Encontrar algo útil no meio da tralha é parte essencial do trabalho de um historiador.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Água e mulher, só boa se quer

O texto mordaz de José de Pina e as ilustrações de João Fazenda tornam Nascido para Mandar. Guia para chegar ao Poder em Portugal (Gradiva, 2004) um livro muito divertido e uma fonte valiosa sobre a política portuguesa (e a imagem pública desta) na transição entre os séculos XX e XXI. O objectivo do “guia” de Pina, na altura um dos argumentistas do Contra-Informação, é indicar ao leitor como alcançar e manter o poder no nosso sistema político-partidário (incluindo o “Partido do Futebol”, cuja influência sobre os políticos era então descoberta), recorrendo a exemplos recentes para analisar como, num cenário de “revolução informática e comunicacional” (p. 12), a forma de fazer política em Portugal se alterou completamente desde os primeiros anos de democracia.


No final da introdução, editor e autor apelam aos leitores para que escrevam a relatar mudanças e novidades entretanto ocorridas, de modo a permitir “fazer uma próxima edição ainda melhor” (p. 13). De facto, Nascido para Mandar veio a público em Maio de 2004, poucos meses antes do consulado de Pedro Santana Lopes, marcado por abundantes episódios que seriam certamente aproveitados por José de Pina. No entanto, a ausência de uma nova edição da obra fez com que esta, sem perder a graça, se desactualizasse em vários aspectos. Por exemplo, Pina ainda aconselha o aspirante a político a fazer uma licenciatura a sério, com a duração de cinco anos e de preferência numa universidade pública (p. 57), assim como afirma, após ponderação e sem ironia, que “não é aconselhável ser presidente ou ter um cargo de muito destaque numa juventude partidária”, indicando razões como a imagem de envelhecimento prematuro fornecida pelos muitos anos de actividade política a “jotas” como António José Seguro (pp. 62-63). Com a excepção do presidente do Governo Regional da Madeira, muito do que é abordado no livro mudou nos últimos dez anos. Deste modo, urge que Pina e Fazenda voltem a trabalhar juntos para criar um Nascido para Mandar que combine a observação satírica dos bastidores partidários com o retrato das circunstâncias políticas do Portugal da troika, naquilo que este tem de cómico e trágico.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Pugnar sempre pela Unidade da Família Portista

Diário do Governo, II Série, 27 de Junho de 1917

“Administração do Concelho de Alter do Chão

Francisco Martins Anacleto, Administrador do concelho de Alter do Chão.
Faz público que se acha detida nesta Administração uma égua de cor castanho claro, de 1m, 32 de altura, cerrada, com malhas brancas no lado esquerdo, e que será entregue a quem provar pertencer-lhe.

Administração do concelho de Alter do Chão, 22 de Junho de 1917. – E eu, Manuel Augusto Alves Pereira, amanuense da Administração, que o escrevi e subscrevi. – Francisco Martins Anacleto.”

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Faça como os outros, invente qualquer coisa

A Voz Desportiva, 2 de Setembro de 1933

“Três competições se estão a dirimir na Volta a Portugal.
Disputam os corredores, com todo o seu esforço, a primazia das classificações; disputam os jornais encher mais colunas de noticiário e dar as últimas notícias da corrida; Banacau, Ovomaltine e Toddy disputam entre si uma fotografiazinha dos ciclistas a tomarem uma tacinha destes produtos alimentícios...

Enfim, é agradável verificar todo este movimento que gira em volta... da Volta!” (p. 1)

sábado, 31 de agosto de 2013

Um golo contra a ansiedade

A vida de António Fernandes Roquete (Salvaterra de Magos, 08.08.1906 – Lisboa, 18.12.1995) foi marcada pela ocupação de posições de destaque em vários meios e períodos, tal como por contradições que reforçam a singularidade do percurso do indivíduo em questão.

António Roquete tornou-se em 1917 aluno da Casa Pia de Lisboa, instituição onde frequentou os cursos comercial e de sargentos milicianos e revelou grandes capacidades para o desporto, nomeadamente nas modalidades de futebol e natação. Como guarda-redes, depois de representar a Casa Pia nas competições escolares lisboetas de futebol, ingressou em 1924 na equipa principal do Casa Pia Atlético Clube. Foi na baliza que se distinguiu como um dos melhores futebolistas portugueses do seu tempo, obtendo igualmente êxitos na natação, onde o casapiano se sagrou campeão de Lisboa na distância de 200 metros bruços. Praticou igualmente pólo aquático (designado na altura em Portugal por water-polo), ao serviço do CPAC, e basebol, quando se verificaram várias experiências desta modalidade na Casa Pia.

Frequentemente convocado para selecções de Lisboa envolvidas em jogos inter-regionais ou internacionais, Roquete foi por 16 vezes (entre 1926 e 1933) o guarda-redes da selecção nacional de futebol. Nessa condição, esteve presente nos Jogos Olímpicos de Amesterdão (1928), onde o misto português alcançou os quartos-de-final do torneio de futebol, um feito vivido intensamente em Portugal por centenas de milhares de pessoas que se reuniram em Lisboa, Porto e outras cidades do país para acompanhar os três jogos disputados pela equipa lusa e, aquando do regresso da comitiva portuguesa, acolheram em festa os jogadores. Neste contexto de massificação do futebol, Roquete é um exemplo dos primeiros “heróis desportivos” portugueses, sendo os seus “feitos” observados por crescentes multidões que se deslocam aos recintos de jogo e transmitidos em texto e imagem pela imprensa à escala nacional. Apesar do CPAC, cuja área de recrutamento se limita à comunidade casapiana, se revelar progressivamente incapaz de competir com os seus rivais lisboetas, as qualidades desportivas de Roquete tornam-no uma das mais populares figuras do futebol português, oficialmente amador.

