Encontrar algo útil no meio da tralha é parte essencial do trabalho de um historiador.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Haja sempre esta sede de vencer por Portugal

O primeiro romance de Pedro Vieira, Última Paragem, Massamá (Quetzal, 2011), motiva um texto crítico e uma entrevista com o autor na edição de Maio da revista Os Meus Livros. Ambas as peças são da autoria do director da publicação, João Morales, parecendo terem sido bem preparadas. No entanto, Morales afirma na crítica ao livro que “ (são) os anos 80 do século XX a completar a localização espácio-temporal” da história (p. 57). A narrativa, na qual está presente a sida (“à data, quase desconhecida”), decorreria assim há mais de vinte anos. Todavia, não existe no romance qualquer informação indicando, excepto em analepses, que os personagens não vivem na actualidade. Aliás, nos anos 80 não existiam elementos de datação apresentados por Pedro Vieira como euros, telemóveis, Internet, consolas portáteis ou o actual Estádio Municipal de Leiria. Na entrevista, Vieira não confirma a ideia de um romance passado… no passado. Diga-se também que, na crítica, Morales equivoca-se ao referir que a personagem Lucas trabalha num banco (na verdade, é num Centro de Emprego, sendo outra personagem, João, a assumir a profissão de bancário). Quanto à informação biográfica sobre Pedro Vieira presente na Os Meus Livros (p. 22), foi copiada da badana de Última Paragem, Massamá. A única diferença está na primeira frase, que passa de “Pedro Vieira nasceu em Lisboa, em 1975, cidade onde vive” a “Nasceu em Lisboa, em 1975, cidade onde reside”. Não sei se é intencional, mas não deixa de ser um recurso literário interessante comparar um ano a uma cidade. Por outro lado, tendo em conta a opção política de Vieira, pode querer-se dar razão a Henrique Raposo, comentador segundo o qual a esquerda portuguesa tem a cabeça ainda nos anos 70.

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