Entre os dias 3 e 24 de Abril de 1974, foram publicados quatro números da revista semanal Desporto, depois desaparecida subitamente. Com Manuel Sérgio como director, a nova revista procurava ser um projecto inovador, ao rejeitar aqueles que considerava serem defeitos da imprensa desportiva nacional, como o sensacionalismo, o culto das vedetas e o destaque conferido apenas ao “desporto-espectáculo” (nomeadamente o futebol profissional), em prejuízo do “desporto-lazer” e do “desporto-educação”. Nas cerca de 90 páginas dos números de Desporto, uma vasta redacção procura abordar a actualidade das 44 modalidades então praticadas em Portugal. Em cada edição, uma reportagem de Inácio Teigão faz o balanço da situação de uma modalidade no país (ciclismo, atletismo, hipismo e natação foram os temas analisados pelo jornalista). Artigos teóricos de autores nacionais (em especial Manuel Sérgio, já uma autoridade no pensamento sobre o desporto) e estrangeiros podem também ser encontrados nas páginas a preto e branco do periódico, que conta com fotógrafos como António Capela.
Apesar da censura, os textos da revista dão a entender um profundo descontentamento com a situação do desporto no Portugal de Marcelo Caetano, quanto mais não seja pelo número muito reduzido de praticantes e infra-estruturas adequadas. As modalidades mias mediáticas e profissionalizadas, o futebol e o ciclismo, apresentavam também múltiplos problemas, servindo apenas como entretenimento alienante. Alargar a prática desportiva entre as mulheres é também uma preocupação da publicação, inovadora na sua área ao possuir redactoras como Cândida Vieira e entrevistas a desportistas de relevo (o ainda incipiente futebol feminino não é referido em Desporto).
Além dos acontecimentos do dia que se seguiu à publicação do último número da revista (nas bancas às quartas), as dificuldades comerciais e financeiras em manter um projecto deste tipo, sem grandes apoios publicitários, terão concorrido para o final de uma iniciativa muito interessante. Durante o período revolucionário, Manuel Sérgio e outros membros da redacção de Desporto, como Duarte Pimentel, iriam passar à prática, empenhando-se a fundo na criação de um “desporto novo num país novo”, envolvido no contexto político e ideológico da época.
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