Cerca de 1929, António Roquete entrou para a Polícia Internacional (criada pelo Decreto nº 15 884, de 24 de Agosto de 1928), uma força dedicada ao controlo das fronteiras nacionais que, em 1931, ganharia funções abertamente políticas e ficaria sob o comando do capitão Agostinho Lourenço. Lourenço seria igualmente o director da Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (PVDE), formada em 1933 a partir da fusão da então Polícia Internacional Portuguesa com outros organismos criados pela Ditadura Militar com o fim de combater os opositores desta. Entre 1931 e 1934, Roquete passa pelos postos fronteiriços da PIP/PVDE em Marvão, Elvas e Valença. Além de chefiar estes últimos dois postos, mantém a actividade futebolística ao jogar pelos clubes Sport Lisboa e Elvas e Sport Clube Valenciano, que disputam desafios (aos quais a presença do “internacional” português ajuda a atrair público) com colectividades vizinhas dos dois lados da fronteira. O trabalho do agente de 1ª classe António Roquete na vigilância da fronteira impressiona Agostinho Lourenço, o que vale ao casapiano vários louvores (Roquete é considerado inocente das acusações, não especificadas nas ordens de serviço da PVDE, que lhe são feitas por um subordinado, depois expulso da polícia política) e a promoção, em Dezembro de 1934, a inspector de fronteira. Em 1935, Roquete lidera a nova Inspecção da PVDE, em Coimbra, antes de voltar a Lisboa (será mais tarde transferido para a Delegação do Porto, antes de se fixar na sede da corporação), onde, no início de 1936, termina no Casa Pia a carreira de futebolista, quando é considerado pela crítica o melhor guarda-redes português de sempre (estatuto que perderia nas décadas seguintes, devido ao surgimento de novos valores). A sua ascensão na polícia política prossegue, confiando-lhe Lourenço a liderança de uma brigada que, em 1939, se desloca a Moçambique, numa missão relacionada com a iminente visita à colónia do Presidente da República, Óscar Carmona O nome de António Roquete será associado pela oposição ao Estado Novo a dois acontecimentos ocorridos em 1942: a prisão e espancamento do jornalista e treinador Cândido de Oliveira (amigo e protector de Roquete) e o assassinato do médico comunista António Carlos Ferreira Soares. No entanto, permanece incerto o papel que Roquete teve (ou não) nessas duas acções repressivas da PVDE.

Uma portaria do Ministério das Colónias de 29 de Maio de 1945 nomeia Roquete para o cargo (ainda vago dois anos depois da sua criação) de chefe de secção do quadro eventual do Corpo de Polícia de Moçambique, do qual tomará posse ao chegar a Lourenço Marques em Setembro de 1947. Dentro do Corpo de Polícia, os funcionários do quadro eventual (convertido pelo Decreto nº 38 043, de 8 de Novembro de 1950, na Polícia Internacional, onde Roquete assume o cargo de adjunto, com funções idênticas às anteriores) encontravam-se encarregues da vigilância das fronteiras moçambicanas e da repressão da oposição ao salazarismo na colónia. Durante treze anos, Roquete irá dirigir o combate, com técnicas semelhantes às utilizadas na Metrópole, a grupos como advogados ligados à oposição republicana, ex-militantes do Partido Comunista Português estabelecidos em Moçambique e jovens que constituirão o embrião do nacionalismo moçambicano. As eleições presidenciais de 1949 e 1958 são duas das ocasiões onde a contestação ao regime é visível, especialmente em Lourenço Marques. No ano de 1960, quando a vinda de meios e pessoal de Lisboa permite o estabelecimento efectivo de uma delegação da PIDE em Moçambique autónoma da polícia local, Roquete aposenta-se do serviço público, alegando doença, e torna-se chefe de segurança do Banco Nacional Ultramarino em Lourenço Marques. Poucos anos depois, o casapiano ingressa nos quadros de uma empresa controlada pelo BNU, a Caju Industrial de Moçambique, dedicada à industrialização e comercialização de castanha de caju, uma actividade económica então em plena expansão no território. Entretanto, Roquete participa no associativismo dos casapianos residentes na colónia e acompanha à distância a vida do CPAC.

Extinta pelo 25 de Abril a polícia política na Metrópole, em Moçambique vivem-se semanas de incerteza até que os antigos membros da PIDE residentes no território são obrigados a apresentar-se às autoridades militares, o que motiva a fuga da maioria para a Rodésia e África do Sul. Ignora-se como Roquete saiu de Moçambique e voltou para Portugal, onde a Comissão de Extinção da PIDE/DGS emitirá um mandado de captura em nome do subinspector António Fernandes Roquete, datado de 3 de Novembro de 1975, sem que existam indícios de uma eventual prisão do visado. Em Janeiro de 1977, Roquete toma conhecimento da ordem de libertação provisória que o submete a várias condições enquanto aguarda julgamento (não sabemos ainda se e quando este se realizou). Nos anos seguintes, as poucas notícias sobre a actividade de Roquete estão geralmente ligadas ao Casa Pia, promotor de uma homenagem pública prestada ao antigo guarda-redes e a outros dois atletas dos primeiros anos do clube em 5 de Outubro de 1995. Dois meses depois, António Roquete, casado (desde 1934), com dois filhos e três netos, morre devido a uma broncopneumonia, sendo enterrado em Salvaterra de Magos.

