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terça-feira, 2 de novembro de 2010

Bandidos, tremei!


A propósito de golos esquisitos e de validade duvidosa, convém recordar o acontecimento referido por Fernando Correia em Histórias Proibidas (Livros do Brasil, 2008). O lance ocorreu na final do Campeonato de Portugal de 1936/37 (embora a temporada não seja indicada por Correia, que diz apenas que Manuel Marques, ou Manecas, já se fixara na equipa principal do Sporting), disputada no campo do Arnado, em Coimbra, por Sporting e FC Porto:

” (…) O jogo decorria equilibrado e a meio do segundo tempo estava empatado 0-0. Nessa altura, o avançado Reboredo, do FC Porto, jogou a bola com a mão dentro da grande área do Sporting. Ouviu-se um apito. Os jogadores das duas equipas pararam e Jurado, defesa dos “leões”, com toda a naturalidade, agarrou na bola e colocou-a no local da infracção para marcar o respectivo livre.
Perante o espanto geral, o árbitro aproximou-se e mandou marcar uma grande penalidade contra o Sporting, porque (explicou) não tinha apitado.
Vianinha (ex-jogador do Sporting) fez o golo do triunfo portista.
Para muitos, o que se passou foi incrível… mas verdadeiro.” (pp. 116-117)

Na verdade, o resultado antes do penálti era de 2-1 a favor do FCP. Mais tarde, Pireza faria o 3-2, estabelecendo o resultado final. O lance polémico não deixou de ser abordado na crónica do desafio publicada em Os Sports de 5 de Julho de 1937:

“ (…) A bola da vitória da equipa portuense derivou, todavia, de uma decisão errónea do juiz de campo (Santos Palma).
Quando, aos trinta e um minutos da segunda parte (…) se ouviu apitar, a impressão geral do público era, de facto, de que ia assistir-se à marcação de um “livre” contra o Porto. Mas, afinal, o jogo foi reatado com um “penalty” contra o Sporting por falta de “mão”, aliás desculpável e verificada depois da do portuense, atribuída ao defesa direito lisboeta.
A saída da partida derradeira do campeonato de 1937 teve, assim, aquele “lance de lotaria” que os ingleses dizem fazer parte fatal de todas as partidas de grande importância, principalmente de final. (...)”

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