Encontrar algo útil no meio da tralha é parte essencial do trabalho de um historiador.

sábado, 27 de novembro de 2010

Fogo sobre o revisionismo


A notícia do fim do programa Contra-Informação não provoca grande choque, até porque a sua exibição na RTP era actualmente quase clandestina. 15 anos são muito tempo e os textos de José de Pina, Rui Cardoso Martins e Filipe Homem Fonseca já tinham perdido a graça e a imaginação, prejudicados pela concorrência na área do humor, como O Inimigo Público. No entanto, é impossível esquecer o impacto histórico e mediático que Contra-Informação possuiu pelo menos nos 10 primeiros anos no ar. A dessacralização dos políticos portugueses atingiu o auge através da sátira corrosiva da bonecada, composta por personagens por vezes bem mais populares e carismáticas que os modelos originais. Nenhum partido escapou às piadas do programa, embora os argumentistas se inclinem para a esquerda, tendo criticado violentamente a guerra no Iraque e a decisão sampaísta de empossar Santana Lopes (é difícil contar a história deste político sem mostrar imagens do boneco Santana Flopes). Os principais dirigentes do futebol português, que chegaram a ter um programa próprio (Bar da Liga), também foram alvos privilegiados, para descontentamento de Pinto da Costa. Prova da dimensão que o fenómeno atingiu foi a variedade de depoimentos de figuras públicas a dizer, sinceramente ou não, como gostavam do programa em que eram caricaturadas. Na hora do fim, resta a memória de “filmes”, “canções” e “anúncios” inesquecíveis e daquela que foi a melhor adaptação para televisão do espírito do cartoon político português.

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