Apesar dos elogios da crítica jornalística e do público que recebeu no período em que jogou, o facto de Roquete não ter vestido, a não ser episodicamente, a camisola de nenhum dos clubes mais populares e mediáticos do país, como Belenenses, Benfica, FC Porto ou Sporting, reduziu a presença do seu nome na memória futebolística durante as décadas posteriores, sem o apagar, como demonstra o minuto de silêncio em sua homenagem respeitado nas competições nacionais no fim-de-semana seguinte à morte do casapiano. Por outro lado, a participação nas polícias de defesa da Ditadura Militar e do Estado Novo e o contacto com presos políticos inseriram Roquete noutras memórias colectivas, como as do “antifascismo”, da repressão conduzida pelo regime de Salazar ou do início do movimento independentista em Moçambique.

sábado, 24 de agosto de 2013

Greve geral até ao Natal


Depois de concluir, com o estudo da I República, os doze primeiros volumes da sua História de Portugal, Joaquim Veríssimo Serrão foi além do plano original e passou à reconstituição dos acontecimentos do período entre 1926 e 1974, para o qual prefere a designação “II República” à de “Estado Novo”. Acerca desta fase da história portuguesa, o historiador escalabitano publicou até agora seis volumes, abordando o volume XVIII (Verbo, 2010) os anos entre 1960 e 1968, que terminam com a queda de Salazar e a subida à Presidência do Conselho de Marcelo Caetano. De acordo com o anunciado por Veríssimo Serrão, o período de governo do seu amigo Caetano (correspondência trocada entre os dois antes e depois do 25 de Abril encontra-se publicada) ocupará o volume XIX e último da História de Portugal, possivelmente já concluído pelo autor mas ainda inédito.

Se, de acordo com as introduções dos diversos volumes da monumental obra, a origem do impulso que levou Joaquim Veríssimo Serrão a lançar, em 1977 (quando se encontrava fora da docência por ter sido saneado pelo novo regime), o projecto da sua História de Portugal se encontra nas críticas injustas a grandes figuras do passado nacional e ao esforço colonizador dos Portugueses feitas, na sua opinião, durante os anos revolucionários, os trabalhos do investigador sobre o período posterior ao 28 de Maio orientam-se pela preocupação de reabilitar os protagonistas da ditadura. É pena que, na defesa intransigente desta, Veríssimo Serrão proceda a uma leitura acrítica de um âmbito reduzido de fontes (para narrar os eventos políticos de 1960-1968, o autor recorreu sobretudo ao Diário do Governo, aos discursos de Salazar, às memórias de Américo Tomás e aos livros de Franco Nogueira) e, nas obras citadas em rodapé, omita propositadamente quase toda a historiografia sobre o Estado Novo produzida nas últimas décadas (no volume XVIII, uma excepção é a compilação feita por Filipe Ribeiro de Meneses da correspondência produzida pelos diplomatas irlandeses acreditados em Lisboa entre 1941 e 1970, cuja publicação é saudada por Veríssimo Serrão). No entanto, existem vários aspectos úteis no volume XVIII da História de Portugal, como o tom autobiográfico (Veríssimo Serrão recorre frequentemente a contactos e experiências pessoais para ilustrar os factos narrados), o registo de grande parte das nomeações oficiais, que contribui para um melhor conhecimento do pessoal político, militar, colonial e diplomático do regime de Salazar, ou a descrição do “itinerário” de Américo Tomás, interessante para a história das localidades visitadas pelo então Presidente da República.

No que respeita ao futebol, cuja visibilidade pública se tornou (ainda) maior nos anos 60 devido aos êxitos da selecção, do Benfica e do Sporting em competições internacionais, Veríssimo Serrão (que, relativamente aos acontecimentos desportivos, complementa a sua memória com a consulta da revista O Século Ilustrado) parece dar argumentos aos que defendem a existência de uma relação próxima entre a ditadura e o desporto-rei. De acordo com Serrão, a satisfação das multidões que assistiam aos jogos dos seus clubes preferidos tinha “os seus efeitos políticos” (p. 22) e os responsáveis da II República beneficiavam das relações cordiais que estabeleciam com o meio futebolístico, expressas em deslocações aos recintos desportivos aquando de ocasiões especiais, como a inauguração, em 6 de Outubro de 1960, do terceiro anel do Estádio da Luz, onde Américo Tomás recebeu uma ovação, apesar das manifestações que no dia anterior tinham sido promovidas por opositores da ditadura (p. 23). Além disso, o desporto servia como “factor de aglutinação dos Portugueses” da Europa e de África, já que muitos futebolistas naturais de Guiné, Angola e Moçambique actuavam então em clubes da metrópole, cujos adeptos os idolatravam, sem “nenhum preconceito racial” (p. 22). Moçambicanos como Eusébio e Coluna “foram saudados na metrópole como irmãos portugueses” (p. 425) e integraram a selecção nacional que brilhou no Campeonato do Mundo de 1966, obtendo um terceiro lugar que, para Veríssimo Serrão, “constituiu um refrigério para a vida diplomática” de Portugal (p. 223), então atacado nas Nações Unidas devido à prática de colonialismo (desmentida pelo autor de História de Portugal, que reproduz as teses defendidas por Salazar e Franco Nogueira) em África.


Joaquim Veríssimo Serrão designa a conclusão da História de Portugal como “um dos derradeiros vínculos que me prendem ao mundo da vida” (p. 13), incentivando a curiosidade dos leitores sobre como o velho historiador contará o marcelismo. Além dos êxitos governativos que provavelmente atribuirá a Caetano, interessa saber que causas Veríssimo Serrão encontrará para o 25 de Abril, o qual pôs fim à existência de Portugal como “nação euro-ultramarina” e, na óptica do investigador, inviabilizou o projecto a longo prazo para a África portuguesa formulado pela II República.

domingo, 4 de agosto de 2013

Não consigo aceitar a ideia de comer coelho


Na rubrica “As férias da minha vida” da Visão de 19 de Julho de 2007, o deputado do PSD Miguel Relvas assina o seguinte texto:

