Num texto no Jornal de Notícias, Mário Contumélias critica o programa da RTP Herman 2010, que considera seco e desinteressante. Como é habitual em críticas negativas sobre o trabalho do “verdadeiro artista”, o autor começa por lembrar o passado brilhante e acutilante de Herman José e chega à parte em que, algures após Herman Enciclopédia, o humorista enveredou por maus caminhos e nunca mais foi o mesmo, entorpecido pelas delícias da vida burguesa. Na verdade, acho que Herman 2010 é, em muito tempo, o programa no qual o artista de variedades se sente mais à vontade e um talk-show de bom gosto eficazmente conduzido. Claro que não é perfeito. Em particular, as piadas da introdução raramente resultam, embora Herman dê um ar da sua graça ao cantar, imitar e lançar expressões como “Tá tudo?” e “Tenksl diga”. Quanto aos convidados, é verdade que o programa podia ser gravado em casa de Herman (talvez com mais espaço que o estúdio), o qual convoca para os sofás sobretudo elementos do seu bando (Ana Bola, Maria Rueff, Cândido Mota, Lídia Franco, Joaquim Monchique, José Pedro Gomes, etc.) e amigos ou pessoas que admira, mas, para além de outros talk-shows seguirem uma orientação semelhante, a familiaridade entre anfitrião e entrevistados contribui para que a conversa flua melhor e se relembrem episódios curiosos. As imagens de arquivo são utilizadas na proporção certa, evitando preencher demasiado tempo com nostalgia. O agrado provocado pelos sketches que Herman efectua juntamente com Manuel Marques varia conforme o dia ou o espectador, sem que deixem de incluir um toque pessoal e a habitual capacidade satírica. Por fim, os números musicais revelam bom gosto e a classe da banda de Pedro Duarte. Trata-se, basicamente, da fórmula de Herman SIC depurada em tempo de ecrã e orçamento, além de limada da atracção pelo pimba e pelo sensacionalismo. Ou seja, a prova de que Herman é único e ainda tem muito para dar à televisão, sem perder a espontaneidade.
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