de belo efeito.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Colabore com a polícia, bata em você

Foot, Agosto de 1987

“Foot Bicadas” (p. 39)

“ (…) “Sem ser o FC Porto, só sete clubes me interessam: Real Madrid, Barcelona, Juventus, Roma, Nápoles, Inter e Milan. Mais nenhum!” – Paulo Futre (4 de Junho de 1987)
Foi o milagre de Jesus… Gil.
“Quero ficar no FC Porto” – Paulo Futre, dois dias antes da transferência (22 de Junho de 1987)
Sem comentários…”

Soubesse eu de amor como sei cantar

Numa peça da SIC Notícias sobre o historial dos clubes lusos nas provas da UEFA, exibida poucos minutos antes da final da Liga Europa, a introdução falhou ao afirmar que desde 2004 não se verificava a presença de equipas portuguesas em finais europeias (a informação, repetida no rodapé, seria desmentida pelas imagens da final de Alvalade, em 2005). Mais grave foi, no entanto, a referência, por várias vezes, do narrador da peça ao treinador que venceu duas Taças dos Campeões e “amaldiçoou” o Benfica, Otto Glória (o nome correcto é Bela Guttmann).

Um dos textos de Hugo Vasconcelos publicados na edição de hoje de A Bola (p. 5) recorda a partida Irlanda-Portugal disputada em Dublin há dez anos, a 2 de Junho de 2001 (na qual alinharam quatro jogadores do recém-campeão Boavista). Para ilustrar as mudanças ocorridas desde então, o jornalista escreve que “Há dez anos a moeda em Portugal era o escudo, o Governo de António Guterres demitira-se meses antes e Durão Barroso vencera as eleições, as Torres Gémeas de Nova Iorque estavam de pé.” A verdade é que, de acordo com documentos recentemente descobertos na Torre do Tombo, a demissão do primeiro-ministro António Guterres ocorreu em Dezembro de 2001, seis meses depois do jogo Irlanda-Portugal e três depois do 11 de Setembro. Durão Barroso chefiaria o Governo PSD-CDS saído das eleições legislativas de Março de 2002.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Ai que tou a ver o filme ao contrário

O Tempo e o Modo, Nº 7, Julho/Agosto de 1963

S., “O português, o futebol e a persuasão”

“Numa praia, registámos, no dia 6 de Julho, o seguinte aviso transmitido pelos altifalantes:
“Agradecia-se o favor de não jogarem à bola”.
E logo a seguir:
“Por ordem rigorosa da Polícia Marítima, agradecia-se o favor de não jogarem à bola”.” (p. 71)

sábado, 14 de maio de 2011

Pode esperar no meu quintal até ao dia de Natal

O Relatório e Contas de 1992 apresentado pela direcção do Sporting, então presidida por José de Sousa Cintra, menciona a primeira temporada de actividade da equipa leonina de futebol feminino. Uma fotografia das “leoas” tirada então em Alvalade mostra um total de 16 jogadoras. Coordenada por Diamantino Ribeiro, a secção incluía também um director (Álvaro Fonseca), um director adjunto (António Simões) e três seccionistas (Maria Filomena Castro, Carlos Alberto Ferreira e José António Miranda). A equipa técnica era formada por Diamantino Batista e Jorge Lopes. Sobre a actividade da formação feminina sportinguista, a direcção afirma que se verificou “um comportamento bastante notável, pois alcançámos o 2º lugar no Campeonato Distrital da AF Lisboa, vencemos a Zona Sul do Campeonato Nacional de Futebol Feminino”, além do triunfo na Taça de Aniversário da Rádio Renascença. O potencial revelado pela equipa dava a esperança de ir “muito mais além”. A nível financeiro, o futebol feminino do SCP registara em 1992 um prejuízo, em escudos, de 987.314$50.

As únicas modalidades do clube que nesse ano obtiveram lucros foram as artes marciais e, em grande destaque (um saldo positivo de 1.346.940$00), o futebol de cinco. Introduzido em Alvalade sete anos antes, o actual futsal era desde então coordenado por Bernardino Melo Bandeira. Além de Orlando Duarte, a equipa técnica da época de 1991/92 incluía Cícero Campos, Carlos Rodrigues, Carlos Nunes e Fernando Paulo Fernandes. Nessa temporada, ao contrário do que acontecera em 1990/91, o SCP não ganhara a Taça Nacional de Futebol de Cinco. No entanto, a secção, que movimentava cerca de 30 atletas entre seniores e juniores (campeões do distrito de Lisboa), abrilhantara-se pela conquista de mais uma Taça da Comunicação Social. Além desta proeza, “a equipa sénior ganhou praticamente todos os Torneios ao longo da época, pelo que seria fastidioso estar a enunciá-los”.

Diga-se ainda que o clube de Sousa Cintra contava então com o apoio das claques organizadas Juventude Leonina, Torcida Verde, Força Verde, Ultra Girls, Onda Verde e Norte Leonino (sedeada no Porto).