“Brasil, 2000

As minhas férias maravilha foram passadas no Brasil, há sete anos – faz em Agosto -, com a minha mulher e filha (...). Passámos dois dias em Salvador da Baía, a fazer um roteiro de turismo cultural e depois fomos descansar para um resort na Ilha de Comandatuba (Ilhéus), onde se podia fazer quase tudo. Havia ginásio, actividades na piscina, de hora a hora, sauna, motas de água, até uma pista de aviação havia na ilha. Tinha uma das paisagens mais bonitas que já vi. Deu para “giboiar” (brasileirismo para descansar), olhar para o céu, passar a tarde a dormir nas redes suspensas, ler. Foram umas férias dedicadas a Eça de Queirós. Li a tese de doutoramento da Maria Filomena Mónica sobre Eça e o Dicionário Gastroeconómico (sic) Cultural de Eça de Queirós, do Dário Castro Alves. Não voltei mais à ilha. Sempre ouvi dizer que o segundo prato de sopa nunca sabe tão bem como o primeiro e que nunca se é feliz duas vezes no mesmo lugar.” (p. 38)



Miguel Relvas manifestava já uma forte ligação sentimental ao Brasil, recentemente realçada pelo cargo que assumiu. No entanto, a referência do então deputado às duas obras sobre Eça de Queirós que leu em Ilhéus (os livros de Mónica e Castro Alves integram esta lista bibliográfica sobre Eça) provoca dúvidas. Maria Filomena Mónica doutorou-se em Sociologia pela Universidade de Oxford, através de uma tese com o título português Educação e Sociedade no Portugal de Salazar (Presença, 1978), e a sua biografia de Eça de Queirós foi publicada pela primeira vez em 2001, um ano depois das férias paradisíacas de Relvas na ilha de Comandatuba (em 2000, de resto, foi oficialmente assinalado o centenário da morte de Eça). O título correcto do trabalho (em dois volumes) referido do embaixador Dário Moreira Castro Alves é Era Tormes e Amanhecia. Dicionário Gastronómico Cultural de Eça de Queirós (Livros do Brasil, 1992). A gralha existente no depoimento de Relvas é, curiosamente, idêntica à da ficha do livro na livraria online Wook. Houve, decerto, algum lapso por parte da Visão ou do futuro ministro.

Ou então, Relvas mentiu em 2007 para dar uma imagem de si mesmo diferente da realidade. Mas isso é pouco provável.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Ministra foi mostrar o buraco


O Norte Desportivo, 15 de Março de 1934

“Camionete para Lisboa no dia do Portugal-Espanha

Na Tabacaria do café “Brasileira” encontra-se aberta a inscrição, ao preço de 70$00, para viagem a Lisboa (em) luxuoso auto-car por ocasião do Portugal-Espanha.

A partida será no sábado às 15 com regresso na 2ª feira às 18.” (p. 3)

domingo, 14 de julho de 2013

Parreira burro, mete Ronaldo


Desporto, 2 de Maio de 1975

Duarte Pimentel: “ (...) Sábado, 26 (de Abril)

Ao cair da noite de hoje, as posições já estão definidas. O Partido Socialista é o grande vencedor destas eleições (...). Para nós, fica-nos como a conclusão mais importante o facto de que, após meia centena de anos de uma ditadura regressiva, se dá este facto espantoso: 70 por cento da população portuguesa, embora sujeita a condicionalismos de toda a espécie, votou no marxismo!

E com ele a certeza de que o nosso desporto continuará a manter e a avançar, dentro da linha progressista, por que se vem orientando desde o 25 de Abril.” (p. 16)

domingo, 7 de julho de 2013

António, traz-me uma vespa

Mais que um romance, Madrugada Suja (Clube do Autor, 2013) constitui uma exposição da visão de Portugal do seu autor, Miguel Sousa Tavares. De resto, o enredo (que serve as digressões temáticas do romancista e não o contrário) é pobre e as personagens mal construídas, longe do que Sousa Tavares mostrou ser capaz de fazer em Equador. Para lá de ocasionais gralhas, existem várias incongruências, não se percebendo bem se a história se passa em 1997 ou na actualidade. Em compensação, encontramos elementos familiares do universo do escritor (caça, peixe, Alentejo, FC Porto, etc.) e as opiniões ácidas de Sousa Tavares sobre temas das últimas décadas como a Reforma Agrária, a suburbanização, a corrupção nas autarquias, a construção ilegal em áreas protegidas, a justiça, o jornalismo, os partidos, a arquitectura e o envolvimento dos ciganos no tráfico de droga, entre outros.


Miguel Sousa Tavares não deixa de se referir, aqui sem alusões circenses, a Cavaco Silva (não escrevendo o nome deste), visto assim pelos olhos de uma personagem da mesma família política do algarvio: “ (...) um enfatuado, que se referia a si próprio como “o Presidente”, e que gostava de se demarcar dos seus pares e afirmar-se como um homem sério, face à miséria endógena dos “políticos” – muito embora a sua ascensão ao topo tivesse sido toda ela feita de manobras, conspirações e jogadas meticulosamente calculadas da mais banal política. Subira sem jamais se prestar aos combates de risco, cultivando uma imagem de homem íntegro, diferente, sem vícios nem fraquezas. (...) o Presidente nunca se misturara, nunca se arriscara, nunca vira nada, nunca soubera de nada. E, quando os seus próximos caíam na lama, virava a cara para o lado e fazia um ar pesaroso, de amigo enganado. (...)” (pp. 330-331)

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Varrer Cavaco do nosso dia-a-dia

Desporto, 16 de Maio de 1975


Legenda de fotografia: “Freitas (Belenenses) e Yazalde (Sporting), ou o rico estrangeiro e o proletário negro, em disputa da bola. Freitas anulou completamente o argentino. Aliás, a história diz o mesmo: o proletariado vencerá!” (p. 3)

sábado, 29 de junho de 2013

O hoje é o ontem de amanhã

No XI Congresso da Juventude Social Democrata, em 1994, iniciou-se um novo mandato da Comissão Política Nacional da organização, presidida desde 1990 por Pedro Passos Coelho. Então com 30 anos, Passos Coelho apresentou-se ao sufrágio dos militantes com uma lista que incluía ainda Nuno Freitas, Pedro Gomes, José Paulo, João Luís Gonçalves, Jorge Moreira da Silva (futuro sucessor de Passos na liderança da “jota”), Rui Martins, Feliciano Barreiras Duarte, Tó Silva, Francisco Braga, Carlos Reis, Gonçalo Capitão e Cristina Melo. A moção de Passos Coelho ao congresso, Acertar o Passo, foi editada num pequeno livro onde os membros da lista são identificados com uma fotografia e uma breve citação sua (a frase do líder é “Adiar é perder”).

