Tal como os seus antecessores na Presidência da República, Américo Tomás tinha a função de representação ao mais alto nível do Estado em eventos desportivos (dos quais Salazar geralmente se distanciava). Para além desse papel protocolar, o almirante adepto do Belenenses gostava de realçar o seu passado de desportista e o seu gosto pelas actividades atléticas. O livro Terceiro Ano na Chefia da Nação – 1961 (Orbis – Edições Ilustradas, 1963), com texto e selecção iconográfica de João Patrício, inclui o capítulo “Desporto Nacional” (pp. 139-145), centrado sobretudo em três eventos públicos desse ano particularmente difícil para o Estado Novo: a recepção em Belém à equipa do Benfica campeã europeia de futebol, a final da Taça de Portugal (excepcionalmente realizada no Estádio das Antas) e o festival desportivo do “Dia de Angola”.
A 2 de Junho, os jogadores do SLB são condecorados com a Medalha de Mérito Desportivo, após ouvirem Américo Tomás elogiar a carreira da equipa na Taça dos Campeões Europeus (sete vitórias, um empate e uma derrota), transmitindo-lhes o seu entusiasmo pessoal, comum a todo o país: “Que a sorte esteja com todos no futuro e que consigam trazer para Portugal outros êxitos como este. São os meus votos, que são afinal os votos de todos os desportistas e os votos de todos os portugueses.” Cada condecorado recebe um abraço e “desejos pessoais de felicidades” do PR.
A cidade do Porto acolhe no dia 9 de Julho a final da Taça, disputada por dois clubes da região, Leixões e FC Porto. Convidado pela FPF e pelos finalistas, Tomás parte do Palace Hotel do Buçaco às 16.00 e chega às 17.15 ao Estádio das Antas, onde o aguardam dirigentes do regime, dos clubes e da Federação (presidida por Francisco Mega). O autor do livro destaca as numerosas aclamações dedicadas pelo público ao Chefe de Estado, o qual entrega antes da partida as medalhas de finalistas aos jogadores, incluindo o seu homónimo Américo, guarda-redes do FCP. Durante o intervalo, os dirigentes portistas oferecem a Tomás um emblema e um livro luxuosamente encadernado sobre a história do clube. Consumado o triunfo do Leixões, o PR entrega o troféu aos vencedores, abraça os capitães das duas equipas e regressa ao Buçaco.
Por fim, a 27 de Agosto, o Estádio Nacional acolhe um evento que serve como abertura da temporada de futebol, além de incluir provas de atletismo. As receitas de bilheteira, assim como as de outras manifestações desportivas nesse dia, reverteriam para as “vítimas do terrorismo em Angola”. Verifica-se no Jamor um desfile de atletas e uma demonstração realizada por soldados de Caçadores Especiais, destinados a combater na nova guerra. Um grupo de atletas angolanas, vindas à metrópole para a competição, oferece flores a Tomás, acompanhado na tribuna pelos ministros da Educação Nacional e do Exército, o que produz uma fotografia de belo efeito.
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