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Mais cedo ou mais tarde, o seu diário

Foot, Março de 1985

Carta da leitora Maria Bela Marques Castanheiro Soares Brites, de Santarém:

“Aqui bem perto de mim, nesta cidade onde vivo existe uma equipa de futebol feminino. Para além de uma breve referência no nosso semanário “Correio do Ribatejo”, cada vez que joga, nada mais se sabe dela.
É curioso que são onze, tal como no Sporting ou no Benfica, e tal como eles jogam com bola e até têm um treinador que as treina e orienta. Só que existe entre eles uma pequena mas grande diferença – jogam por amor ao desporto e à camisola, nada mais.
Será que o “Sr. Foot” ainda tão ocupado que não poderá passar por cá e conversar com elas? Teríamos assim, nós mulheres que só por curiosidade folheamos a revista à procura de uma ou outra curiosidade dos craques, um assunto que, para além de dignificar o desporto, nos diz directamente respeito a nós mulheres.” (p. 64)

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Roubaram-me os cavalos verdes

Uma brochura publicada pela União Nacional aquando das eleições presidenciais de 1958 (“O candidato nacional Almirante Américo Thomaz”) fornece algumas informações sobre a vida do candidato salazarista, em especial acerca da obra desenvolvida por Tomás como ministro da Marinha. As “notas biográficas” não deixam de referir que Tomás foi “sempre um desportista: no exercício das suas funções oficiais como fora delas”. Embora omitindo a breve passagem do oficial da Armada pela presidência do Belenenses, o texto atribui a Tomás interesse por todo o tipo de modalidades, particularmente pelos desportos náuticos, uma vez que “o Mar foi sempre a sua paixão e o seu ambiente predilecto”. A vela e o remo mereceram o apoio do ministro da Marinha, presente em eventos públicos como o encerramento do I Congresso da Vela (1945) e a distribuição de prémios dos campeonatos da Europa e do Mundo realizados em Cascais. Da mesma forma, o contra-almirante “pôs sempre à disposição dos organizadores as indispensáveis vedetas de apoio e facultou a deslocação de navios da Marinha de Guerra para junto de realizações desportivas de maior vulto”. O “ilustre marinheiro” encontrava-se assim associado aos êxitos obtidos pelos velejadores portugueses.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Vai buscá-la Tibi

Em Último a Sair (RTP1), Bruno Nogueira segue o princípio de que a paródia deve assemelhar-se o mais possível ao original. Neste caso, ao Big Brother e a todos os reality-shows com e sem famosos que se seguiram até hoje. Embora tenha a impressão de que o esquema está viciado para que Nogueira seja o vencedor, acho que Último a Sair promete tornar-se um verdadeiro prodígio de comédia. Não deixa de ser admirável o fair-play dos “concorrentes” (sobretudo Roberto Leal) ao participarem num exercício de auto-caricatura. É também de louvar a oportunidade de rever na televisão o palhaço Batatinha, que marcou tantas infâncias (nunca percebi porque Batatinha e Companhia se separaram). O único óbice é o vasto tempo de ecrã que o programa ocupa, em especial aos domingos. No entanto, se os telespectadores gastam esse tempo e muito mais com os reality-shows “a sério”, bem podem ver também o reality-show “a brincar” de Bruno Nogueira.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Haja sempre esta sede de vencer por Portugal

O primeiro romance de Pedro Vieira, Última Paragem, Massamá (Quetzal, 2011), motiva um texto crítico e uma entrevista com o autor na edição de Maio da revista Os Meus Livros. Ambas as peças são da autoria do director da publicação, João Morales, parecendo terem sido bem preparadas. No entanto, Morales afirma na crítica ao livro que “ (são) os anos 80 do século XX a completar a localização espácio-temporal” da história (p. 57). A narrativa, na qual está presente a sida (“à data, quase desconhecida”), decorreria assim há mais de vinte anos. Todavia, não existe no romance qualquer informação indicando, excepto em analepses, que os personagens não vivem na actualidade. Aliás, nos anos 80 não existiam elementos de datação apresentados por Pedro Vieira como euros, telemóveis, Internet, consolas portáteis ou o actual Estádio Municipal de Leiria. Na entrevista, Vieira não confirma a ideia de um romance passado… no passado. Diga-se também que, na crítica, Morales equivoca-se ao referir que a personagem Lucas trabalha num banco (na verdade, é num Centro de Emprego, sendo outra personagem, João, a assumir a profissão de bancário). Quanto à informação biográfica sobre Pedro Vieira presente na Os Meus Livros (p. 22), foi copiada da badana de Última Paragem, Massamá. A única diferença está na primeira frase, que passa de “Pedro Vieira nasceu em Lisboa, em 1975, cidade onde vive” a “Nasceu em Lisboa, em 1975, cidade onde reside”. Não sei se é intencional, mas não deixa de ser um recurso literário interessante comparar um ano a uma cidade. Por outro lado, tendo em conta a opção política de Vieira, pode querer-se dar razão a Henrique Raposo, comentador segundo o qual a esquerda portuguesa tem a cabeça ainda nos anos 70.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

The first thing to do is to put the kettle on

Na página 25 do Público de hoje, dedicada aos resultados e classificações dos campeonatos nacionais de futebol, é indicado que na jornada 28 da I Liga (ou Liga Zon Sagres) o Vitória de Setúbal venceu o FC Porto por 4-0. A tabela classificativa atribui aos portistas 77 pontos, resultantes de 25 vitórias, 2 empates e 1 derrota, tendo sido marcados pela equipa de André Villas-Boas 64 golos e sofridos 17. Na verdade, como é sabido, foi o FCP a derrotar no Bonfim o VFC por 4-0 e somar mais três pontos, que se traduzem num total de 80. Ao nível dos golos, os quatro tentos sem resposta de ontem dão origem a uma marca de 68-13.