Na introdução de Acertar o Passo, Passos Coelho reclama maior autonomia para a JSD, “lutando contra o contágio da acomodação e a facilidade do jogo interno do PSD” (p. 3), e alerta para o desencanto crescente com o cavaquismo que se seguira à esperança na base das maiorias absolutas de Cavaco Silva. A moção apresenta propostas dos jovens sociais-democratas sobre temas como educação, combate à droga, União Europeia, mudanças no sistema político (como o desaparecimento da idade mínima legal de 35 anos para os candidatos à Presidência da República) ou medidas governativas viradas para a juventude.

A nível ideológico, Passos Coelho considera que seria “criminoso negar os problemas actuais do Estado-Providência”, mas “igualmente infame” aproveitar um contexto de crise económica (20 milhões de desempregados nos 12 países comunitários) “que penaliza com especial severidade as classes média e baixa” para “contrapor modelos neo e mesmo ultra-liberais de putativa vanguarda da teoria económica” (p. 4). Por outro lado, impõe-se em 1994 “uma nova lógica de protecção social”, uma vez que “o Estado Social avançado tende a dissociar o esforço da recompensa, criando desincentivos ao trabalho, à poupança e ao espírito de iniciativa” Não é aceitável, para o presidente da JSD, que “grande parte dos recursos sejam dispendidos a indemnizar quem não tem trabalho em vez de o ser com a criação de condições para lhe permitir o regresso ao trabalho” (p. 6).


Pedro Passos Coelho deixaria a liderança da JSD no ano seguinte, candidatando-se à presidência da Câmara da Amadora nas autárquicas de 1997, quando foi eleito vereador.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Toda uma portuguesíssima gente que gosta de vocês


Boletim do Sporting Club de Portugal, 31 de Maio de 1930

“O atletismo é o desporto para todos.
Praticar atletismo é cuidar da sua educação física.

Treinos às terças, quintas e sábados, das 17 às 18,30 horas.” (p. 180)

sábado, 15 de junho de 2013

Um extremo cansaço de se ser infeliz

O interesse historiográfico do estudo da vida de António Fernandes Roquete (1906-1995) reside em boa parte na diversidade de meios onde o biografado se moveu e na abundância de temas e períodos que o caso pessoal de Roquete pode contribuir para compreender melhor. No entanto, seria errado analisar Roquete como um mero exemplo de determinados grupos e épocas, sem ter em conta as suas características individuais e a singularidade do seu percurso. Para lá do facto de ter sido simultaneamente um desportista célebre e um elemento importante na hierarquia das polícias políticas da Ditadura Militar e do Estado Novo, a sua vida foi marcada por numerosas contradições.

Assim, embora o apelido “Roquete” estivesse associado, no início do século XX, a uma família da elite local (em Salvaterra de Magos) e nacional (dela provinham vários dos fundadores do Sporting), António foi pobre e inscrito como aluno da Casa Pia de Lisboa. Apesar desse baixo estatuto económico-social, tornou-se, através do desporto, uma personalidade conhecida a nível nacional e mesmo internacional. Guarda-redes do Casa Pia Atlético Clube em anos nos quais os “gansos”, depois do sucesso inicial, perderam terreno para os seus rivais lisboetas, Roquete projectou-se como um dos ídolos do futebol português e foi por várias vezes o único jogador do CPAC convocado para a selecção nacional. Após aceitar uma proposta para jogar num clube do Funchal, deixou a Madeira sem ter participado num único encontro. Futebolista num tempo onde vigorariam, supostamente, em Portugal o amadorismo puro e o “amor à camisola”, recebeu dinheiro para jogar e foi abordado por clubes estrangeiros. Possuindo a vivência de partidas em grandes recintos a abarrotar de público e competições como o torneio olímpico de futebol, Roquete mostrou o seu talento nos campos com escassas condições de pequenos clubes de Elvas e Valença. A formação obtida na Casa Pia, em especial o conhecimento de línguas estrangeiras, e a experiência de viagens ao Brasil e a vários países europeus diferenciavam-no, no início da década de 30, da maioria dos subordinados do capitão Agostinho Lourenço na polícia política. A abundância de fotografias  de Roquete publicadas na imprensa durante os anos 20 e 30 contrasta com a dificuldade que os investigadores actuais sentem em encontrar imagens dos responsáveis das polícias políticas anteriores à PVDE. Admirado por casapianos e outros adeptos do futebol, Roquete converteu-se em alvo do ódio dos opositores à ditadura e ao colonialismo. Amigo e protegido de Cândido de Oliveira, foi acusado de colaboração na prisão e espancamento do treinador, antes de participar, anos mais tarde, em homenagens públicas a Cândido. Ao fim de décadas como servidor do Estado na repressão dos crimes políticos, deixou a polícia e iniciou uma carreira no sector privado (embora as fronteiras entre o Estado e os agentes económicos, no Moçambique colonial, estivessem longe de ser rígidas). Aparentemente, António Roquete escapou à passagem pela prisão que o 25 de Abril implicou para muitos dos antigos membros da PIDE/DGS. Para estes, findos os problemas com o sistema de justiça política, seguiu-se frequentemente um percurso na obscuridade e marcado pelo desprezo colectivo, enquanto Roquete continuou a ser um herói do Casa Pia e, pouco antes de morrer, foi homenageado como “glória” do desporto português, sendo a sua morte assinalada pelo meio futebolístico.


