Uma das canções “de intervenção” emitidas pelos altifalantes dos carros de campanha da CDU é A Cantiga É uma Arma, do GAC. Autor da letra e música, José Mário Branco reflecte sobre o próprio género da canção de intervenção e um coro entusiasta faz da cantiga uma arma “contra a burguesia”. No entanto, Branco e o conjunto do GAC estavam em 1975-1976 politicamente alinhados com a UDP e o PCP (R), movimentos de extrema-esquerda que lutavam pela constituição de um verdadeiro partido comunista em Portugal, contra os “revisionistas” e “falsos amigos do povo” agrupados no PCP de Álvaro Cunhal. O CD A Cantiga É uma Arma, lançado no ano passado pela Valentim de Carvalho, recupera uma gravação inédita do GAC, Hino da Reconstrução do Partido, que inclui os versos “Fora com os revisionistas/ De Cunhal e sua companhia/Que se mascaram de comunistas/Para melhor servir a burguesia/A traição será vingada/Numa irresistível maré/Pelo Partido que derrubaram/A classe operária está de pé”. Ironicamente, o tema mais célebre do GAC é agora aproveitado na campanha da CDU. Na verdade, a música cedo deixa de pertencer aos seus criadores. Os Xutos & Pontapés não pretendiam originalmente que Sem Eira nem Beira (canção também emitida pelas viaturas comunistas) se transformasse num hino contra José Sócrates.
Soube hoje que são os automóveis do Bloco de Esquerda que difundem "A Cantiga É uma Arma". Esqueçam o que escrevi.
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