Encontrar algo útil no meio da tralha é parte essencial do trabalho de um historiador.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

A minha vida só está completa enquanto houver televisão


No número de Setembro de 1985 da revista Foot, o “convidado do mês” é o futebolista búlgaro Vanio Kostov, ex-jogador do Sporting agora no Belenenses. Respondendo às perguntas de leitores da publicação, Kostov começa por abordar o problema da violência no futebol: “Julgo que isto é um bocado consequência da liberdade a mais em que as pessoas vivem, pois nos regimes férreos, como no Leste, tal não se passa. Recentemente, houve problemas na final da Taça da Bulgária, que estiveram na origem da dissolução de dois clubes, mas tudo se passou apenas entre os jogadores e o árbitro, pois com os espectadores não havia hipóteses de se passar alguma coisa. Mesmo assim o mal foi cortado logo pela raiz.” Depois de assinalar as virtudes do socialismo científico, o atleta ouve a questão “A SIDA também o preocupa?” (enviada por Anabela Vasconcelos, de S. João do Estoril). Kostov responde: “Não me preocupa pessoalmente, pois não poderei apanhá-la, mas preocupa-me porque é uma doença muito perigosa e que poderá causar sérios problemas à Humanidade. O que me aflige mais e não consigo perceber é o facto de ainda não se vislumbrar qualquer hipótese de cura.” Acreditaria Kostov que, por não ser homossexual, possuía imunidade à nova doença? Curiosamente, a mesma edição da Foot inclui uma fotografia de Kostov e dois outros jogadores belenenses rodeados de belas mulheres. Na entrevista, o futebolista búlgaro afirma não ponderar para já a hipótese de se casar, enquanto aguarda a dissolução do matrimónio através do qual o Sporting lhe assegurou a nacionalidade portuguesa (as limitações à utilização de jogadores estrangeiros só desapareceriam em 1996, depois da “lei Bosman”). Na verdade, foi no ano de 1985 que nasceu a sua filha Sara Kostov, futura actriz/modelo.

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