Teria a história portuguesa evoluído da mesma forma se António Roquete não tivesse existido? Provavelmente sim, mas, se não fosse a exibição espantosa do guarda-redes casapiano, Portugal teria sido derrotado pela Argentina no jogo disputado em 1 de Abril de 1928 no Lumiar.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Com Pregomia este gajo não fugia

No ano passado, o PCP realizou em Santa Maria da Feira a tradicional homenagem anual a António Ferreira Soares, médico e militante comunista que em 4 de Julho de 1942, quando se encontrava na localidade de Nogueira da Regedoura (onde era protegido pela população, à qual prestava auxílio médico gratuito), foi alvo de uma cilada e assassinado pela PVDE. O nome de Ferreira Soares passou a integrar a lista dos “mártires” do PCP, vítimas da repressão salazarista e referidos nos documentos publicados pelo partido. A propósito dos 70 anos da morte de Ferreira Soares, a romagem ao cemitério da Feira contou com a presença do secretário-geral comunista, Jerónimo de Sousa (em 1992, Álvaro Cunhal participou na cerimónia, recordando que se encontrava no Norte quando soube do assassinato), e um discurso proferido por este.

O discurso de Jerónimo é interessante quer pelo ataque do líder comunista à campanha “levada a cabo pelo exército de historiadores de serviço e difundida pelos difusores de serviço” que estará a desvalorizar a violência promovida pelo Estado Novo e o papel do PCP na resistência à ditadura, quer pelo resumo das actividades oposicionistas desenvolvidas durante a II Guerra Mundial. É feita uma enumeração das povoações e sectores laborais onde ocorreram greves e outras acções de protesto, assim como são referidos os movimentos unitários (MUNAF, MUD, MUDJ) onde diversas correntes da oposição colaboraram no ataque a Salazar. Naturalmente, Jerónimo de Sousa atribui ao seu partido, então em fase de reorganização e crescimento sob a direcção de Álvaro Cunhal, a liderança das movimentações populares e da “unidade anti-fascista”.


O político descreve da seguinte forma o assassinato de António Ferreira Soares: “uma falsa doente, acompanhada por um inspector e dois agentes da PVDE, solicita-lhe uma consulta de urgência, pedido a que ele (...) acede, recebendo a falsa doente em casa de sua irmã. Depois foram as 14 balas de pistola metralhadora disparadas à queima-roupa. (...)” De acordo com a narrativa dos acontecimentos de 4 de Julho de 1942 que tem sido divulgada pelo PCP, o inspector da PVDE referido por Jerónimo seria António Roquete, que comandava então os agentes Leonel Laranjeira e José Rodrigues Coimbra. No entanto, os nomes dos intervenientes e os pormenores da morte de Ferreira Soares divergem várias vezes nas fontes (do PCP ou de outras origens), numa situação que dificulta o esclarecimento do que se passou em Nogueira da Regedoura naquele dia. Certa é apenas a informação de que foi Leonel Laranjeira o único elemento da PVDE a ser julgado, em 1943, pelo crime, e a obter do Tribunal Militar Territorial do Porto a absolvição, a partir da conclusão de que Laranjeira disparara sobre o médico comunista em legítima defesa.

terça-feira, 4 de junho de 2013

Tens o cabelo diferente, Miguel

Avante!, Nº 155, Janeiro de 1951

“Os futobolistas (sic)
Azevedo, Veríssimo, Francisco Ferreira, Capela, Bentes e Barros
São da PIDE

Apupai-os nos campos de jogos!” (p. 1)

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Os bebés de hoje são os alicerces da raça

O Playboy que Chora nas Canções de Amor (Verso da Kapa, 2007) revela, entre posts, crónicas, contos, humor e tragédia, o mundo de Luís Filipe Borges, numa antologia reeditada em 2010 com o título A Vida É Só Fumaça (apenas a capa foi alterada, permanecendo inclusive o texto onde Borges explica o título original). O argumentista açoriano, actualmente um dos apresentadores do 5 Para a Meia-Noite, expõe de forma confessional os seus sentimentos e ambições, alternando o sorriso com a emoção. No entanto, embora o resultado seja bastante interessante e superior ao do livro anterior de Borges, Sou Português... e Agora? (A Esfera dos Livros, 2006), fica-se com a sensação que o Boinas não ultrapassa uma dada fasquia, ou seja, é médio mas não é brilhante, quer dizer, sabe dar uns toques na bola mas não faz o público vibrar... em resumo, Luís Filipe Borges não é Ricardo Araújo Pereira, agora premiado pela APE pelo livro Novas Crónicas da Boca do Inferno.

Apesar de terem em comum a origem nas Produções Fictícias, o gosto pela literatura e a presença assídua no Estádio da Luz, Borges e Araújo Pereira estão longe de serem amigos. A propósito do livro de poesia Mudaremos o Mundo Depois das 3 da Manhã (Tágide, 2003), onde Borges inclui, entre outros, o poema “Mãe”, os Gato Fedorento conceberam o sketchGente que não vai a lado nenhum” (um dos poucos das quatro séries de Gato Fedorento que parecem ter sido criados a pensar especificamente numa pessoa), onde satirizam Boinas e os amigos deste (como o actor Tiago Rodrigues), que, pelos vistos, se dedicam com paixão ao elogio mútuo. As razões da zanga entre os humoristas não são claras, mas ainda não foram totalmente esquecidas por Luís Filipe Borges, que, numa entrevista recente à Notícias TV, sem nomear o quarteto, afirma: “Quero é enterrar machados, passou, que se lixe! Quero é que os gajos sejam felizes a fazer as cenas deles.” Na verdade, há espaço para todos no humor (e nos livros) em Portugal.


quinta-feira, 23 de maio de 2013

Comedores de lagosta com os impostos do povo


Director da PIP (Polícia Internacional Portuguesa) desde 1931 e da PVDE (Polícia de Vigilância e Defesa do Estado) a partir de 1933, o capitão Agostinho Lourenço, homem de confiança de Salazar, preocupou-se em reforçar a disciplina dos funcionários da polícia política, com o objectivo de evitar comportamentos que prejudicassem a imagem desta, especialmente junto de outras entidades estatais (segundo Lourenço, quando assumiu a liderança da PIP, antes da depuração que levou a cabo, eram frequentes os conflitos e queixas das autoridades locais em relação à má qualidade profissional dos agentes). As ordens de serviço dos primeiros anos de vida da PVDE incluem numerosas punições a funcionários desta, justificadas por motivos como corrupção, abuso de autoridade ou desleixo no cumprimento do dever (maus tratos a prisioneiros não são causa de punição). São igualmente frequentes as directivas de Lourenço no sentido dos seus subordinados evitarem situações embaraçosas para o prestígio da PVDE, como o contacto dos agentes com prostitutas. Na OS nº 173, de 22 de Junho de 1934, encontra-se um exemplo das sanções aplicadas aos “elementos maus” da polícia, que poderiam ir da repreensão averbada à expulsão da PVDE, dependendo da gravidade da falta e do comportamento anterior do visado:

“Que seja punido com dez dias de suspensão de exercício e vencimento, o agente José Júdice Leote Cavaco, porque, valendo-se da sua situação de agente desta Polícia e esquecendo as recomendações mais de uma vez feitas, interveio numa questão passada entre duas mulheres de vida fácil, com uma das quais está amancebado e tendo tomado o partido desta, entrou violentamente em casa da outra, invocando a sua autoridade, para a invectivar e ameaçar com prisão. Este agente esqueceu-se do respeito que deve a si próprio e à Corporação a que pertence e demonstrou não ter exacto conhecimento da responsabilidade que advém da autoridade de que qualquer funcionário policial está investido, autoridade que não se deve exorbitar para se não cair no ridículo ou na censura do público a cujo respeito e consideração só se poderá impor pelo seu porte moral e correcto proceder.”

Em Outubro desse ano, José Cavaco “marchou em diligência” no dia 4, regressando dois dias depois, e voltou a executar uma missão em 10 de Outubro. No entanto, a ordem de serviço nº 286, de 13 de Outubro de 1934, inclui o seguinte despacho: “Que seja demitido desde 11 do corrente, por ter abandonado o serviço nessa data, o agente nº 56/56 da SI (Secção Internacional), José Júdice Leote Cavaco.”

segunda-feira, 20 de maio de 2013

E eu não estou para ser c...


Na época de 2010/11, Miguel Sousa Tavares (adepto do FC Porto) escreveu na sua coluna semanal em A Bola que os portistas deveriam mentalizar-se de que não era possível obter no mesmo ano o campeonato sem derrotas, a Liga Europa e a Taça de Portugal. Sensivelmente a meio de 2011/12, quando o novo treinador dos “dragões”, Vítor Pereira, recebia fortes críticas de Sousa Tavares, o comentador considerou que o campeonato se encontrava já decidido a favor do então líder Benfica. Já perto do final da Liga de 2012/13, Sousa Tavares concluiu que o título estava entregue, com todo o mérito, à equipa de Jorge Jesus. Esta impressionante capacidade de prever o futuro (numa tendência inversa à de Vítor Gaspar, que antevê sempre que as coisas vão correr melhor do que realmente acontece) leva os portugueses a desejar que Miguel Sousa Tavares, o mais cedo possível, afirme que o país não tem qualquer hipótese de sair da crise.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Onde se incluía Soares Socialista


Ricardo Serrado foi recentemente entrevistado pelo Público e pela Antena 3 (no programa Prova Oral, de Fernando Alvim), a propósito do livro O Estado Novo e o Futebol (Prime Books, 2012). Além de questões ligadas à história do futebol português, como as origens de Benfica e FC Porto e as relações da modalidade com o poder político durante o Estado Novo, Serrado aborda a sua concepção pessoal do desporto-rei e o papel que este ocupa na sociedade.

No que respeita às declarações concedidas ao Público, é pena que o historiador não desenvolva mais o problema da falsificação da suposta acta de fundação do Sport Lisboa (em que contexto e com que objectivos o documento terá sido forjado?), tal como as divergências entre Serrado e os responsáveis do Benfica, relativamente às novas informações sobre os primeiros anos do clube, que terão levado o investigador a dar por findo o trabalho que desenvolvia no Centro de Documentação do SLB e na concretização do Museu Cosme Damião (um espaço ainda com data de abertura incerta).

terça-feira, 7 de maio de 2013

A TNT, a Telemel e a Pessimus



Notícias de Valença, 16 de Novembro de 1933

“Lindbergh em Valença

Devido ao nevoeiro, foi obrigado a amarissar (sic) no Rio Minho, às 16 horas do dia 13 do corrente, entre Lapela e Friestas, o hidro-avião pilotado pelo aviador americano Lindbergh e sua esposa.
Logo que aqui foi conhecida a amaragem, partiram para ali as autoridades, em automóvel, regressando pouco depois acompanhados do aviador e sua esposa, tendo jantado no Hotel Valenciano acompanhados do sr. Administrador do concelho, comandante da secção da G.N. Republicana, chefe da polícia Internacional e o director da Delegação Aduaneira de Valença e um intérprete.
O aviador Lindbergh e sua esposa, acompanhados das autoridades, seguiram, depois do jantar, para bordo do hidro-avião, onde os aviadores pernoitaram, tendo no dia 14 regressado a Valença e almoçado no Hotel Valenciano, acompanhados das autoridades locais.
Sua exa. partiu ontem às 10 e 50 depois de ter voado sobre Valença.” (p. 3)

sábado, 4 de maio de 2013

Comezainas de ensopados a nadarem em manteiga de porco



Notícias de Valença, 16 de Agosto de 1934

“Na igreja matriz de Viana do Castelo, realizou-se ontem o casamento religioso da nossa gentil patrícia sra. D. Maria da Silva Bacelar, filha do proprietário e capitalista sr. António da Costa Bacelar e da sra. D. Adelaide Ribeiro da Silva Bacelar, com o sr. António Roquette, chefe da Polícia Internacional nesta vila.
Testemunharam o acto, por parte da noiva seus pais e por parte do noivo a sra. D. Antónia Ribeiro da Silva e o sr. António Lima da Costa Bacelar, respectivamente tia e irmão da noiva.
Aos noivos que são dignos das maiores felicidades, deseja o Notícias de Valença uma perpétua lua de mel.” (p. 3)

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Quanto aos socialistas, não me metem medo



Premiere (Portugal), Outubro de 2008

“Smith, Maguire e Damon: vêm aí os heróis!

Um faraó, um super-herói, um intocável detective: Will Smith, Tobey Maguire e Matt Damon serão os heróis de acção da próxima temporada. O ex-Príncipe de Bel Air viajará até ao Egipto do século VII AC para converter-se num faraó em The Last Pharaoh, um filme épico com argumento de Randall Wallace (Braveheart). Maguire protagonizará as próximas duas sequelas da saga Homem-Aranha, novamente com Sam Raimi. James Vaderbelt (Zodiac) já está a escrever o argumento de Homem-Aranha 4, que vai começar a rodar-se em 2009. E por último, Damon será Eliot Ness  em Torso, uma adaptação de David Fincher de um comic de Brian Bendis, que conta a perseguição a um assassino em série na América dos anos 30. A rodagem começa em Janeiro para se estrear em 2010.” (p. 26)

domingo, 21 de abril de 2013

Se queres ficar como estás, vota no Tomás


Está em exibição o quinto Scary Movie, agora sem Anna Faris. Apesar do sucesso de bilheteira, o entusiasmo provocado pela série tornou-se geralmente nulo há muito tempo, à medida que se sucediam as sequelas vazias de ideias. No entanto, quando surgiu o primeiro Scary Movie, dos irmãos Wayans, o tipo de humor usado parecia pouco comum até então, ultrapassando, na ousadia e mau gosto, as comédias dos Farrelly (Doidos à Solta, Doidos por Mary). Foi nesse contexto que, em 15 de Outubro de 2000, ao ver Scary Movie no Monumental (Lisboa), assisti a um episódio nunca igualado de histeria colectiva numa sala de cinema. A causa foi esta cena de sexo, em especial o clímax final, que estimulou fortemente o público daquela sessão. Risos, gritos, comentários em voz alta e pessoas a levantarem-se das cadeiras criaram um cenário de motim que só quem lá esteve pode compreender. Possivelmente, a força do esperma produziu desde então efeitos semelhantes de hilariedade entre outros espectadores do filme, mas o ambiente de algazarra geral no escuro do cinema é difícil de replicar.

A partir daí, as paródias cinéfilas (geralmente filmes com “movie” no título e não mais de hora e meia de duração) e o humor rasteiro banalizaram-se, o que levou à perda do efeito surpresa que existia em Outubro de 2000. Dois dos argumentistas do primeiro Scary Movie, Aaron Seltzer e Jason Friedberg, passaram à realização e criaram uma filmografia coerente (ao nível da falta de piada e inteligência), tendo actualmente mais duas obras do género spoof por estrear.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Quem tem ética passa fome


Notícias, 7 de Setembro de 1968

(Legenda de fotografia:) “Os 130 reclusos da Subdelegação da PIDE de Tete que confraternizaram numa festa que lhes foi dedicada por iniciativa daquela corporação. Na primeira fila, ao centro, o inspector Joaquim Sabino” (p. 8)

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Selena jura vingança contra ela


O Século, 21 de Abril de 1935

“Os progressos da televisão

(Legenda de fotografia:) A televisão, que ainda não há muito tinha qualquer coisa de feitiço ou de milagre, entrou na vida prática e não tarda que seja um facto tão comezinho que nem valha a pena uma referência. Eis aqui as duas primeiras locutoras desse processo de transmissão à distância, em frente do microfone, em Berlim” (p. 1)

quinta-feira, 28 de março de 2013

Quem trai o Quim, trai o João



Diário do Governo, II Série, 13 de Março de 1969

“Por despacho de S. Exa. o Secretário de Estado da Informação e Turismo de 24 de Fevereiro de 1969, foi confirmada a declaração de utilidade turística do conjunto similar hoteleiro que a Anglopor – Companhia Imobiliária Anglo-Portuguesa, SARL, levou a efeito entre as praias do Alvor e dos Três Irmãos, constituído por restaurante, snack, bar-boîte, piscina e instalações balneares, e já anteriormente concedida, a título prévio, por despacho de 23 de Fevereiro de 1968 (…).
Foram, no entanto, impostos os seguintes condicionamentos, sem cuja observância caducarão os benefícios emergentes da referida declaração:
a) Inclusão nas ementas e cartas de vinhos de pratos e vinhos típicos da região;
b) Quando houver necessidade de admitir pessoal, dar preferência aos diplomados pelas escolas hoteleiras.
Direcção-Geral do Turismo, 27 de Fevereiro de 1969. – O Director-Geral, Álvaro Roquette.”

sexta-feira, 22 de março de 2013

Deixa-me entrar dentro de ti



Diário Popular, 25 de Setembro de 1969

“Álvaro Cunhal conferenciou com Brejnev

Moscovo, 25 – O chefe do Estado Comunista russo, Leonida (sic) Brejnev, conferenciou com o secretário-geral do clandestino Partido Comunista Português, Álvaro Cunhal – anuncia a “Pravda”.
Na reunião – acrescenta a notícia – também participou Boris Ponomarev, secretário da Comissão Central do Partido Comunista Russo. – (ANI).” (p. 15)